terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Comédia Stand-up Nazi


A cultura da instantaneidade estabeleceu como valor não ter papas na língua. É bacana, ousado e demonstração de inteligência. Entregam-se a ela um grupo significativo de quase garotos, gente que saiu a pouco da casa dos pais e que granjeia fortuna e notoriedade no que se chama agora “stand-up comedy” ou a comédia que se faz de pé, de improviso, às pressas, nas coxas por assim dizer.
Então nada melhor do que considerar algo do repertório de que se utiliza esse tipo de espetáculo para entender um pouco do que vai pelo psiquismo das classes médias brasileiras, em particular de seu segmento mais jovem, em geral constituído por gente criada e educada nos bairros mais nobres das grandes cidades do centro-sul do País.
E o que de imediato se destaca é o desapreço que compartilham pelo que não se encaixa nos estereótipos e convenções sobre padrões e costumes veiculados por uma espécie de ditadura do deboche em que a vítima é naturalmente  quem vem de fora ou quem, pertencente a grupo social distinto, não seja identificado com a moda presente.
Vai longe o tempo em que se satirizavam personagens públicos ou indivíduos de perfis cômicos que circulavam pelas ruas e que poderíamos reconhecer na diversidade divertida da urbis, com fizeram um dia os grandes comediantes brasileiros. De outro modo, ridicularizam-se agora grupos sociais inteiros, seus costumes e os hábitos de conduta de minorias que buscam afirmação nos ambientes dominados pelo pensamento de elite.
É como se o preconceito com que cresceram esses rapazes e moças fosse transposto, por força de um sentimento de plenipotência juvenil, para além dos domínios do condomínio em que a vítima era a empregada e o faxineiro e ganhasse agora o bairro inteiro, tendo por alvo todos que andam pelas ruas onde reinam impunes os filhinhos de papai.
Atitude que conta com a complacência de muitos, até não tão jovens, por tornar possível que não seja mais necessário apontar o dedo ao outro e chamá-lo de preto ou de bicha para dar vazão ao preconceito trazido consigo, bastando agora apenas imputar-lhe o riso e o escárnio  para obrigá-lo ao recolhimento e à vergonha de existir.
Evidente o sentido político de tudo isso. São atos que sancionam ou reprimem a circulação de valores e modos de conduta particulares, em favor do reforço daquilo que já está estabelecido e que atende às conveniências da hegemonia de grupos e classes sociais.
E quem movido por sentimento democrático se lhes opõe qualquer restrição é taxado de politicamente correto ou babaca. Tudo para que a vida siga o curso como sempre tem sido, com alguém exposto ao pelourinho da execração pública.
O resultado é que vez ou outra esses novos senhores do mundo, que se riem às bagas do “ridículo” alheio, cruzam na impaciência da sua intolerância os faróis a 150 km por hora ou espancam aqueles outros que vão pelo seu caminho lentos e refratários demais à uniformização que pretendem impor a condutas e valores alheios.
       

7 comentários:

  1. Ai ai, a globalização do humor... é mole?

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  2. Isso é verdade. Fiz uma análise sobre o cqc e veio um da comu do rafinha dizer isso, que sou politicamente chato.

    Abs do Lúcio JR

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  3. Ainda hoje eu publiquei um texto no meu blog falando justamente isso (entre outras coisas). O clichê "politicamente correto" virou ofensa. Ser educado, respeitar a diversidade e proteger o meio ambiente tornaram-se características de uma pessoa chata. Eco-chatos, falsos moralistas e por aí vai. Quem discursa a favor das minorias oprimidas virou motivo de chacota. Que coisa.

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  4. "E quem movido por sentimento democrático se lhes opõe qualquer restrição é taxado de politicamente correto ou babaca."



    É exatamente como eu penso. A maioria ainda não sabe a diferença entre liberdade de expressão e ofender em público achando que não tem consequências.

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  5. ...´´E quem movido por sentimento democrático se lhes opõe qualquer restrição´´... é taxado também de ...rebelde, do contra,aquele que atrapalha, que não está colaborando com as conveniências do grupo,classes sociais e até de uma família as vezes...

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  6. Quando ele brincou com judeus e a sra. Rede TV teve que pedir desculpas. Ricos e poderosos não pode. Um grande bobalhão.

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  7. O comentário do Luis aí é bem preconceituoso, também: iguala judeus a ricos e poderosos. Dirceu, Lula, Dilma e Palocci não são judeus e são ricos e poderosos, enquanto nem todo judeu é rico. Vejam as vítimas do atentado à Amia de Buenos Aires, em 1994, ou a maioria das vítimas do nazismo. O argumento nazista era o mesmo do leitor. Os petralhas fazem o mesmo em relação a "brancos de olhos azuis", americanos e europeus. Também discriminam Gisele Bündchen, sendo esta rica (por mérito, não por mensalões nem "consultorias/palestras" tráfico de influência e similares) mas não poderosa. Aliás 'poderosa' na beleza, o que também causa inveja nos preconceituosos.

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