quarta-feira, 5 de outubro de 2011

No Pelotão de Frente






Insiste em não funcionar a bola de cristal dos analistas mais críticos com relação ao desempenho da economia brasileira. Como tem sido possível acompanhar pelos telejornais, as últimas semanas foram pródigas em análises que davam como certa a derrocada do saldo de comércio dos produtos industrializados na pauta de exportações do país.

Afinal, para soar coerente, a afirmação da existência de um processo de desindustrialização no Brasil,  que faria a economia retroceder à sua fase agrária-exportatora, não poderia dispensar a confirmação da tese de um desempenho pífio da exportação de industrializados.

Ocorre que os números agora divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior mostram exatamente o contrário. Entre janeiro e setembro o Brasil exportou 13% a mais de bens industrializados que um ano antes, ao mesmo tempo em que manteve o crescimento no valor das exportações de matérias primas . O resultado global, entre manufaturados e semi-manufaturados no mesmo período, foi o maior dos último 4 anos e surpreendeu analistas do comércio e da indústria com cifras que beiram os 20%. Já os números totais da exportação foram mesmo de assustar: 85% maiores em setembro último que em setembro de 2010, incluindo aí industrializados (manufaturados e semi) bem como os básicos (minérios e agrícolas).

Mas o que isso significa para os processos em curso na economia e para as  tendências do próximo período? Basicamente que a melhora das condições de comércio internacional viabilizadas pela inflexão de câmbio, agora mais valorizado, deverão estar assentadas sobre uma paridade cambial (considerada uma cesta referencial de moedas) não tão desfavorável como foi pensado de início, já que a contribuição do dólar mais valorizado nos últimos 15 dias não explicaria por si só o boom que os números divulgados evidenciam.

Fica patente também que todo blá-blá-blá sobre a desvalorização das comodities agrominerias em contrapartida à recidiva da crise internacional que atinge Estados Unidos e Europa era ao apenas o que era: puro blá-blá-blá. O dinamismo das economias em desenvolvimento tem se revelado forte o bastante para compensar via preços uma quantidade mais modesta da exportação de matérias primas, 4% maior no acumulado do semestre em relação a igual período do ano, mas que tiveram os preços puxados para cima coisa  entre 20 e 60% a depender da comódite. Algo digno de nota pelo que traz de revelador sobre a exacerbação da demanda por alimentos e matérias primas presente no mundo em desenvolvimento, China e Índia à frente.

Com isso ficam mais afastadas as hipótese de contaminaçnao da economia brasileira pelo lado das contas externas (relações com outros países) já que não só as contas de comércio mostram-se exuberantes como a conta de capital não pára de mostrar resultados superavitários por causa do ingresso continuado de cpitais buscando tirar proveito da excelente fase das condições econômicas do País frente o mundo.

Se está afastado o risco de contaminação  por via da situação internacional e as relações de comércio seguem bem então podemos contar ainda com um bom nível de importações que nos permita frear o impulso dos preços internos para continuar baixando a taxa de juros, ao mesmo tempo em que se põe um toriniquete nos gastos públicos a fim de tornar essa redução verdadeiramente exequível.

Não há, pois, porquê temermos a tormenta. Tudo indica que a economia brasileira sofreu uma transformação estrutural na sua forma de operar internamente e em relação com o mundo. Nenhum desajuste de monta parece obstar nesse mar tormentoso a chegada do País à condição de 7ª potência do mundo.

Segue artigo do Valor Econômico em que se fundamenta o comentário acima.


Preço de insumos e venda de manufaturados elevam saldo
Por Sérgio Leo da Valor Econômico, edição de 04/10/2011

O grande aumento nos preços das commodities, somado a um surpreendente desempenho na venda de produtos industrializados, como semimanufaturados de ferro e aço, ferro-gusa e motores de veículos, garantiu ao Brasil resultado surpreendente no comércio exterior nos primeiros nove meses do ano: com exportações e importações recordes para o mês de setembro, o país obteve saldo positivo de US$ 27 bilhões na balança comercial de janeiro a setembro. Só no mês passado, o superávit chegou a US$ 3 bilhões, 85% acima do resultado de setembro de 2010.
"Se estivéssemos concentrados apenas no mercado europeu e no americano, estaríamos sentindo a turbulência e o arrefecimento do crescimento", reconheceu o secretário-executivo-adjunto do Ministério do Desenvolvimento, Ricardo Shaefer. Em setembro, um dos destaques da exportação foram as vendas de óleo de soja em bruto, que aumentaram 155%, especialmente para China, Índia e Irã.

Segundo o ministério, o aumento nas exportações de minério de ferro, petróleo, soja em grão, café em grão e carne de frango - que representam mais de um terço das vendas brasileiras ao exterior - se explica principalmente pelos altos preços, entre 20% a 61% acima dos patamares verificados nos nove primeiros meses do ano passado.

O maior aumento nas quantidades exportadas foi de apenas 6% para o minério de ferro e 4% para o café em grão. O volume de petróleo exportado até caiu, 1%, o que foi compensado com o aumento de 40% nos preços.

"Tivemos um bom resultado na balança comercial de setembro", avaliou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior Brasileiro (AEB), José Augusto de Castro. "Mas é claro que, em 2012, o cenário vai mudar completamente, com queda nas importações e exportações."

As vendas de produtos manufaturados, sensíveis à desaceleração econômica, subiram 12,3%. Somadas a elas as vendas dos semimanufaturados (produtos usados no processo industrial), que cresceram 40% em setembro, o aumento nas exportações de produtos industrializados chegou a 19,6%, pouco acima da média do crescimento no comércio mundial previsto para este ano pelo FMI.

"As exportações de produtos industrializados cresceram 22,6% até setembro, um aumento expressivo comparado ao crescimento do comércio mundial previsto pelo FMI", comparou a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres.

Ela enfatizou que o saldo comercial, de US$ 23 bilhões nos primeiros nove meses do ano, é o maior dos últimos quatro anos. Segundo Tatiana, só no começo do próximo ano deverá fazer efeito a variação do dólar, que, ainda instável, impede qualquer previsão. As importações, em setembro, aumentaram apenas 13,8%, mas ficaram acima de US$ 1 bilhão diário, o que reflete a comparação com as médias de importação muito altas de setembro do ano passado.

Um desempenho que chamou a atenção do governo foi a queda, pela primeira vez em muitos meses, das importações de máquinas e equipamentos para a indústria, os bens de capital. O governo rejeita, porém, a interpretação de que esse resultado reflita uma desaceleração dos investimentos.

A queda se deve, segundo o Ministério do Desenvolvimento, à comparação com setembro de 2010, quando um número reduzido de empresas fez compras "muito expressivas" no exterior de equipamentos siderúrgicos e de energia elétrica. "Se descontarmos as operações atípicas de setembro do ano passado, as importações de bens de capital teriam crescido 8,5%, dentro da média", disse Tatiana.

Para Shaeffer, a queda nas vendas de automóveis, de 13% em setembro, comparadas aos resultados de setembro de 2010, devem se explicar pela preferência pelo mercado interno, que fez aumentar em 40% as importações de veículos no mês. "É cedo para chegar a qualquer conclusão em relação às exportações de manufaturados", disse. "O que se verifica é que é as exportações brasileiras não estão sofrendo impacto da retração nos mercados", disse.

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