quarta-feira, 16 de maio de 2012

A imoralidade mora ao lado



Quando se pensava que esse negócio de nepotismo havia deixado de existir nos altos escalões da República, eis que surge a revelação de que o Procurador Geral tem sob seu comando sua própria mulher. Fazendo o que? “Investigando” as mais altas autoridades do País.

O episódio dá a exata medida do quanto somos sub-desenvolvidos em termos de instituições e de moralidade pública. Exatamente no órgão responsável pela formalização de denúncias de crimes contra os mai altos dignatários era mantido, em aconchego confidente, um casal que saia do quarto diretamente para a repartição pública em que dava expediente.

Mas a grande questão não está apenas neste fato, imoral à evidência. Está no silêncio sepulcral que mantiveram durante todo o tempo os demais poderes com relação a essa excrescência, senão legal ao menos ética.

Foi preciso um escândalo do tamanho do que envolveu um senador da República, tido como o farol da moralidade pública, e um governador que ousou colocar em dúvida a honestidade do mais popular presidente da história do País, para que a nação soubesse que o Procurador Geral dorme com uma funcionária, ou melhor, que a pessoa com quem ele dorme é responsável pelo trabalho mais sensível sob sua incumbência.

Não se diga que a mulher já estava lá antes que os pombinhos se conhecessem na repartição. A imoralidade e a transgressão ética contam a partir do momento em que o marido foi empossado num dos mais altos cargos da República e manteve a mulher trabalhando junto a si, com responsabilidades tão sensíveis, sem se importar com a impropriedade da circunstância.

Algo permitiu que o Procurador se dispusesse a tamanha soberba. A revelação deu-se outro dia, quando o digníssimo ameaçou o Partido dos Trabalhadores com uma denúncia arrasa-quarteirão tendente a prejudicar a agremiação nas próximas eleições municipais. No que foi secundado por um dos juízes da mais alta corte do País, frequentemente mencionado como alguém que mantem ligações com um dos principais personagens da CPI que se desenrola no Congresso, o senador Demóstenes Torres.

Se o Procurador tem poderes para intimidar partidos políticos, não os tem ,entretanto, para intimidar a cidadania. A relação conjugal que mantêm o Procurador e sua esposa é imoral e o descredencia para o exercício de suas funções. Já não se trata de saber se ele mandou ou não sua esposa levar para o armário de casa o processo da Polícia Federal que envolve o senador a soldo do crime organizado.

Interessa agora que o Procurador, num ato de contrição pública e de reconhecimento de seu desvio de conduta, afaste de imediato no ambiente de trabalho aquela com quem vai todos os dias para o quarto.

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