quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Estória de amor que não deu certo




As vozes mais categorizadas do empresariado e de seus veículos de comunicação, como o jornal Valor Econômico, preocupam-se crescentemente com a crise vivenciada pelo PSDB que a cada dia ganha novos contornos, na medida em que se aprofundam as dissenções envolvendo os dois principais grupos do partido: o do governador Alckmin e o do ex-governador Serra. Uma estória que em muitos aspectos lembra o processo de desagregação que levou, nos início dos anos 90, ao afastamento dos também governador e ex-governador Luiz Antonio Fleury e Orestes Quércia.

Também ali havia naufragado o projeto presidencialista do governador que saira do poder, Quércia, e a sobrevivência política do derrotado dependia da preservação de espaços políticos na máquina estadual pelo seu grupo. Quércia julgava-se responsável pela condução de seu sucessor ao poder, ao passo que este buscava alinhamentos próprios num PMDB já dividido nacionalmente entre Ulissistas e Quercistas.

As semelhancas param aí, porque por àquela época o PT era apenas um arremedo de partido e o PSDB, mal surgido das costelas do PMDB, ainda buscava ganhar musculatura para 4 anos depois eleger com FHC o presidente da República. Daí o declínio de ambos, Quércia e Fleury, criador e criatura, que passaram a amargar o ostracismo de quase duas décadas até quando, por temor a um inimigo comum, o PT, pai e filho - PMDM e PSDB - se se reconciliariam a fim de tentar eleger Serra e Kassab, respectivamente presidente e prefeito, sob os auspícios dos tucanos e outrora quercistasAloisio Nunes e Alberto Goldman.

O acordo que juntou Serra e Quércia só foi possível porque ambos lograram fazer submergir Alckmin que, representante do eleitorado interioriano, concorria na mesma faixa eleitoral de Quércia. O acordo em torno de Kassab pareceu-lhes fácil em vista de julgarem-se capazes de  dividir o poder na capital à sombra de um suposto laranja e rumarem juntos às proximas eleições gerais num pacto por meio do qual estaria reservada a um a cadeira de presidente da República e ao outro a cadeira de presidente do Congresso Nacional.

A história, essa eterna desmancha prazeres, interferiu adversamente nos plano dos dois ex-inimigos agora amasiados e fêz de Lula o presidente com a maior popularidade já vista desde a proclamação da república e de Quércia uma alma virtualmente encomendada a Deus.

Nesse ponto a história volta a repetir-se como tragédia com a devolução ao multi-governador Alckmin da posição política perdida, o que se deveu muito muito mais à inexistiencia de uma Dilma que cativasse naquele momento uma classe média refratária a Lula que propriamente ao moto eleitoral do repaginado candidato tucano .

Alckmin redivivo e dissimulado passou a devolver a gentileza da entrega feita pouco antes do poder municipal paulista ao contendor laranja Kassab e dedicou a Serra o mais visceral sepultamento em vida que um político já havia feito de um adversário na política de São Paulo.

É contra isso que clama a mídia empresarial ligada ao empresariado, apelando que seus representantes cessem as hostilidades em favor de um projeto de poder que permita ao PSDB recompor-se agora em torno de Aécio, de modo a oferecer alternativas a um PT que parece passear pelos jardins do Palácio do Planalto aguardando nele reingressar . Dão esse mesmo PT como exemplo de sucesso, que dizem soube moderar brigas internas em favor de algo maior, a conquista do poder federal.

Esquecem-se, no entanto, que essa moderação só foi devida à mais densa organicidade do partido que tem representada em suas fileiras parcelas vivas e atuantes da sociedade brasileira. Num partido que só dispõe de próceres e cabos eleitorais empregados fica impossível por paradeiro à disputa de egos por cadeiras. Em baile que falta mulher dança-se com as vassoras e depois voam os sarrafos.  

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