sábado, 18 de julho de 2015

POR UM FIO

As contradições internas da política brasileira fizeram-me parar de escrever. Escrevo solitária e isoladamente quando penso que algo mereça ser refletido. Infelizmente agora não se trata disso. Algo muito pior. A chegada da temida crise institucional, se não ela mesma ao menos algo muito próximo disso.
Os governadores do nordeste politicamente se levantaram, cindindo até o momento o País em dois (gosto de escrever país com P maiúsculo, um pequeno gesto de patriotismo). Antes a cisão era eleitoral, com os eleitores divididos quase que por igual entre nordestinos e os demais. Pois bem, se a Federação está dividida que dirá então o aparato de Estado. Não precisa ir longe: o presidente de câmara acusa abertamente o Promotor Geral de chantagista. Nixon nos velhos tempos do Watergate ficaria com inveja de tamanho desassombro.
As articulações acontecem à luz do dia, com (novamente) o presidente da Câmara procurando o vice-presidente da Justiça eleitoral para ver qual a melhor forma de fisgar o peixe, vale dizer o mandato de Dilma. O presidente do Senado emite nota (vejam bem, nota) criticando uma das instâncias do Executivo, a Polícia Federal, opondo-a à polícia (com p minúsculo) do Senado. Ao mesmo tempo em que se insurge contra o Judiciário porque, ao final, foi este quem autorizou a ação policial.

Mas a percepção geral está um passo atrás da realidade. A própria mídia ainda não interpretou a natureza do novo momento e, perplexa, encadeia publicosamente (o neologismo é meu) um fato ao outro sem parar.
Há acontecimentos secundários, é verdade, mas estes apenas são bactérias factuais em proliferação.
Com o País dividido político e eleitoralmente não demorará muito para as ruas irem à porrada. E daí o imponderável. De tudo que li até agora sobre as crises que marcaram os anos 50 e 60 e a experiência vivida da década de 80 do século passado, nada se aproxima mais de uma situação de ruptura do processo democrático. A rede diplomática estendida sobre a atual situação internacional é o principal elemento que faz o quadro distanciar-se daquele do tempo mencionado.

Se não quisermos brincar de Ucrânia ou pior, de Bósnia, melhor é começar por entender que o momento é de pensar nos possíveis desdobramentos do impasse aberto.
As massas irão para a briga, secundadas pelas forças de apartação (o exército), à partir do momento que a política falhar. Há quem ache que os militares são desejáveis mas o exemplo de aprimoramento das instituições alcançado pelas Nações europeias, mostram o contrário.