Mostrando postagens com marcador política. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador política. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O Bolo Fantástico da Oposição



Não é sempre que o professor Ranato Janine, da filosofia da USP, acerta. Desta vez o fez. Seu artigo, transcrito abaixo, é de pertinência tamanha que lembra aqueles assomos de compreensão que temos quando nos dispomos a observar como se faz um bolo e ao fazê-lo transitamos de uma impressão inicial de complexidade para outra de simplicidade do feito. A receita em cujo preparo detém-se o professor é a de como fazer oposição.
Diz-nos que o essencial da receita para obter um belo resultado final consiste menos nos ingredientes e mais no esforço que se coloca na tarefa de dar consistência à mistura, batendo o bolo. Constata que na história do Brasil houve apenas dois partidos que souberam dar o sangue para ganhar consistência eleitoral: o extinto MDB e o PT, os quais mobilizaram vontades por meio do trabalho diuturno de levar suas mensagens ao depositário final de toda ação política, o eleitor.
Ensina a receita às oposições atuais no Brasil porque constata que foge a elas essa verdade acaciana: é preciso suar o avental para conseguir um produto final que regale o eleitor. Nada de batedeiras elétricas, seja as da marca Globo ou outra qualquer, é preciso bater, bater e bater.
Mais que recorrer a facilidades da cozinha moderna, o filósofo conclui que o cozinheiro transferiu ao utensílio doméstico a tarefa de por em prática a receita. No seu entender, os partidos de oposição transferiam à mídia a tarefa de praticar o contraditório político, contentando-se com que esta o faça por meio da exploração sensacionalista e descontínua de fatos.
Desse modo, por preguiça da quituteira, o bolo da democracia não cresce e queimam a mão, com razão, aqueles que buscam tirar apressadamente do forno uma massa que nunca chegou ao ponto.

Por isso, insinua que os líderes oposicionistas revisitem os ensinamentos de culinária que o MDB e o PT deixaram ao Páis e que dediquem bem mais esforço ao trabalho político se querem ganhar eleições sem o recurso a surtos de golpismo.
      
A falta que o PT nos faz
Renato Janine Ribeiro, no jornal Valor Econômico
O PT está fazendo muita falta ao Brasil: na oposição... Dizendo isso, não estou criticando - aliás, nem elogiando - seu governo; só constato que desde 2003, quando ele ganhou as eleições para a Presidência da República, não tivemos mais oposição digna desse nome. Mas, na verdade, pode ser que em quase dois séculos de história independente tenhamos tido apenas dois ou três partidos que realizassem uma significativa oposição democrática. Dois: o MDB (depois, PMDB), no período de 1965 a 1985, e o PT, de sua fundação até 2002. Talvez três, se incluirmos o pequeno Partido Democrático, no final da República Velha e com atuação restrita a São Paulo.

Tivemos outras oposições, mas não foram significativas e, quando o foram, não foram democráticas. Em nosso primeiro século de vida independente, as eleições foram manipuladas (no Império) ou fraudadas (na República Velha). Na Primeira República, dominada pelas oligarquias, só dava para enfrentá-las de armas na mão - daí, a interminável guerra civil do Rio Grande do Sul, a mais breve no Ceará e a rebelião de Princesa, em 1930, na Paraíba. Nosso primeiro período democrático, de 1945 a 1964, teve um partido significativo de oposição, a UDN, mas desde o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, ela tendeu ao golpismo, largando suas iniciais intenções democráticas. Só em 1965 surge nosso primeiro grande partido democrático, o Movimento Democrático Brasileiro, que reunirá as oposições à ditadura, mas tardará 20 anos a pôr-lhe fim.

O MDB (desde 1980, PMDB) marca uma mudança na história do Brasil. Enfrentou a ditadura, mas com métodos e ideais da democracia. Adotou uma política de alianças, reunindo de tudo, inclusive gente pouco digna, mas sob a liderança de nomes notáveis, como Ulysses Guimarães. Praticou, assim, o diálogo. Sua moderação, embora incomodasse a vários, assegurou aos radicais um guarda-chuva protetor. Teve sucesso, pois seu trabalho de formiga concorreu seriamente para o fim da ditadura; e não o teve, já que após 1985 se converteu, rápido demais, em partido fisiológico. Mas sua história merece respeito.

Nosso segundo partido democrático também demorou duas décadas para chegar à Presidência. O PT conseguiu uma façanha admirável: uniu os descontentes de esquerda, somando ideais até divergentes num propósito comum, e o fez com muito trabalho (este é meu ponto, aqui: não se faz oposição sem suar). Esses dois partidos verteram muitíssimo suor, um tanto de sangue e provavelmente muitas lágrimas. No caso do PT basta pensar, primeiro, nos mortos do partido ou próximos a ele, em lutas de sem-terra e outros perseguidos. Eldorado do Carajás marcou um corte nítido entre os petistas e os tucanos, pois era do PSDB o governador do Pará, quando sua polícia massacrou os sem-terra, em 1996. Pensemos, segundo, nas ações petistas que exigiram disciplina e trabalho, como a Caravana da Cidadania. Tudo isso rendeu frutos, desde 2002.

O que falta à oposição atual, para se tornar significativa e ao mesmo tempo agir nos quadros da democracia? Antes de mais nada, a disposição a dar o sangue (em sentido figurado) ou, em sentido literal, a suar de tanto trabalho. Infelizmente, isso mal se vê. Uma dirigente da Associação Nacional de Jornais disse há dois anos que, na falta de uma oposição consequente, a grande imprensa assumiu o papel de opositora. A frase é infeliz, porque o compromisso da imprensa não é fazer oposição, mas dizer a verdade - ideal nada fácil, mas que não se pode abandonar - porém expressa uma triste realidade: o PSDB terceirizou o papel de se opor. Ele o delegou a alguns jornais e revistas que, por preguiça, preferiram o caminho fácil dos escândalos ao mais difícil de um monitoramento sério das ações de governo (e da oposição).

Será também uma certa preguiça a principal razão para a inércia da assim chamada oposição? Suas duas vertentes, o PSDB e em menor medida os verdes, parecem acreditar que basta ter razão para atingir o poder. Mas na política o fundamental não é ter razão, é convencer. Apostar tudo na ideia de que temos razão nos faz acreditar que quem pensa de outro jeito é patife ou, na melhor das hipóteses, ignorante - o que é um desrespeito ao soberano na democracia, o povo. Vejam, nas redes sociais, o desdém de alguns simpatizantes da oposição pela maioria de pobres. Mas não dá para fazer oposição preguiçosa. Pensemos na história dos tucanos. O PSDB, desde que nasceu, em 1988, esteve perto do poder. Alguns de seus grandes nomes foram ministros de Collor, e o próprio partido por pouco não o apoiou. Em 1994, a escolha pessoal de Itamar Franco, quase no estilo do PRI mexicano, levou Fernando Henrique à Presidência - mas qualquer nome, no bojo do Plano Real, ganharia as eleições daquele ano.

FHC é alguém especial. Ele soube converter a fortuna em virtù, para usar os termos de Maquiavel, isto é: converteu a sorte em capacidade própria. Mas perdura o fato de que o PSDB não parece disposto a suar na oposição. Isso é pena. Se ele não fizer suas caravanas da cidadania, se seus militantes não se esfalfarem, se seus líderes continuarem esperando que o poder lhes caia nas mãos, nunca serão oposição de verdade. Ora, numa democracia, para um partido se tornar governo, é preciso primeiro fazer oposição. Não sendo assim, só com sorte. É como se o partido esperasse que a imprensa de oposição faça por ele, nas próximas eleições, o que Itamar fez em seu tempo: dar-lhe o poder de presente. Mas, para nossa maturidade democrática, precisamos de uma oposição que trabalhe, lute, em suma, repetindo-me mais uma vez: que dê seu suor pela política.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

CPI das Privatizações faz jornal expôr Serra


O jornal Valor Econômico promove no dia de hoje o que pode ser considerado verdadeira soltura da boiada da informação sobre o tema tabú da grande mídia brasileira até agora, os documentos revelados pelo livro Privataria Tucana do jornalista Amaury Ribeiro da rede Record.
O artigo vai a esses documentos e associa-os aos grandes escândalos que marcaram o noticiário policial do país, como o do INSS que teve como protagonista a criminosa Jorgina de Freitas e o do Fórum da Justiça do Trabalho que levou à prisão o juiz Nicolau dos Santos Neto.
Fica claro na extensa matéria, que reproduzimos abaixo, o quanto de explicações devem autoridades do governo Fernando Henrique Cardoso sobre o processo de privatizações que tem se constituído em menina dos olhos dos propagandistas e no cerne do que se convencionou chamar de "legado da era FHC".
Tal qual o livro, no centro do enredo desvelado pela jornalista Cristiana Prestes está o círculo próximo ao ex-governador de São Paulo José Serra, integrado por indicados e familiares. 

Evidente também no quadro traçado pela matéria, que foi Serra quem plantou o gangster Ricardo Sérgio na diretoria internacional do Banco do Brasil, mantendo-o depois como tesoureiro em sua malograda campanha presidencial.
As ilações são óbvias: Serra colocou homem seu em posição chave na facilitação de operações internacionais no governo de seu amigo Fernando para que pudesse depois amealhar recursos que financiassem sua própria campanha à presidência da república.

Como? Reintroduzindo no país por meio de empresas localizadas em paraísos fiscais recursos obtidos com comissões ao longo das privatizações e usando, no caminho, parentes de primeiro e segundo graus.
Não é preciso dispor de muito tirocínio para concluir da leitura que a inclusão de parentes visou o enriquecimento pessoal do ex-candidato. Muito embora a jornalista não faça menção ao financiamento de campanhas, o que deixa à ilação do leitor, é enfática em relação à atuação de pessoas do círculo de Serra na operação da ilicitude.
A única concessão que faz àquele que desponta em seu texto como verdadeiro malfeitor é dizer que a vinculação dos recursos movimentados às privatizações não resulta comprovada pelo livro. O que frente os elementos factuais a que remete soa como pormenor, desde que - como é sabido - o dinheiro movimentado pela "entourage" de Serra provém de ilícitos bem anteriores, como a manipulação de contratos de estatais paulistas operada por gente de sua confiança à frente de diretorias administrativo-financeiras durante o governo Franco Montoro (1983-1986).
De todo modo, por lateral que seja o destaque dado ao artigo no "site" do diário, o fato politicamente relevante é que pela primeira vez um veículo da grande imprensa lança a dúvida: Serra será mesmo um bandido?...o que definitivamente levanta a bola para uma CPI que retome as investigações suspensas sobre o assunto.
Segue artigo publicado na edição de 04/01/2012 no jornal Valor Econômico  
Por Cristiane Prestes
Livro ameaça reabrir CPI inconclusa
Não há, na história da República, um escândalo financeiro tão longevo e de tantas ramificações quando o caso Banestado. Alvo de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso Nacional em 2003 e de uma força-tarefa formada por 40 procuradores, delegados, agentes e peritos do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, a descoberta de um esquema ilegal de uso das contas CC5 - criadas pelo Banco Central para permitir transferências legais para o exterior - no banco do Estado do Paraná foi a precursora de uma série de outras investigações - muitas delas ainda em curso nos gabinetes de procuradores, delegados e juízes.
Um pedido de CPI protocolado junto à mesa diretora da Câmara dos Deputados levantou as expectativas de que uma parte do caso Banestado, até agora mantida em segredo nos arquivos do Congresso, volte à tona. O deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) conseguiu em dezembro 206 assinaturas para pedir a abertura de uma nova CPI, desta vez para investigar as privatizações promovidas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP).
Ao receber o pedido de abertura da CPI, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), não foi conclusivo sobre as perspectivas de sua instalação.
O pedido foi motivado pelas revelações do livro "A Privataria Tucana", lançado pelo jornalista Amaury Ribeiro Júnior. Nele, o autor regressa à época das privatizações e relata os passos - e a movimentação das contas bancárias - de personagens importantes do contexto político e econômico nacional, muitos deles ligados ao ex-governador José Serra (PSDB-SP).
Apesar de muitos governistas terem assinado o pedido de CPI, ainda não se conhece o interesse do governo e do PT na instalação efetiva desta investigação. O desinteresse de ambos na abertura de uma investigação poderia ser explicado pela informação que consta da página 75 do livro: "Os arquivos ocultavam informações capazes de constranger tanto o governo Lula quanto o de FHC".
A devassa no Banestado partiu de uma denúncia feita contra um dos gerentes do banco, que havia enviado dinheiro ao exterior ilegalmente por meio das CC5 e, em depoimento, relatou o esquema montado na instituição. De uma forma inédita na história do país, foram abertas duas frentes de investigação.
De um lado, a CPI do Banestado foi instalada em 2003 para apurar a evasão de divisas por meio do banco estatal. De outro, uma força-tarefa do Ministério Público Federal e da Polícia Federal foi montada no Paraná no mesmo ano para abrir inquéritos e investigar os clientes do banco que haviam incorrido no crime.
A força-tarefa resultou em inúmeras operações da PF para investigar o uso do câmbio ilegal no Brasil e acabou varrendo diversos doleiros do mercado. Resultam dela as mais importantes operações da PF já realizadas - como Farol da Colina, Suíça, Kaspar I e II e Satiagraha. O conjunto de ações integradas entre a PF e a MP foi encerrado em setembro de 2007 após ter denunciado 684 pessoas, obtido 97 condenações, investigado mais de 1.170 contas bancárias no exterior e bloqueado R$ 380 milhões no Brasil e R$ 34,7 milhões fora do país. Após seu término, os inquéritos ainda em andamento foram remetidos para procuradores em diversos Estados e geraram novas investigações.
A CPI do Banestado foi encerrada em 27 de dezembro de 2004 sem a aprovação de seu relatório final. Na época, os partidos fizeram um acordo para encerrar as investigações, após a comissão ter recebido dos Estados Unidos um lote de documentos sobre a movimentação de brasileiros em contas bancárias abertas no MTB Bank, outro escritório de lavagem de dinheiro americano. Segundo Ribeiro Júnior, a revelação dos dados do MTB foi determinante para que fosse desencadeada a "operação abafa" na CPI.
O livro, no entanto, não se dedica às razões por que o PT resolveu colaborar para sepultar a CPI. Seu foco é na tese de que a era das privatizações - inaugurada durante o governo Collor e ampliada e intensificada no governo FHC - patrocinou a venda de estatais brasileiras a "preço de banana" e enriqueceu políticos e empresários por meio de um esquema de pagamento de propinas. Segundo o autor, a venda de empresas como Vale, CSN, Light, Embraer e Usiminas, entre outras, foi antecedida por demissões, aumento de tarifas, investimentos e absorção das dívidas das companhias pelo Estado e concluída por meio do uso de moedas podres e intensa participação do BNDES no financiamento aos consórcios que as adquiriram.
Entre a primeira e a segunda etapas, Ribeiro Júnior tenta provar que houve um esquema de corrupção por meio do qual os tucanos montavam os consórcios vencedores dos leilões em troca de propina - no que chama de "propinização", ao invés de privatização.
O principal argumento que sustenta a tese do autor foi mantido em sigilo pelo Congresso desde 2003, quando foi instalada a CPI do Banestado. Segundo Amaury Ribeiro Júnior, a caixa de número 6 que abriga o material levantado pela CPI contém um documento, reproduzido no livro à página 137, que demonstra que o ex-tesoureiro de campanha de Fernando Henrique Cardoso (em 1994 e 1998) e de José Serra (em 1990 e 1994), Ricardo Sérgio de Oliveira, recebeu somas consideráveis nas contas bancárias de empresas das quais é sócio.
Após a eleição de Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Sérgio, indicado por Serra, assumiu a área internacional do Banco do Brasil, posto por meio do qual teria articulado a participação dos fundos de pensão - como Previ e Petros - nas privatizações.
Além de Ricardo Sérgio, o documento, reproduzido por Ribeiro Júnior no livro, também cita Gregório Marin Preciado, casado com uma prima de primeiro grau de Serra. Preciado teria movimentado dinheiro por meio do Beacon Hill, escritório de lavagem de dinheiro que foi o principal receptor dos valores enviados ilegalmente para fora do país pelas contas CC5 do Banestado. O autor, no entanto, não consegue provar que o dinheiro que circulou nas contas dessas pessoas tem origem nas privatizações e tampouco que Serra teria se beneficiado desses valores. Procurada pelo Valor, a assessoria de imprensa de José Serra não se manifestou. O ex-governador de São Paulo classificou o livro como "lixo". A reportagem não encontrou Ricardo Sérgio em seu escritório. A assessoria do PSDB informou que o departamento jurídico do partido prepara uma ação judicial contra o livro.
"Não é um livro, é um documento", resumiu o deputado Protógenes Queiroz durante um debate sobre "A Privataria Tucana" promovido pelo Centro de Estudos Barão de Itararé, realizado no Sindicato dos Bancários de São Paulo.
A afirmação decorre do fato de o autor se dedicar a esmiuçar o modus operandi da lavagem de dinheiro a partir dos mais ruidosos escândalos brasileiros dos últimos tempos, como o desvio de verbas da construção do novo fórum trabalhista de São Paulo pelo juiz Nicolau dos Santos Neto; a Máfia dos Fiscais do Rio de Janeiro; o desvio de verbas do INSS promovido pela servidora Jorgina de Freitas, entre outros casos.
Em todos eles, as investigações culminaram em uma sequência de operações que incluiu o desvio de recursos públicos, seguido da evasão de divisas por meio de doleiros, da circulação do dinheiro em contas de bancos americanos e da abertura de offshores em paraísos fiscais. Sem a identificação dos seus beneficiários finais, protegidos pelo sigilo oferecido nesses países, as offshores promoviam investimentos no Brasil, reinserindo o dinheiro lavado na economia. (Colaborou Cristiane Agostine)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

As consequências de trair a CPI




O partido dos Trabalhadores encontra-se diante de uma grande oportunidade e um grande risco. Ambas as possibilidades decorrem das escolhas alternativas que fizer com relação à CPI das Privatizações, que em prazo recorde teve o pedido formulado por um número de assinaturas mais que suficiente para sua abertura e o registro deferido pelo presidente da Câmara Marco Maia.
Se disserem não à CPI, a primeira de iniciativa das esquerdas, os petistas estarão dizendo adeus à credibilidade granjeada em mais de 25 anos de lutas contra os desmandos dos donos do poder no País, como foi discurso recorrente desde que Lula candidatou-se pela primeira vez à presidência da República.  
Isso porque não se trata de uma CPI qualquer, tampouco de uma simples instância jurídico – parlamentar criada para dar vazão aos jogos de pressão e contrapressão que envolvem a rotina do parlamento. Trata-se da culminância de 3 décadas de esforços de militância que deram o comando do País ao partido dos trabalhadores e fizeram da sua bancada a maior do Congresso nacional.
Essa CPI não pertence ao PT, mas sim aos seus eleitores e apoiadores os quais combateram nas mídias sociais pela sua constituição. Um golpe branco contra sua instauração será um golpe na confiança que a juventude e os trabalhadores depositaram no partido como instrumento capaz de servir às mudanças que se acredita sejam necessárias ao País.
Se disserem sim à CPI, os petistas estarão se credenciando junto às novas camadas sociais que, por intermédio da ação partidária, assistiram a oportunidade de disporem de um partido apto a romper com a manipulação dos partidos populistas que utilizaram historicamente as camadas populares como massa de manobra para a preservação do “status quo”.
Poderão ainda firmarem-se como instância de poder independente do governo. Pois se o governo, em função da missão institucional de que está imbuído, tem o papel de representar a todos os brasileiros, adeptos ou não da sigla que o elegeu, o partido tem a missão de travar o combate político e influenciar o mesmo governo para que prossiga com as mudanças que correspondam aos interesses das classe e dos setores de classe que lhe emprestam perfil ideológico.
As forças políticas, nas ruas e nas mídias sociais de que se valeram para que a situação chegasse até aqui, devem intensificar a pressão para que não ocorra um acordo de bastidores que salve a face daqueles que têm algo a perder com o aprofundamento das investigações.
Pela primeira vez as novas forças políticas que emergiram nos últimos 10 anos de governo das esquerdas coesionaram-se para a tomada de iniciativa política que julgam traduzir uma conquista estratégica de seus embates políticos. Traí-las trará graves prejuízos aos conspiradores.

Vem aí a CPI do Serra




O silêncio sepulcral mantido até agora pelos principais veículos de comunicação do País com relação ao livro que aponta desvios de recursos das privatizações realizadas no governo Fernando Henrique em benefício de alguns de seus principais integrantes, dentre deles José Serra, começa a dar lugar a comentários comedidos sobre o conteúdo da obra.
O motivo é o registro de pedido de CPI na Câmara dos deputados que contou com 185 assinaturas de parlamentares, 14 mais que o quórum exigido para iniciativas desse tipo. A comissão de investigação só deverá ser instalada no início do ano que vem, mas alguns de seus efeitos já podem ser antecipados.
O principal deverá ser o encerramento da carreira política do ex-governador de São Paulo José Serra que à revelia de seu partido montou o esquema ilícito de enriquecimento pessoal.
Documentos oficiais que ilustram o livro mostram que até a casa em que mora hoje Serra está em nome de sua filha, Verônica Serra, principal envolvida com o escândalo. Além desse imóvel, há outros em nome de parentes seus no litoral Sul da Bahia, inclusive uma ilha.
Para essas imobilizações deve ter contribuído a atuação do secretário de meio ambiente de Porto Seguro à época (2006-2008), o geógrafo Beny Ricardo Pontes Abreu que depois de deixar o cargo naquela cidade foi admitido na estatal paulista DERSA na gestão de seu padrasto , então presidente da empresa, Thomás de Aquino Nogueira, amigo e também indicado por Serra.
Outra conseqüência da CPI será o de revelar a parcialidade e partidarismo com que se guia o noticiário das principais emissoras de TV do Brasil, que se recusaram a noticiar até mesmo o fato jornalístico de o livro com as denúncias figurar como o mais vendido das últimas semanas, com a primeira edição esgotada em 48 horas.
Para além dos desdobramentos políticos de mais curto prazo que se espera de qualquer investigação desse tipo, a abertura da CPI deverá constitui o registro para a posteridade do momento em que as mídias sociais deixaram de se alternativas e passaram a constituir instrumento de fato de mudança da realidade política do País.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A aprovação ao governo Dilma


Causaria perplexidade a qualquer estrangeiro que tendo acompanhado a balbúrdia das denúncias envolvendo demissões de ministros no governo federal viesse tomar conhecimento dos números da pesquisa CNI-IBOPE sobre a aceitação do governo e o prestígio da presidente da República.

Os percentuais são os mais altos já registrados por um presidente eleito em primeiro ano de governo, coisa da ordem de 65% na média entre os dois números. Do fato surgem perguntas inevitáveis que a oposição ao governo instalado em janeiro de 2011 deve estar se fazendo nesse momento.

Teria sido a força emprestada pelo carisma de Lula, quem sabe sua doença? Teriam sido os resultados benfazejos da economia ditados pela sorte? Ou seria a causa de tudo uma maioria situacionista esmagadora no congresso que faria a voz da oposição soar como radinho com pilhas fracas na multidão?

Embora todos os fatores possam ter dado alguma contribuição aos achados da pesquisa, a explicação mais plausível é também a mais prosaica. Incapacidade de fazer oposição pela limitação própria à lógica do pensamento liberal. 

Tendo se encantado com a capacidade ordenadora dos mercados, a socialdemocracia – que tinha tudo para inaugurar um ciclo de poder duradouro no país (os 20 anos de que falou o alter-ego de FHC Sérgio Mota) – deixou  de fazer o que as forças vivas da sociedade dela esperava : apoiar medidas que levassem à superação do níveis inaceitáveis de miséria no Brasil e ao estabelecimento de uma política de desenvolvimento nacional que reposicionasse o País no concerto das grandes nações do mundo.

A todas essas transformações do panorama histórico a socialdemocracia ignorou. Influenciada por gente ligada ao meio financeiro,  seu discurso apequenou-se na desconfiança das políticas de estado, na fé cega nos mercados e na reclamação de haver sido expropriada de seus políticas pelos adversários.

Ignorou a base social de pardos e negros que compõem o substancial da população brasileira, sem se preocupar com o português das ruas. O pouco que fez foi a título de benemerência, sob a coordenação de Ruth Cardoso.

Para impedir o fenômeno Dilma os socialdemocratas sequer defenderam Fernando Henrique nas campanhas eleitorais que sucederam o fim melancólico de seu governo. Tampouco podiam. Intuiam que com sua defesa pouco teriam a dizer à maioria da população brasileira. Descreram do País e da sua gente, agora pagam o preço.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Telespectadores Palhaços: Como a Globo Fraudou as Eleições de 1989



A TV Globo está buscando reciclar-se. Vem aí a comissão da verdade e por mais pífios que  sejam seus resultados, deverão produzir uma revisão da historiografia oficial até agora adiada por grupos que deram força à ditadura militar a pretexto de salvaguardar as relações entre as instituições. Leia-se: setores direitistas da imprensa, do exército e do parlamento.
Mais esperta que o próprio exército, que até hoje fala pela boca do milico canalha e deputado federal Jair Bolsonaro, a Globo prepara uma espécie de “soft landing” ou pouso suave desde sua trajetória de associação com o golpe de 1964 ao solo democrático firme de um país liderado pela ex-prisioneira política Dilma Russef.  
Nesse pretendido movimento de aterrissagem sem solavancos, a Globo deslocou para segundo plano personagens carimbados de seu mais recente passado de insolência política, como Miriam Leitão e Alberto Sardemberg que integrou o governo FHC como secretário de imprensa.  Substituiu o linguajar duro das críticas de partido oposicionista, que não é, por comentários enviesados feitos por caras novas de seu telejornalismo.
Até o quadro da sagrada família a Globo retirou da sala dos brasileiros ao separar o casal 20, com a troca da insossa esposa Fátima Bernardes pela sensual amante Patrícia Poeta. Diga-se, mais patrícia que poeta.
Faz parte também do projeto de reposicionamento da emissora o livro escrito pelo seu ex-diretor de produção, José Bonifácio Sobrinho, o Boni. 

A título de contar sua trajetória de encantador de telespectadores nos anos 80 e 90, o ex homem-forte de Roberto Marinho faz revelações aparentemente bombásticas sobre os bastidores de um dos mais intrigantes episódios da memória das disputas políticas no país: o do debate que travaram Lula e Collor às vésperas das eleições que conduziu esse último, dono da afiliada à Globo no estado de Alagoas, à presidência da República.
Um detalhe que não se encaixava bem no “script” desse reposicionamento da emissora intentado com livro era a informação de que Collor tinha sido preparado para o debate pelo staff da própria TV Globo. Mais grave, por ninguém menos que seu diretor de produção que, segundo as próprias palavras, disse ter instruído Collor “em todos os aspectos formais do debate" e "só não lhe pondo caspas sobre o paletó, como as tinha Jânio Quadros (ex-presidente populista) porque não quis”.
A atitude do ex-diretor pareceu estranha só até alguns dias atrás, quando o atual diretor de telejornalismo da TV Globo, Ali Kamel, veio a público pontuar que a iniciativa do Boni em produzir Collor para aquele debate foi pessoal de Boni e que Roberto Marinho (presidente falecido da emissora) nada teve a ver com isso.
Ficou claro que a intenção velada da emissora com a declaração de Boni era desvincular o fundador das Organizações Globo do acontecimento, circunscrevendo o episódio ao indiscreto informante, o qual, no momento seguinte, haveria de declarar que de fato “Dr. Roberto de nada sabia”.
Mas se até as mentiras de amor tem pernas curtas que dirá então as maquinadas pela vileza. Paulo Henrique Amorim, o corajoso cruzado que tem dedicado sua vida a revelar as conspirações políticas da TV Globo desde que esta foi parida em Nova Iorque em sociedade firmada com o grupo norte-americano de mídia Time Life, mostra o quanto há de ficção nessa versão dos acontecimentos a que se dedicam agora fixar os atuais e os ex-empregados da família Marinho em abono do passado da empresa.
Amorim relata associação de fatos que fez o ex-assessor de imprensa do candidato Lula naquela ocasião, o jornalista Ricardo Kotcho. Conta Kotcho, reproduzido por Amorim, que chegando aos estúdios da TV Bandeirantes onde houve reunião para acertar as regras do debate que aconteceria 2 dias depois na Globo, encontrou nos bastidores a dupla Cláudio Humberto (assessor de imprensa de Collor) e Alberico Cruz, à época diretor de jornalismo da Globo.
Desconfortáveis com o encontro, já que Alberico dava expediente no Rio e não haveria porque estar na Rede Bandeirantes tratando de assuntos organizacionais de um debate e tampouco na companhia de quem estava ,os parceiros trataram de justificar que os dois tinham se encontrado casualmente no avião  quando ele, Alberico, vinha à concorrente tratar de outros assuntos.
Kotcho ficou com a pulga atrás da orelha e com razão. Alberico estava ali por outro motivo.  Como as imagens do debate seriam editadas no dia seguinte em São Paulo mesmo, a presença do chefe atendia a uma missão passada pelo próprio presidente da empresa, que o havia incumbido da tarefa de recortar o vídeo do debate de tal modo que mostrasse “tudo de bom de Collor e tudo de mal do Lula”.
Como se soube disso? Por intermédio de outro personagem que não havia entrado no relato até agora, o editor de política do Jornal Nacional Ronald de Carvalho. Era ele o responsável pelo noticiário eleitoral do principal noticioso da emissora, que contava com mais de 70% de audiência no país.
Naquela altura dos acontecimentos Ronald já havia recebido instruções nesse sentido diretamente do dono da emissora, o patriarca Roberto Marinho, de que preparasse o chefe de edição em São Paulo para o fato de que o diretor de jornalismo Alberico Cruz para lá se deslocaria a fim de comandar pessoalmente os trabalhos de edição do telejornal que iria ao ar.
E foi assim que Alberico Cruz postou-se na manhã seguinte junto aos técnicos Otávio Tostes e Wianey Pinheiro para acompanhar a edição das imagens do debate realizado na véspera. Soube-se ainda que a a montagem não pode ser completada dentro do horário previsto para fechamento do  telejornal, motivo que obrigou Alberico a interferir diretamente para que fosse feita a inclusão.
Como último movimento da trama, acrescentaram ainda à edição do telejornal uma enquete feita por telefone simultaneamente ao debate, em que se avaliava entre os espectadores quem havia vencido o confronto. Coube a Alexandre Garcia, figura a quem reservavam as falas oficiais da emissora, preparar a audiência para a pesquisa que daria Collor na frente.  Cerimonioso disse que na democracia era assim mesmo, “tinham que ser respeitadas as pesquisas”.
Com a transmissão do Jornal Nacional naquela noite Collor venceria as eleições por antecipação, sendo de todo dispensável o pleito que se realizaria no dia seguinte devido a farsa montada e a impossibilidade de resposta da candidatura oponente.  
A história daí para frente todos conhecem: a construção da imagem de Collor como super herói, uma espécie de Hitler pós-moderno, o confisco da poupança pela prima Zélia de Mello e o final feliz do casamento da moça com o principal humorista do canal de televisão, Chico Anísio.
Uma comédia, haverá de registrar a história do século XXI, em que a Rede Globo até hoje não pagou um centavo de cachê aos palhaços dos brasileiros.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A árvore dos milhões




Todos sabem que o governador Alckmin deve 5O% do sucesso de sua carreira política ao falecido governador Covas. Ele mesmo não perde oportunidade de reavivar no eleitorado a lembrança da associação de seu nome com o de Covas sempre que possível em pronunciamentos públicos.
Estratégia de comunicação que tem funcionado porque, graças à colaboração da imprensa, poucos associam o nome de Covas com o de seu ex-Chefe da Casa Civil, amigo e todo poderoso à época de seu governo, o atual conselheiro do tribunal de contas que agora está sendo processado pelo governo suíço, Robson Marinho.
Contra o ex-membro do alto escalão pesa a acusação de haver movimentado 3 milhões de francos naquele país europeu provenientes do recebimento de propinas pagas por fornecedores franceses de equipamentos para o metrô de São Paulo e para a companhia de trens metropolitanos, a empresa Alstom.
 É preciso que se relembre. No ano de 1995 Alckmin era deputado estadual pouco conhecido. Havia chegado à presidência do diretório regional de São Paulo do PSDB beneficiado por um acordo que previa o rodízio de lideranças regionais à frente da instância partidária.
Covas, cioso de seu prestigio como ex- exilado e opositor do regime militar, pretendia produzir para si um quadro de conforto político que lhe permitisse lançar-se com segurança primeiro ao Palácio dos Bandeirantes em 1998 e em seguida à presidência da república em 2002.
Com esse intuito, manobrou habilmente para evadir-se à pressão de correligionários para que aceitasse como vice um figurão do partido com planos próprios e mais afinado ao presidente FHC, que 2 anos depois apoiaria também Maluf ao governo do Estado. Incomodava Covas as movimentações ostensivas de Serra e de seus aliados junto a FHC com vistas a fazer-se seu sucessor e plantar em São Paulo um governador de sua confiança.
Foi desse modo que a escolha recaiu sobre o pacato deputado do interior Alckmin, a quem foi confiada a tarefa de conduzir ao lado de Robson Marinho a privatização das estatais de São Paulo, a frente da Comissão Estadual de Desestatização, e com isso prover os fundos que bastariam ao projeto presidencial de Covas alguns anos mais tarde.
Do resto o destino e a fatalidade da morte dariam conta. E tudo que Alckmin teve doravante seria demonstrar à viúva do falecido uma reverência eclesiástica à sua memória e permeabilidade aos desejos da influente senhora de introduzir seu neto predileto, Bruninho Covas, na carreira política a fim de colher o que restasse de louros da imagem de probidade do avô.
Desse modo não surpreende a informação que veio a público há pouco de que Bruno Covas logrou antecipar em um só ano de seu mandato de deputado estadual pelo PSDB todo o valor que teria a receber em 4 anos à título de emendas parlamentares, dessas que agora se sabe constituem o meio pelo qual opoerou o que vem sendo chamado de escândalo do mensalão paulista.

Foram 8 milhões de reais, quando outros deputados tinham o direito de retirar 2 milhões dos cofres estaduais para o patrocínio de obras municipais onde bem entendessem, com a propósito último de obtenção de gordas comissões que finaciassem suas respectivas campanhas e, claro, garantissem a formação de um sempre oculto patrimônio pessoal.
Tudo indica que o motivo do favorecimento do rapaz, no momento secretário estadual do meio ambiente, foi dar- lhe condições para para viabilizar a formação de seu caixa de campanha à prefeitura da capital, ungido que estava pela dívida de gratidão que o governador mantem para com a família a quem deve sua fulminante carreira política.
Entende-se porque Bruninho, dando ainda os primeiros passos na política, apavorou-se com o estouro de rojão do deputado que, descontente com a partilha, denunciou o esquema de propina. 

Num gesto ingênuo inoculou-se da dose letal do que supunha ser sua vacina contra os pecados já cometidos na manipulação das emendas: declarou à imprensa que recebera ele, Bruno Covas, oferta de propina por parte de prefeito do interior e que recomendou na oportunidade sua doação à Santa Casa.
Melhor teria feito se hovesse pedido ao prefeito filantropo que desse o dinheiro à Santa Sé a fim de canonizar o próprio avô e, quem sabe, também seu fiel escudeiro Robson Marinho. Este último com a pressa devida, antes que vá preso ou se mande do país com a grana levada do assalto à companhia do metropolitano.

Segue trecho de matéria do Estadão de 11/10/2011 que permite entender o sucesso eleitoral de Bruno Covas.

Em ano eleitoral, Bruno Covas consegue R$ 8,2 milhões em emendas

Em notícias veiculadas em seu site oficial, o secretário estadual de Meio Ambiente, Bruno Covas (PSDB), informa ter conseguido intermediar, só no ano de 2010, um repasse de recursos a prefeituras e entidades equivalente a toda a cota de emendas parlamentares que lhe caberiam em quatro anos de mandato como deputado.
No ano passado, Covas exercia mandato de deputado estadual e foi campeão de votos na disputa à reeleição. Embora a cota anual de emendas por parlamentar seja de R$ 2 milhões, Bruno afirma ter conseguido intermediar o repasse de recursos que somam R$ 8,2 milhões. Todos viraram convênios do governo estadual com prefeituras ou entidades. O levantamento foi feito pelo Estado a partir das informações que constam no site do próprio secretário e da checagem dos convênios.

Procurados na manhã desta terça-feira, 11, o governo estadual e o secretário Bruno Covas não se manifestaram até agora sobre as informações desta reportagem. Assim que o fizerem, suas versões serão divulgadas pelo estadão.com.br.

O governo do Estado de São Paulo não divulga os autores de todas as emendas e nem seus respectivos valores. O Executivo paulista divulgou, até o momento, somente os recursos liberados em 2011. Diante da ausência de publicidade desses dados, não se sabe quanto o governo dispendeu em recursos que de fato foram intermediados pelo secretário Bruno Covas.

Nas peças orçamentárias de 2010 e 2011, o governo reservou R$ 188 milhões para emendas parlamentares, valor que, dividido por 94 deputados, resulta em R$ 2 milhões. Bruno Covas foi o relator desses dois orçamentos na Assembleia. Embora houvesse uma pressão de deputados por aumentar o valor das emendas, o tucano manteve a cota inalterada.

O valor de R$ 8,2 milhões que Bruno conseguiu liberar em ano eleitoral foi encontrado em 49 emendas das quais o próprio secretário, em seu site oficial, afirmou ser autor. O Estado confirmou a assinatura dos convênios e a liberação do dinheiro com base em informações da Secretaria da Fazenda.

Em diversas notícias do site de Covas é possível encontrar a liberação das emendas. Com o título "Guararapes é beneficiada por emenda de Bruno Covas", uma reportagem informa a liberação, pelo governo, de R$ 300 mil para um estádio do município.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Estória de amor que não deu certo




As vozes mais categorizadas do empresariado e de seus veículos de comunicação, como o jornal Valor Econômico, preocupam-se crescentemente com a crise vivenciada pelo PSDB que a cada dia ganha novos contornos, na medida em que se aprofundam as dissenções envolvendo os dois principais grupos do partido: o do governador Alckmin e o do ex-governador Serra. Uma estória que em muitos aspectos lembra o processo de desagregação que levou, nos início dos anos 90, ao afastamento dos também governador e ex-governador Luiz Antonio Fleury e Orestes Quércia.

Também ali havia naufragado o projeto presidencialista do governador que saira do poder, Quércia, e a sobrevivência política do derrotado dependia da preservação de espaços políticos na máquina estadual pelo seu grupo. Quércia julgava-se responsável pela condução de seu sucessor ao poder, ao passo que este buscava alinhamentos próprios num PMDB já dividido nacionalmente entre Ulissistas e Quercistas.

As semelhancas param aí, porque por àquela época o PT era apenas um arremedo de partido e o PSDB, mal surgido das costelas do PMDB, ainda buscava ganhar musculatura para 4 anos depois eleger com FHC o presidente da República. Daí o declínio de ambos, Quércia e Fleury, criador e criatura, que passaram a amargar o ostracismo de quase duas décadas até quando, por temor a um inimigo comum, o PT, pai e filho - PMDM e PSDB - se se reconciliariam a fim de tentar eleger Serra e Kassab, respectivamente presidente e prefeito, sob os auspícios dos tucanos e outrora quercistasAloisio Nunes e Alberto Goldman.

O acordo que juntou Serra e Quércia só foi possível porque ambos lograram fazer submergir Alckmin que, representante do eleitorado interioriano, concorria na mesma faixa eleitoral de Quércia. O acordo em torno de Kassab pareceu-lhes fácil em vista de julgarem-se capazes de  dividir o poder na capital à sombra de um suposto laranja e rumarem juntos às proximas eleições gerais num pacto por meio do qual estaria reservada a um a cadeira de presidente da República e ao outro a cadeira de presidente do Congresso Nacional.

A história, essa eterna desmancha prazeres, interferiu adversamente nos plano dos dois ex-inimigos agora amasiados e fêz de Lula o presidente com a maior popularidade já vista desde a proclamação da república e de Quércia uma alma virtualmente encomendada a Deus.

Nesse ponto a história volta a repetir-se como tragédia com a devolução ao multi-governador Alckmin da posição política perdida, o que se deveu muito muito mais à inexistiencia de uma Dilma que cativasse naquele momento uma classe média refratária a Lula que propriamente ao moto eleitoral do repaginado candidato tucano .

Alckmin redivivo e dissimulado passou a devolver a gentileza da entrega feita pouco antes do poder municipal paulista ao contendor laranja Kassab e dedicou a Serra o mais visceral sepultamento em vida que um político já havia feito de um adversário na política de São Paulo.

É contra isso que clama a mídia empresarial ligada ao empresariado, apelando que seus representantes cessem as hostilidades em favor de um projeto de poder que permita ao PSDB recompor-se agora em torno de Aécio, de modo a oferecer alternativas a um PT que parece passear pelos jardins do Palácio do Planalto aguardando nele reingressar . Dão esse mesmo PT como exemplo de sucesso, que dizem soube moderar brigas internas em favor de algo maior, a conquista do poder federal.

Esquecem-se, no entanto, que essa moderação só foi devida à mais densa organicidade do partido que tem representada em suas fileiras parcelas vivas e atuantes da sociedade brasileira. Num partido que só dispõe de próceres e cabos eleitorais empregados fica impossível por paradeiro à disputa de egos por cadeiras. Em baile que falta mulher dança-se com as vassoras e depois voam os sarrafos.  

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Roberto Roque Jeferson Barbieri






Em progressão ainda mais acelerada que a verificada na recente greve dos coveiros vai se intensificando o odor fétido que vaza da Assembléia Legislativa de São Paulo e  dos corredores que a comunicam à Casa Civil do Governo do Estado.

Os lábios arrocheados de dezenas de deputados que dão suporte à base governista naquela Casa de Leis indicam a fonte do mau cheiro: o mensalão que agora se sabe vem sendo recebido por essa gente em paga das atividades de representação política que deveriam fazer dos ciddadãos paulistas e pela qual são regiamente pagos.

Num episódio que reproduz de forma bastante irônica o affair político de 6 anos atrás protagonizado pelo Governo Federal, estoura agora outro escândalo datado de  época ainda anterior mas só revelado agora e que deita por terra o discurso moralizante que Fernando Henrique Cardoso havia feito soar de seu esclarecido clarin para organizar a tropa de choque oposiocionistam em plano nacional.

Desmoralizações pessoais à parte, o caso já fulminou a estratégia eleitoral do Governador para as eleições do ano que vem, e que tinha no menino Covas o pano de toureiro para viabilizar a vitória do preferido  ex-secretário Chalita à sucessão de Kassab.

A carniça parlamentar se acentua na exata medida dos arroubos verbais do Jeferson da hora , o deputado Roque Barbieri, que vem de subir o tom das denúncias para fazer associar o escândalo de que é portador àquele outro que fez desmoronar 10 anos atrás a Câmara Municipal de São Paulo, o das propinas pagas a vereadores pelos camelôs e que resultou na cassação e na prisão de muitos dos então representante dos municípes paulistanos.

Forçando o recuo das tropas governistas, Roque, sabe-se lá porque razão, começa transformar o que Ranata Lo Prete da Folha vem denominando de Tucanicídio, em referência à autofagia que toma conta do PSDB, numa espécie de suiídio moral coletivo.

Isso que dá fazer do moralismo arma de luta política.  Segue matéria do Estadão sobre a investida de Roberto Roque Jeferson Barbieri.

Barbieri compara Assembléia Legislativa a Camelódromo

O deputado Roque Barbiere (PTB), que denunciou esquema de venda de emendas na Assembleia Legislativa de São Paulo,  afirmou nesta terça-feira, 4, que não vai entregar nomes de deputados ao Conselho de Ética da Casa. ”Nenhum nome. Nem com revólver na cabeça. O objetivo não é dedurar ninguém. É acabar com a prática ou dar a ela mais transparência”, declarou.
Barbiere disse ainda que deve fazer seu depoimento no Conselho de Ética por escrito e que vai pessoalmente ao Ministério Público e que, ‘dependendo da forma como for tratado’, pode informar a promotoria sobre um caso concreto.
Segundo ele, esse caso concreto envolve parlamentares e ex-parlamentares. Barbiere não deu mais informações sobre que caso seria esse. Mas disse que houve parlamentares que venderam emendas que até já morreram e comparou a Assembleia a um camelódromo. “Tem várias maneiras. Isso é igual camelô. Cada um vende de um jeito. Cada um tem uma maneira, cada um tem um preço”, disse.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Vassouras Vermelhas e Pretas




Caiu a máscara. Tanto diz que diz com relação ao fato de haver ou não complacência com a corrupção no Governo federal ou ter ou não havido  herança maldita do Governo Lula ao atual com respeito a colaboradores pouco probos, e lá vem como numa onda tomando a forma de vagalhão a denúncia de que, faz 7 anos, deputados da base governista estadual vendem continuadamente  emendas parlamentares para empreiteiras.

Olhem só o tamanho da hipocrisia. A principal bandeira da oposição nos últimos anos vem sendo o chamado “mensalão” e o que é considerado como “leilões de cargo” aos aliados do PT para apoio a matérias de interesse do Governo Federal no Congresso. Ocorre que  durante todo esse tempo, e até antes, o Governo estadual vem dando brindes à  terça parte da Assembléia Legislativa como forma de angariar respaldo parlamentar. É o que diz o deputado Roque Barbiere, que promete anunciar  o nome dos envolvidos nos próximos dias.

A denúncia atinge em cheio as últimas gestões paulistas e mostra um grau de corrupção que torna o precocemente desbaratado mensalão do PT fichinha, já que o presente esquema envolve não apenas apoio a temas isolados levados a votação naquela Casa legislativa , mas a instalação mesmo de um “modus operandi” de relacionamento entre o poder Executivo e o Legislativo no Estado com base na permuta de votos por dinheiro, que é retirado do caixa estadual por empreiteiras prestadoras de serviços ao governo, para posterior restituição de comissões a deputados "amigos".

Desde já está implicado o Promotor Marrey que vem servindo a sucessivos governos estaduais faz 30 anos e que, segundo o denunciante, teria sido avisado quando à frente da Casa Civil do Govero Serra sobre o esquema. Iniciado, segundo ele, para beneficiar a eleição do então presidente da Assembléia Edson Aparecido.

Sabíamos que as vassouras verde-amarelas haviam sido confeccionadas na vassouraria do PSDB para serem dispostas na esplanada dos ministérios em Brasília. Só não sabíamos que vassouras vermelhas e pretas fariam tanta falta no mercado paulista. Por acaso haverá igual ânimo para buxixo na avenida paulista?

Segue matéria publicada no Estadão em que Roque Barbieri  faz seu debut de Roberto Jefferson estadual.



Deputado Questionou Governo Paulista sobre Emendas da ALESP


O deputado estadual Roque Barbiere (PTB), pivô das acusações que envolvem a Assembleia Legislativa de São Paulo há uma semana, questionou oficialmente a Casa Civil há dez meses sobre o funcionamento das emendas parlamentares no Estado.
Em requerimento enviado em 22 de dezembro de 2010 – e recebido pelo protocolo da secretaria –, endereçado ao então secretário-chefe Luiz Antonio Guimarães Marrey, o parlamentar faz quatro perguntas sobre pontos que não lhe pareciam claros a respeito das emendas, como valores, autores, beneficiários, endereços de empresas e motivos das liberações de emendas.
Pela ordem, foram, na grafia original: “1 – Neste Governo (período Serra/Godman), foram liberados Emendas Parlamentares para Fundações, Obras, Sindicatos e Associações? 2 – Em caso positivo informar a este Parlamentar os valores, nome e endereços de tais entidades e a razão da liberação e quem as solicitou. 3 – Existiram para as entidades acima mencionadas liberações sem serem via Emendas Parlamentares? 4 – Em caso positivo quais e quem?”.
O chefe de gabinete de Barbiere, Jair Braz Pereira, confirmou que o documento foi efetivamente elaborado pelo deputado e afirmou que a Casa Civil nunca respondeu às perguntas do parlamentar. Pela legislação estadual, as secretarias de Estado têm 30 dias, prorrogáveis por mais 30, para responder aos questionamentos de deputados.
CPI. A bancada do PSDB na Assembleia decidiu nesta quarta-feira, 28, não assinar o pedido de CPI apresentado pelo PT para investigar as denúncias de Barbiere. O líder do partido na Casa, Orlando Morando, avalia que o Conselho de Ética é o órgão que primeiramente tem a competência de avaliar o caso.
“A proposta do PT tem cunho eminentemente político e não de apurar as denuncias feitas pelo deputado Roque Barbiere”, sustentou Morando. “Se o Conselho de Ética é o único órgão capaz de apurar denúncias feitas por ou contra deputado, não tem razão de você ter uma CPI. Pode se tornar a CPI do fim do mundo”.
A única possível dissidência da bancada é o deputado Carlos Bezerra, que estuda assinar a proposta petista desde que os termos sejam mudados. “Este é um pedido de CPI que é feito como peça político-partidária-eleitoral”, disse.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A Premiação do Metalúrgico em Paris




Lula consolida sua posição de liderança internacional. Foi na França e o evento a maior premiação acadêmica ofertada na Europa, a primeira para um latino-americano, E justamente para ele Luiz Inácio, aquele sujeito que a classe média cansou de ridicularizar e que, em particular, o príncipe dos sociólogos e descendente da estirpe de filhos de generais do exército brasileiro, FHC, expunha em rodinhas de jornalistas da Rede de Intrigas das 15 famílias brasileiras, as emissoras de TVs do País.
Quem diria, o sapo barbudo como o chamaram um dia, sendo ovacionado de pé por um auditório lotado pelos maiores acadêmicos do mundo, na França que é mais amada pelos intelectuais nativos que seu próprio País.
Deve doer demais ao sociólogo e aos carreiristas da USP aninhados no principal partido de oposição ver o metalúrgico ser alvo de elogios do tipo dos proferidos em discurso pelo representante da Instituição ofertante da honraria Richard Descoings: “o senhor tornou obrigatório que os líderes brasileiros passassem a ser ouvido sobre as principais questões do mundo...”
A dor decorre de merecido tapa na cara em quem chegou a duvidar da garra do homem comum brasileiro, trabalhador que gosta de uma cachaça e de futebol, de tomar os destinos do Brasil em suas próprias mãos e dar um “beijinho tchau tcahu” para essa elite embolorada que transita pelo circuito Jardins-Higienópolis-Campus da USP. Segue íntegra do artigo.


Aclamado, Lula recebe honoris causa em

Paris

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma recepção de pop star hoje, em Paris, durante a cerimônia de entrega do título de doutor honoris causa pelo Instituto de Estudos Políticos (Sciences-Po), o maior da França. Em seu discurso, o ex-chefe de Estado enalteceu o próprio mandato e multiplicou os conselhos aos líderes políticos da Europa, que atravessa uma forte crise econômica. Antes, durante e depois, Lula foi ovacionado por estudantes brasileiros, na mais calorosa recepção da escola desde Mikhail Gorbachev.
A cerimônia foi realizada do auditório do instituto, com a presença de acadêmicos franceses e de quatro ex-ministros de seu governo: José Dirceu, Luiz Dulci, Márcio Thomaz Bastos e Carlos Lupi. Vestido de toga, o ex-presidente chegou à sala por volta de 17h30min, acompanhado de uma batucada promovida por estudantes. Ao entrar no auditório, foi aplaudido em pé pela plateia, aos gritos de "Olé, Lula".
Em seguida, tornou-se o primeiro latino-americano a receber o título da Sciences-Po, já concedido a líderes políticos como o tcheco Vaclav Havel. Em seu discurso, o diretor do instituto, Richard Descoings, se disse "entusiasta" das conquistas obtidas pelo Brasil no mandato do petista. "O senhor lutou para que o Brasil alcançasse um novo patamar internacional", disse, completando: "Não é mais possível tratar de um assunto global sem que as autoridades brasileiras sejam consultadas".
Autor do "elogio" a Lula - o discurso em homenagem ao novo doutor -, o economista Jean-Claude Casanova, presidente da Fundação Nacional de Ciências Políticas, lamentou que a Europa não tenha um líder "de trajetória política tão iluminada". Casanova pediu ainda que Lula aproveitasse "sua viagem para dar conselhos aos europeus" sobre gestão de dívida, déficit e crescimento econômico.
Conselhos e euforia                                                                             
Lula aceitou o desafio e encarnou o conselheiro. Em um discurso de 40 minutos, citou avanços de seu governo, citando a criação de empregos, a redução da miséria, o aumento do salário mínimo e a criação do bolsa família e elogiou sua sucessora, Dilma Rousseff. "Não conheço um governo que tenha exercido a democracia como nós exercemos", afirmou, no tom ufanista que lhe é característico.
Então, lançou-se aos conselhos. Primeiro criticou "uma geração de líderes" mundiais que "passou muito tempo acreditando no mercado, em Reagan e Tatcher", e recomendou aos líderes da União Europeia que assumam as rédeas da crise com intervenções políticas, e não mais decisões econômicas. "Não é a hora de negar a política. A União Europeia é um patrimônio da humanidade", reiterou.
Na saída, estudantes cantaram a música Para não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré, e se acotovelaram aos gritos por fotos e autógrafos do ex-presidente, que não falou à imprensa. Impressionado com a euforia dos estudantes, Descoings comparou, em conversa com o Estado: "A última vez que vi isso foi com Gorbachev, há cinco ou seis anos. Mas com Lula foi ainda mais caloroso".
     

terça-feira, 13 de setembro de 2011

“Por que não eu?”


O professor Renato Janine Ribeiro, conhecido nos círculos políticos como pertencente ao grupo dos "nem contra nem a favor, mas muito pelo contrário desde que sobre uma boquinha” vem de formular no jornal Valor Econômico uma proposta no mínimo inusitada, mas de forte apelo para o público a quem fala: franquear candidatura a qualquer um que queira fazê-lo independentemente de vínculo com partidos políticos.

Numa argumentação que bem lembra a dos libertários de Boulevard dos anos 60, brandi a França (não poderia deixar de ser) como exemplo de país onde experimento teria sido um sucesso. Apenas esquecendo convenientemente de explicar como esse sistema funciona na prática entre seus admiráveis gauleses. Ao invés disso, prefere discorrer cansativamente sobre o “oligopólio” exercido pelos partidos sobre o direito do cidadão de candidatar-se.

Na ausência de maior aprofundamento por parte do professor resta a este leitor a tarefa de fornecer as informações necessárias a um entendimento mais desinteressado sobre o assunto. De fato qualquer cidadão pode candidatar-se na França dentro daquilo que os franceses chamam de processo de “parrainage”, em que o pretendente a cargo eletivo deve colher o apoio oficial de 500 apoiadores ou patronos que gozem da condição de “parrain”. Vale dizer, homens ou mulheres regularmente eleitos pelo voto direto para qualquer um dos coletivos de democracia representativa existentes no país, como o parlamento nacional, o parlamento europeu, o parlamento regional ou os conselhos municipais.

Há regras para o apoio dos patronos. È exigido que estes representem pelo menos 30 distritos eleitorais ou departamentos diferentes, devendo não mais que 10% deles ser ligados a um mesmo distrito. Um “parrain” pode dar seu apoio a apenas um único candidato e as assinaturas postas em seu favor, depois de dadas, não podem mais ser retiradas.

Qualquer eventual candidato que pretenda o apoio desses patronos deve fazê-lo no curto prazo de 3 semanas depois de anunciado o pleito. Nas eleições francesas de 2007 cerca de 40 pessoas disputaram o apoio de 43.000 “parrains” sendo que apenas 12 conseguiram efetivar seus registros perante a comissão eleitoral.

Como seria de esperar, o experimento julgado digno de reprodução pelo ilustre filósofo vem sendo objeto de viva controvérsia na França desde que parcela majoritária da comissão eleitoral considera-o favorecedor das forças políticas já estabelecidas e da chegada ao parlamento de candidatos com precário suporte na sociedade. Outra consideração levantada pela comissão é que o sistema de “parriage” estimula a inscrição de candidato em busca de notoriedade e de mais fácil ingresso na carreira política, devido ao financiamento público de campanhas que lhe é garantido.

Na faltaram no transcurso das eleições de 2007 na França patronos queixando-se na mídia de pressão indevida de candidatos ou de seus próprios partidos com o propósito de obtenção ou de recusa de apoios. O caso mais rumoroso envolveu o prefeito da localidade de Noron-la-Poterie, que acionou na justiça seu apoiado e potencial candidato Rachid Nekkaz a fim de que este lhe pagasse multa de EU$ 1.550 pela “parrainage” desperdiçada. Ao que Nekkaz alegou em sua defesa perante o Conselho Costitucional (espécie de STJ francês), que o insucesso da empreitada eleitoral se devera à pressão exercida sobre os patronos que deveriam também apoiá-lo e que por causa disso não o fizeram. A Corte considerou improcedentes as justificativas uma vez que “as supostas pressões não haviam exercido qualquer impacto sobre a legalidade do processo de registro”. Imagine-se a gozação que o assunto não rendeu na impiedosa mídia francesa.

As mazelas que envolvem o sistema da “parrainage” fazem com que discussão sobre sua continuidade (ou não) prossiga no país, entendendo o Conselho Eleitoral da França que o sistema geral de registro de candidaturas ali utilizado é suficientemente inclusivo para permitir que se repense o sistema de candidaturas avulsas; e que enquanto o legislativo nacional não se decidir sobre o assunto é recomendável uma maior transparência ao processo com a publicação dos nomes de todos aqueles que assinaram listas de patronagem, pondo fim à sua divulgação amostral.

Surpreende então que o intelectual tente nos vender como a mais recente inovação de práticas democráticas um sistema de oligarquias eleitorais que ao invés de permitir que se escape à força centrípeta dos partidos mais a reforça. Como no dito caipira, do alto de sua sapiência o professor ouviu o galo cantar e não soube onde. Como doutor em política, no entanto, deveria saber que o debate que se trava hoje nas principais democracias do mundo tem por foco o aprimoramento do sistema representativo no que diz respeito a como contrabalançar um maior controle e eficácia dos governos com a necessidade de assegurar mais ampla inclusão às vozes minoritárias da sociedade.

A questão central não é qual a melhor forma de enviar vedetes ao parlamento, mas como mudar-lhe a composição social de modo a dar representação sistemática a grupos sociais sub-representados em termos de classe, raça e gênero. No brasil, elegemos como presidente uma mulher embora no parlamento as mulheres sejam contadas nos dedos; falamos às bagas em inclusão social enquanto caçoamos dos cidadãos de baixa escolaridade que se apresentem às eleições; defendemos igualdade racial, mas reduzimos candidatos negros a pagodeiros. O mesmo pode ser dito com relação às clivagens de natureza regional, lingüística, étnica e religiosas que perpassam a sociedade brasileira.

Estudo de amplitude conduzido em meados da década dos anos 90 sobre reformas eleitorais na Europa aponta que a questão de como funcionam os sistemas eleitorais tem enorme importância para a definição do grau de inserção de minorias ao processo de tomada de decisão nas sociedades, pondo em relevo aspectos que nem sempre estão em linha com conceitos caros à democracia representativa.

Os sistemas proporcionais – baseados em listas partidárias – foram considerados por esses estudos como os mais aptos a refletir a real composição do eleitorado (Morris 1995) em vista de facultarem um maior incentivo à inclusão de representantes de minorias, na perspectiva de maximização de apoios eleitorais ao partido. Da mesma forma, assinala o estudo, medidas afirmativas em favor de minorias são mais facilmente implantadas em processos de recrutamento de candidatos realizados sob critério de listas fechadas.

Voltando ao loquaz professor e descartando sua falta de pontaria, não seria difícil concluir o que o teria motivado a disparar o dardo na direção errada. Arriscaria a dizer que foi o personalismo pouco mascarado de alguém que considera a hipótese de vir a tornar-se político de modo fácil, recorrendo à ceva de ex-alunos nas redes sociais e ao discurso de uma só frase: “por que não eu?”