quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O líquor espinhal da corrupção



Foi revelado o segredo de polichinelo que explica a sólida maioria do governo estadual na Assembléia Legislativa: o cabresto das emendas individuais ao orçamento que concedem aos deputados que seguem o governo nas matérias de seu interesse um quinhão de 2 milhões de reais cada.
Se isso não for prática evidente de corrupção e compra sistemática de consciências então não se sabe mais o que significam tais conceitos.
Mais que um desvio, os fatos trazidos a conhecimento público traduzem esbulho dos mecanismos que asseguram o funcionamento da democracia representativa, já que a representação atribuída pelo voto nas mais diferentes regiões do Estado de São Paulo é subvertida, via a troca dos legítimos interesses da população pelo aquinhoamento com um punhado dinheiro para obras paroquiais.
Que não se fale, por evidente, da margem que isso proporciona ao enriquecimento ilícito não só dos representantes do eleitorado mas de agentes públicos, que não teriam porque deixar de participar das caixinhas que organizam a distribuição do botim extraído aos cofres públicos.
Corrompem-se também os fornecedores do Estado, desde que empreiteiras e pequenas construtoras são levadas a atuar como intermediárias no esquema, tomando dinheiro das municipalidades para levar aos deputados e demais agentes públicos que autorizam a liberação de valores junto à Fazenda do Estado.
Corrompido o poder legislativo e o coração do poder executivo, o vírus dessa verdadeira AIDS da moralidade pública, alcança o poder municipal pelo fato de obrigatoriamente envolver o prefeito e a câmara municipal no processo de arrecadação de propinas.
Mas como se chega a uma situação dessas de tamanho comprometimento das práticas republicanas de se fazer política e de gerir coisa pública? Fácil: quando alguns poucos se arrogam o monopólio da moralidade e fazem mercadologicamente do próprio nome e do partido político, credenciais bastantes para dispensar a vigência de quaisquer mecanismos de controle. Como no caso do governo paulista que se julga infenso a investigações de CPIs porque constituído por acusadores de primeira hora.
Erguem-se bustos à honestidade para que mantenham-se vivos os ícones de santidade que permitem na penumbra a ação malversadora de recursos públicos. Mário Covas, por exemplo.

Que Santo é esse cujo braço direito e chefe da casa civil durante seu governo, Robson Marinho, vem sendo julgado pelo estado suíço, como Maluf, por roubo comprovado do metrô paulista  e da companhia de trens urbanos em conluio com a empresa francesa de equipamentos Alstom? 

Que não se alega a condição de desencarnado para popupar o suspeito. Caso a morte elevasse alguém à santidade, Bin Laden seria santo também entre nós e não apenas entre seus seguidores fanáticos.
É porque havia se erigido um falso mito é que também foi possível a tentativa de conduzir a sucessão na cidade de São Paulo recorrendo-se a uma espécie de hagiografia (história dos santos) perversa, em que se buscava colocar na maior prefeitura do país o neto do mito, que agora se sabe tinha o busto feito com barro de esgoto da companhia saneamento.
Bruno Covas foi pilhado na estória do propino-duto não com dotes de 2 milhoes de emendas parlamentares, mas de 8 milhões. Quatro vezez mais que a maioria. E assim com quatro vezes mais chances de alavancar recursos para sua natimorta candidatura.

 Pior para a família que não vai poder reproduzir no neto a saga do avô. Melhor para a cidadania, que livrou-se precocemente de um político suspeito.

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