Quando se pensava que esse negócio de nepotismo havia
deixado de existir nos altos escalões da República, eis que surge a revelação
de que o Procurador Geral tem sob seu comando sua própria mulher. Fazendo
o que? “Investigando” as mais altas autoridades do País.
O episódio dá a exata medida do quanto somos sub-desenvolvidos em
termos de instituições e de moralidade pública. Exatamente no órgão responsável
pela formalização de denúncias de crimes contra os mai altos dignatários era mantido, em aconchego confidente, um
casal que saia do quarto diretamente para a repartição pública em que dava
expediente.
Mas a grande questão não está apenas neste fato, imoral à
evidência. Está no silêncio sepulcral que mantiveram durante todo o tempo os demais poderes com
relação a essa excrescência, senão legal ao menos ética.
Foi preciso um escândalo do tamanho do que envolveu um
senador da República, tido como o farol da moralidade pública, e um governador que
ousou colocar em dúvida a honestidade do mais popular presidente da
história do País, para que a nação soubesse que o Procurador Geral dorme com
uma funcionária, ou melhor, que a pessoa com quem ele dorme é responsável pelo
trabalho mais sensível sob sua incumbência.
Não se diga que a mulher já estava lá antes que os
pombinhos se conhecessem na repartição. A imoralidade e a transgressão ética
contam a partir do momento em que o marido foi empossado num dos mais altos
cargos da República e manteve a mulher trabalhando junto a si, com
responsabilidades tão sensíveis, sem se importar com a impropriedade da circunstância.
Algo permitiu que o Procurador se dispusesse a tamanha
soberba. A revelação deu-se outro dia, quando o digníssimo ameaçou o Partido dos
Trabalhadores com uma denúncia arrasa-quarteirão tendente a prejudicar a agremiação nas próximas eleições municipais. No que foi secundado por um dos
juízes da mais alta corte do País, frequentemente mencionado como alguém que mantem ligações
com um dos principais personagens da CPI que se desenrola no Congresso, o
senador Demóstenes Torres.
Se o Procurador tem poderes para intimidar partidos
políticos, não os tem ,entretanto, para intimidar a cidadania. A relação
conjugal que mantêm o Procurador e sua esposa é imoral e o descredencia para o
exercício de suas funções. Já não se trata de saber se ele mandou ou não sua
esposa levar para o armário de casa o processo da Polícia Federal que envolve
o senador a soldo do crime organizado.
Interessa agora que o Procurador, num ato de contrição
pública e de reconhecimento de seu desvio de conduta, afaste de imediato no
ambiente de trabalho aquela com quem vai todos os dias para o quarto.
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