Em pronunciamento no evento que selou o apoio do DEM ao PSDB
em São Paulo, o candidato José Serra demonstrou preocupações com relação à
unidade da aliança que acabava de ser firmada. Disse que, a despeito de
divergências, todos deveriam agir doravante como se amiguinhos de infância
fossem.
A justificativa para a pregação foi ainda mais reveladora
dos temores que assombram o candidato. Disse que os adversários (entenda-se
Fernando Haddad, do PT) virão com programas consistentes e ( deixou no ar)
forte coesão.
As rugas que perpassam a aliança de alto a baixo foram
assunto de matéria bastante elucidativa do jornal Valor Econômico. Por ela
fica-se sabendo que Kassab enxotou da prefeitura seu homem forte Alexandre de
Moraes, ex-tucano e secretário de Serra.
Uma ferida mais importante ainda, porém, a reportagem deixa
de registrar. Aquela que afasta o secretário estadual José Aníbal do candidato,
depois de atropelado pelas conveniências políticas de Serra.
É essa desavença que tem maior potencial de paralisar o
partido onde ele mais precisa recolher votos, nas zonas sul e leste da cidade,
tradicionalmente atendidas pelo que restou do covismo dentro do PSDB.
Segue em inteiro teor a matéria publicada pelo diário de
economia e negócios do dia 17/05/2010.
DEM formaliza apoio a Serra e cobra
acordo em seis capitais
Por Cristiane Agostine
SÃO PAULO - O DEM formalizou nesta quinta-feira apoio à
pré-candidatura de José Serra (PSDB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo e
cobrou acordo com os tucanos em outras seis capitais. Serra já tem como aliados
PSD e PV e com a nova adesão ganhará, pelo menos, mais um minuto e quarenta
segundos no horário eleitoral gratuito.
Ao participar do evento para
formalizar o apoio, em um clube na capital paulista, o presidente nacional do
DEM, senador Agripino Maia (RN), disse que o acordo em São Paulo é a “primeira
de uma série” de alianças que os dois partidos têm de fazer “em nome da
coerência”. “Estamos lançando em São Paulo a primeira [aliança], um ícone, um
símbolo, que precisa se repetir. Onde o PSDB for mais forte, como em São Paulo,
o DEM vai apoiar. Onde o DEM for mais forte, espera o apoio do PSDB”, disse
Maia.
Em seguida, o dirigente afirmou que o
acordo tem de acontecer em Curitiba (PR), Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza
(CE), Belo Horizonte (MG) e Goiânia (GO). “Não há por que PSDB disputar com o
DEM [nessas cidades]. Os dois têm que estar juntos para que vença a oposição no
Brasil”, afirmou o senador.
Presente no evento, o governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse que os dois partidos “têm tradição” de
estarem juntos nas eleições. Alckmin disse que a cobrança de Agripino “é
natural” e ressaltou que mais uma aliança entre as legendas será firmada
amanhã, em Salvador. Nesta sexta-feira, o PSDB retirará a pré-candidatura do
deputadofederal Antonio Imbassahy e anunciará apoio à pré-candidatura do
deputado federal ACM Neto na capital baiana.
Lideranças do PSDB e do DEM
procuraram minimizar as divergências dentro da base de apoio a Serra e pregaram
a união.
O presidente nacional do DEM procurou
minimizar o mal-estar com o PSD, que compõe a aliança da pré-candidatura
tucana. “É verdade que existiram resistências”, disse Maia. “Trabalhamos para
vencê-las”, afirmou. O DEM não queria aliar-se ao PSD e lançou a
pré-candidatura do secretário estadual Rodrigo Garcia, retirada oficialmente
nesta quinta.
Ao criar o PSD, o prefeito de São
Paulo, Gilberto Kassab, esvaziou o DEM, fez com que a legenda perdesse parte de
sua bancada na Câmara, o comando da capital paulista e do governo de
Florianópolis, antes nas mãos da sigla. Kassab não participou do evento, mas o
vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, representou o PSD no
encontro.
Outra divergência entre o DEM e PSD
foi protagonizada pelo presidente municipal do DEM, Alexandre de Moraes e
Kassab. Moraes foi uma espécie de supresecretário do governo municipal e saiu
da gestão de forma tumultuada, demitido por Kassab.
Além disso, houve problemas entre
Alckmin e Kassab, que em 2008 foram adversários na disputa pela Prefeitura de
São Paulo. O prefeito, então filiado ao DEM, obteve apoio de parte do PSDB,
apesar da candidatura Alckmin. Na disputa, os dois políticos trocaram acusações
e ficou um mal-estar pós-eleição.
Serra evitou falar das divergências
entre as legendas e defendeu a unidade. “Nós temos que somar nessa campanha.
Quem está junto nessa campanha agora é amigo desde criancinha, porque os
adversários vão vir com programas consistentes”, declarou o tucano. “A palavra
de ordem é somar. Vamos fazer a campanha juntos, vencer juntos e governar
juntos”.
Tanto Serra quanto Agripino fizeram
diversos elogios a Alckmin durante o evento. O presidente nacional do DEM disse
que o “avalista maior” da união com o PSDB é Alckmin. “Estivemos juntos no
passado, vamos estar juntos em 2012 e com certeza estaremos juntos em 2014”,
afirmou Maia. Já o pré-candidato tucano destacou ações de Alckmin. Em seu
discurso, o governador também elogiou Serra, na tentativa de minimizar
divergências das eleições de 2006 e 2008. “Vamos à luta, companheiro”, disse
Alckmin.
Serra evitou falar sobre quem será
seu vice. “Só na segunda quinzena de junho”, respondeu quando questionado. “Não
vou especular”.
(Cristiane Agostine/ Valor)
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