O depoimento de Cachoeira à CPI foi para o próprio uma
vitória de Pirro, ou uma vitória que haverá de trazer-lhe grandes prejuízos em
espaço mais longo de tempo.
Isso porque em obediência a preceitos táticos que
lhe recomendavam ficar calado durante o depoimento da CPI em que é o principal
personagem, Cachoeira confrontou os poderes da República com seu ar de insolência,
o que deverá tonar-lhe o peso das provas documentais ainda mais adverso na
medida em que prospere a análise de documentos amealhados pela comissão.
O primeiro sintoma dessa má vontade produzida no Judiciário
foi a recusa do pedido formulado pela defesa para que o indiciado respondesse
em liberdade ao processo que corre na justiça. Por melhor que sejam os advogados
que fazem sua defesa, Cachoeira, ao seguir as recomendações prudentes porém
afrontosas dos defensores, passou para a opinião pública uma imagem de quem não
deve satisfações a ninguém pelos crime que lhe são imputados.
Em casos como o dele, em que os processos são midiatizados
ao extremo, como foi o de Al Capone nos Estados Unidos dos anos 20 do século passado, a percepção
que possa ter o homem comum sobre o grau de culpabilidade do acusado é
fundamental para que as provas produzam um efeito menos nefasto contra si.
Não passou despercebido a ninguém o sorriso malicioso
esboçado por Cachoeira ao ser indagado por um inquiridor de partido de oposição
sobre sua participação societária na construtota Delta, empresa que está no epicentro do escândalo . A expressão facial do
contraventor foi no mínimo confissão de seu forte poderio econômico para coagir
testemunhas e interferir nas investigações sobre o caso.
Cachoeira está tendo o azar, e seus sapientes advogados
parecem não ter se dado conta disso, que sua persecução se dá num contexto absolutamente
novo no País de repúdio à corrupção. E que o fato de ter a defendê-lo um
ex-ministro de Estado mais o prejudica do que o ajuda, porque mostra como o
criminoso pode com facilidade mobilizar quadros qualificados que serviram a República.
De tudo posto, ficou flagrante para a sociedade que Carlos
Cachoeira possui poderosa rede de contatos no aparato estatal e muito dinheiro
depositado fora do País, o que lhe permitiria o pagamento de 15 milhões de
reais aos que o defendem. Nenhuma das impressões corrobora a expectativa de que
o meliante deva ser solto ou que seu último dólar em contas do exterior não
deva ser localizado e repatriado.
O que salta aos olhos de todos não beneficia o acusado.
Em tempos de plenitude democrática para
onde se inclinar a opinião pública haverá também de inclinar-se o veredicto judicial, e desse
ponto de vista Carlos Cachoeira e seu suposto genial advogado sairam-se muito
mal.
A defesa de Carlos Cachoeira por alguém do calibre de ex-ministro da Justiça, no caso Márcio Thomaz Bastos, nada mais é que o reflexo da própria sociedade brasileira hoje. É lamentável? É. Mas é a verdade.
ResponderExcluirMuito lúcidas as considerações! Parabéns pelo texto e pelo blog! :)
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