sábado, 29 de outubro de 2011

A doença de Lula, mandem coroa de flores à oposição




Lula está doente. E isso é um fato político, para além dos aspectos humanos e até éticos implicados no acontecimento. Avaliar-lhe, pois, as implicações é tarefa que se coloca desde já a todos que estejam preocupados com os destinos do país, quaisquer que sejam as direções para as quais as preferências apontem.
De partida é preciso que se diga que a condição de doente sob risco fatal que cerca Lula coloca-o em posição privilegiada em relação a adversários. A doença não é apenas agente de estigmas de natureza moral que favoreçam a maior aceitação do doente, mas estado particular da existência que identificada no outro o faz portador de um sofrimento imediatamente transportado a nós mesmos. Como se a fragilidade imanente ao humano tornasse-nos menos sujeitos à sustentação de barreiras artificiais.
É nesse sentido que aquele quem aborda a doença alheia, por um processo humano de identificação, perceba a si mesmo vulnerável. Mais que um fenômeno do âmbito do psiquismo a doença é tabu que torna a fala do adoentado portadora de uma mensagem a cujo sentido velado os ouvidos não podem fugir.
Foi essa dimensão do agigantamento do vulto e amplificação da voz do doente, que deu a Dilma Russef 50% dos resultados que veio a colher nas urnas. Aspecto que, também por tabu, jamais foi mencionado nas avaliações de todos os analistas políticos. O resto pode ser atribuído à Lula e até à sua condição de mulher e ex-guerrilheira, em menor grau. Sofrida, por essa razão mais humana e ainda mais próxima, o episódio do enfrentamento do câncer deu à Dilma uma dimensão que até poucos meses antes não tinha.
Que se prepare, pois, a oposição antes de festejar o mal de Lula. Não porque sua doença seja perfeitamente tratável e a sobrevida média para os tipos de cânceres mais letais (que não é seu caso) seja de quase 10 anos. Deve acautelar-se a oposição contra a possibilidade de que o carisma de Lula venha a ganhar conotações de santidade, no sentido da transposição à sacralidade do discurso a que já se dera o nome de lulismo.
Não por outra razão o presidente do principal partido associado, no imaginário popular, ao anti-lulismo ter se apressado em manifestar suas “sinceras” preocupações com o estado de saúde do, pasmem, agora “presidente Lula”.
Foi nesse caldo de cultura, depois de haver dado ensejo ao surgimento de novas camadas sociais nos quadros de processo de crescimento excludente das respectivas economias, que se forjaram como líderes históricos ainda em vida também Domingos Perón, Getúlio Vargas e mais recentemente Néstor Kirchner na Argentina.

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