domingo, 27 de maio de 2012

O Corvo Gilmar




O caso da “denúncia” feita pelo ministro do Supremo Federal Gilmar Mendes de que teria sido pressionado por Lula a abrandar veredictos no julgamento do escândalo armado pelo criminoso Carlinhos Cachoeira, é prova da falta que faz ao País uma oposição digna do nome.

Tivéssemos partidos oposicionistas que promovessem o contraditório democrático, não seria preciso recorrer a manobras midiáticas mediante o uso de instituições do Estado brasileiro.
Como último ministro da era Fernando Henrique Cardoso na suprema corte do País, Gilmar Mendes tem sido convocado com espantosa frequência por líderes políticos da oposição para ações de enfrentamento com o Governo Federal.

Não vai longe quando o candidato Serra foi pilhado pela imprensa acionando o juiz quando este dirigia o Tribunal Superior Eleitoral para que fosse dificultado o voto dos mais pobres nas eleições presidenciais passadas. Tampouco se apagou das memórias o jogo combinado que protagonizou o suspeitoso ministro com o ainda senador da República e integrante do bando de Cachoeira, Demóstenes Torres, para que que o então presidente Lula da Silva parecesse estimular escutas clandestinas da cúpula do Judiciário.

O estratagema de envolver uma Instituição de Estado com disputas político-eleitorais tem paralelo em outros países da América latina com a finalidade última de promover, de início, o tensionamento das relações entre os poderes nacionais para depois, no ápice do impasse, convocar as forças armadas para dirimir, sabe-se bem em favor de quem, o conflito provocado.

Aqui não se chegou a tanto, porque a renovação da cúpula do Judiciário e sua recusa em participar do embate que deve ter lugar no parlamento, impediu que a Instituição se desviasse de seu papel constitucional de interpretar a o produto da atividade legislativa.

Mas a falta de compromisso de parcela preponderante da oposição brasileira com o regime democrático, notadamente do partido do Democratas – nome farsesco, dado o apoio de seus lideres ao golpe  militar de 1964 – concorre para que judicialize o processo legislativo, as disputas políticas e a prática administrativa ao carrear para a esfera do Judiciário toda a matéria de interesse da sociedade cujo encaminhamento não consegue influir por meio do voto no parlamento ou pela influência no executivo.  

Com a perspectiva de derrocada definitiva do partido com a cassação iminente de um de seus 4 senadore,s após o esvaziamento que sofreu com a defecção de parlamentares promovida pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, o DEM, como é chamado, faz um gesto desesperado para salvar a si e a aliados do desastre eleitoral que se avizinha nas eleições municipais, apostando todas as fichas na reverberação do factoide criado em torno de Lula da Silva para dar visibilidade ao julgamento do que ficou conhecido como mensalão.

Contaram para a iniciativa o envolvimento de Veja nos crimes praticados pela quadrilha do criminoso Carlinhos Cachoeira e a denúncia-crime contra o governador Marconi Perillo do aliado PSDB.

Mas a polarização artificial criada e o prestígio popular do ex-presidente acusado sem provas pelo magistrado, numa situação em que aos poderes da República já se deram os meios de um  funcionamento harmônico e auto-regulado, deverão produzir  efeito contrário ao esperado pelos seus articuladores.

Ambos, julgamento e investigação, ganharão condução regular e de tal sorte independentes que não restará ao juiz e à revista que divulgou a denúncia responderem pela associação com o criminoso Cachoeira.


2 comentários:

  1. Duvido que isso aconteça, meu nobre amigo. Mas seria extraordinário tal saneamento além de inaudito. Oxalá voce tenha razão. Vamos esperar para observar o que irá acontecer.

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  2. Uma outra linha de pensamento que tentei passar.

    Plagiando o PIG: O outro lado da notícia

    http://marlyrosa13.blogspot.com.br/2012/05/o-outro-lado-de-uma-noticia.html

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