domingo, 30 de outubro de 2011

Na Província Tudo Pode



Para quem acha só existirem pizzarias boas em Brasília, acaba de ganhar notoriedade uma de fazer inveja a qualquer indignado com as pizzas brotinhos assadas no Ministério do Esporte.
A Assembléia Legislativa do Estado tirou do forno o encerramento  da investigação do esquema de emendas que levou o denunciante deputado da base do governo paulista  a comparar o comércio, não a uma casa de forneados, mas a um verdadeiro camelódromo.
Segundo o mesmo deputado, recebem regularmente comissões um terço dos parlamentares ligados ao palácio dos Bandeirantes, As quais são apuradas a um valor de 10 a 20% de 2 milhões de reais reservados a cada deputado daquela Casa Legislativa a título de direitos sobre recursos do orçamento. 
Ilustrativo do sentido instrumental da prática é o fato de que o preferido para disputar as eleições pelo PSDB ano que vem, Bruno Covas, haver movimentado 8 milhões de reais em emendas ao orçamento, com destinação desconhecida.
Alertar para a chaminé fumegante da pizzaria em São Paulo é importante porque esclarece que se se quer efetivamente acabar com a corrupção no País, o cidadão não pode voltar seus olhos apenas numa única direção, a do planalto, mas deve também dirigi-los também ao chão que lhe é mais próxomo Como falar em ética no país quando as Instituições regionais transformaram-se em bolsas de valores de risco zero paara deputados e governantes?
Ao contrário do que se passou no governo federal, em que ministros acusados de improbidade tiveram os rostos iluminados pelos holofotes da imprensa e foram sistematicamente afastados de seus cargos, no Estado de São Paulo os episódios de malversação mal chegam a alcançar as páginas internas dos jornais e se o fazem são solenemente ignorados por todos aqueles que deveriam investigá-los.
Chegou-se a uma situação dessas porque 20 anos sem alternância de poder no plano estadual produziram a sensação de que tudo podem os senhores do castelo, já que a cada ciclo de governo há apenas revezamento de cadeiras entre colegas de partido. Que embora às turras uns com os outros, conservam o pacto de silêncio que lhes assegura o forno sempre aceso.
Ainda desta vez, depois de tantos outros casos mandados ao assamento, o escândalo da Assembléia Legislativa, ou propino-duto paulista como ficou conhecido, terá menos chance de cair no esquecimento. Pelo simples fato de haver se tornado público no momento em que a ética vem levando manifestantes às ruas.
Ficou o registro do acontecimento a despeito do fato de que o silêncio da mídia e o braço forte do governo continuem a lograr êxito em conservar o clima de política cafeeira no maior Estado do Brasil.

O fim da caça às bruxas



A notícia da doença de Lula não poderia vir em pior hora para a oposição ao governo Dilma. Atolada que está em conflitos internos, tudo de que menos precisavam os que compartilham do ódio ao ex-presidente e ao que ele politicamente representa era que parcelas majoritárias do eleitorado passassem a vê-lo com admirada comiseração.
Lula se agiganta moralmente com a doença e na mesma proporção fecham-se as fissuras artificialmente construídas que os opositores pretendiam transformar em ruptura entre ele e a presidenta que o sucedeu.
O estado de saúde de Lula interrompe o jogo político a que se dedicavam adversários e imprensa e que consistia em fazer pespegar ao petista a pecha de defensor de ministros corruptos impostos à sucessora e, a partir disso, projetar um distanciamento midiático entre ambos.
Torna-se impossível agora apagar o impacto da solidariedade que haverá de unir ambos numa renovada luta pela sobrevivência. A eles caberá doravante a iniciativa de alternar os papéis de auxiliado e auxiliador, esvaziando o ânimo das bases eleitorais que se movimentavam para impor uma agenda com menor apelo emocional centrada no combate à corrupção.
A despeito das manifestações de um tipo de crítica mais raivosa que mal consegue conter o júbilo por antecipar o que julga ser o fim de uma liderança que guindou outras forças políticas ao comando da nação, o fato é que essa modalidade de discurso deverá manter-se confinada a bolsões mais restritos das classes médias elitizadas, incapaz de contagiar a sentimentalidade cristã mais geral e muito menos setores mais predispostos a conferir uma espécie de conotação metafísica à pregação política de Lula.
Ao contrário do que supõem analistas mais afoitos, ficará mais fácil e não mais difícil a caminhada das esquerdas nas eleições municipais do próximo ano, podendo até mesmo ser interditada a discussão de temas de natureza moral que seriam ao gosto das forças de oposição e que passariam necessariamente pela culpabilização de quem encontra-se agora preservado pelo respeito e reconhecimento devido a todos os que lutam pela vida.
Exatamente agora quando mídia e oposição articulavam-se em torno do eixo anticorrupção ou do movimento "cansei de novo". Mas política é mesmo assim, com freqüência deve-se recomeçar do zero.   

sábado, 29 de outubro de 2011

A doença de Lula, mandem coroa de flores à oposição




Lula está doente. E isso é um fato político, para além dos aspectos humanos e até éticos implicados no acontecimento. Avaliar-lhe, pois, as implicações é tarefa que se coloca desde já a todos que estejam preocupados com os destinos do país, quaisquer que sejam as direções para as quais as preferências apontem.
De partida é preciso que se diga que a condição de doente sob risco fatal que cerca Lula coloca-o em posição privilegiada em relação a adversários. A doença não é apenas agente de estigmas de natureza moral que favoreçam a maior aceitação do doente, mas estado particular da existência que identificada no outro o faz portador de um sofrimento imediatamente transportado a nós mesmos. Como se a fragilidade imanente ao humano tornasse-nos menos sujeitos à sustentação de barreiras artificiais.
É nesse sentido que aquele quem aborda a doença alheia, por um processo humano de identificação, perceba a si mesmo vulnerável. Mais que um fenômeno do âmbito do psiquismo a doença é tabu que torna a fala do adoentado portadora de uma mensagem a cujo sentido velado os ouvidos não podem fugir.
Foi essa dimensão do agigantamento do vulto e amplificação da voz do doente, que deu a Dilma Russef 50% dos resultados que veio a colher nas urnas. Aspecto que, também por tabu, jamais foi mencionado nas avaliações de todos os analistas políticos. O resto pode ser atribuído à Lula e até à sua condição de mulher e ex-guerrilheira, em menor grau. Sofrida, por essa razão mais humana e ainda mais próxima, o episódio do enfrentamento do câncer deu à Dilma uma dimensão que até poucos meses antes não tinha.
Que se prepare, pois, a oposição antes de festejar o mal de Lula. Não porque sua doença seja perfeitamente tratável e a sobrevida média para os tipos de cânceres mais letais (que não é seu caso) seja de quase 10 anos. Deve acautelar-se a oposição contra a possibilidade de que o carisma de Lula venha a ganhar conotações de santidade, no sentido da transposição à sacralidade do discurso a que já se dera o nome de lulismo.
Não por outra razão o presidente do principal partido associado, no imaginário popular, ao anti-lulismo ter se apressado em manifestar suas “sinceras” preocupações com o estado de saúde do, pasmem, agora “presidente Lula”.
Foi nesse caldo de cultura, depois de haver dado ensejo ao surgimento de novas camadas sociais nos quadros de processo de crescimento excludente das respectivas economias, que se forjaram como líderes históricos ainda em vida também Domingos Perón, Getúlio Vargas e mais recentemente Néstor Kirchner na Argentina.

Violência Policial na USP


Conferências internacionais sobre mudanças no estatuto autoritário do controle da maconha rende boas viagens, espaço na mídia e também um bom mote eleitoral para políticos aproximarem-se da juventude. Mas lidar com o problema real do uso da maconha entre jovens nos governos dirigidos por esses políticos parece ser coisa muito diferente.
Não que se defenda o uso da maconha, mas o insólito da prisão de estudantes dentro do campus da Universidade de São Paulo e, mais que isso, a forte repressão a jovens que não deveriam passar dos 23 anos de idade, perpetrada pelo governo cujo partido tem como presidente o principal proponente da descriminalização da maconha, soa muito estranho.
Mas pensemos: se essa personalidade sustenta que a lei seja modificada para refletir as mudanças dos tempos e o governador manda descer o pau sobre aqueles que não respeitam os tempos da lei, a dissonância entre ambos só pode exprimir a mais absoluta falta de seriedade no que respeita ao debate proposto à sociedade.
Vale dizer, o chamamento à revisão das leis não traduz atitude séria. Explora-se a flexibilização da lei para angariar votos entre os extratos mais jovens do eleitorado ao mesmo tempo em que se desce o cacete em nome do voto garantido do eleitorado conservador.
É a tática eleitoreira do “morde e sopra”: FHC fantástico seduz os jovens com um discurso adocicado de tolerância e a força policial assegura que a velha ordem não seja violada. Em proveito do próprio aparato policial que vê reforçada sua lucrativa posição de mediador entre o tráfico e os jovens consumidores. Afinal a máquina oculta de fazer dinheiro não pode parar, não até as próximas eleições.   

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

15 famílias controlam o que você vê




Desde que o rádio invadiu os lares brasileiros em 7 de setembro de 1922 e iniciou-se a era de comunicação de massa no Brasil, a estabilidade do regime democrático em seus epsódicos períodos de existência ficou como que refém da boa vontade dos capitães das empresas de radiodifusão.
O toque de Midas conferido a essas empresas veio com o decreto de Getúlio Vargas de 1932 permitindo que as mesmas pudessem capitalizar-se por meio de anúncios pagos.
Começava então a relação carnal entre famílias detentoras de concessões públicas de comunicação e diferentes grupos políticos que controlariam o poder no País daí em diante. A leitura de discursos oficiais da revolução constitucionalista de 1932 pelo radialista César Ladeira na rádio Record, marcaria o início dessa relação mutuamente proveitosa para os parceiros.
Percebendo os riscos que um controle estritamente privado dos novos meios de comunicação poderia representar para os interesses aninhados no Estado, Getúlio Vargas encampou em 1940 a rádio Nacional para servir de porta-voz oficiosa do regime. Não demorariam a entrar no ar os grandes instrumentos de formação da opinião pública, o Repórter Esso em 1941 na Nacional e o Grande Jornal Falado Tupi em 1942 que, com nome ligeiramente mudado, permaneceu no ar até 1977.
A rádio Bandeirantes nasceria de uma manobra do ex-governador Adhemar de Barros. Após ter adquirido reservadamente a emissora, guindou ao seu controle a família Saad para que desse cobertura aos seus planos (realizados) de fazer Lucas Nogueira Garcez governador do Estado de São Paulo.
No Rio de Janeiro a veiculação do grande Jornal Fluminense, sustentado por um grupo de prefeitos, daria ensejo aos negócios da família Marinho, depois fortalecidos com a desagregação do getulismo a que o jornalista fizera oposição nos anos 50.
Com o golpe militar de 1964 e o fechamento das emissoras alinhadas à legalidade, como a Rádio Mayrink Veiga e a Rádio Nacional, é aprofundado o declínio do rádio e iniciada a ascensão da televisão como instrumento de poder e de hegemonia política.
Durante o regime militar as concessões obedeceram a critérios clientelísticos, que não foram abandonados na redemocratização. Juntou-se ao grupo das poucas famílias beneficiadas por concessões de emissoras de rádio e de televisão, políticos das diferentes esferas do poder que mantinham suas concessões ocultas em nome de parentes e de testas de ferro. Foram os interesses alinhavados nesse ambiente que permitiram à rede Globo de Televisão fazer presidente da República o proprietário de uma de suas afiliadas, o alagoano Collor de Melo.
O coronelismo eletrônico posto em prática por esse jogo de conveniências não diminuiu senão que fortaleceu-se com o fim do regime militar, uma vez que a cada embate em que estavam em xeque interesses do governo era oferecido aos grupos aliados um número maior de concessões a fim de compensar apoios em votações no Congresso.
Foi assim que no governo José Sarney foram feitas 1080 concessões de rádios e televisões. Dessas, de acordo com estudos dos pesquisadores Costa e Brener, 168 concedidas a 91 políticos com o objetivo de fazer aprovar a emenda que conferiu 5 anos de mandato àquele governante.
No governo Fernando Henrique Cardoso a prática foi mantida visando o apoio no Congresso à emenda da reeleição. No primeiro mandato de FHC foram concedidas 1848 licenças para retransmissoras de televisão, distribuídas a 268 entidades controladas por 87 políticos (Lima e Caparelli, 2004). Tais concessões foram feitas sem licitação ou apreciação pelo Congresso, visto que foram entregues mediante meras portarias baixadas pelo então ministro das comunicações Sérgio Motta.
Pelo lado do enclave empresarial de detentores de concessões, 15 famílias consolidaram seu poder sobre os meios de comunicação do país, controlando 8 principais emissoras: em âmbito nacional a família Marinho (Rede Globo), Saad (Rede Bandeirantes) e Abravanel (SBT). Em plano regional as famílias Sirotsky (RBS, no Sul), Daou (TV Amazonas, no norte), Jereissati (TV Verdes Mares, no Nordeste), Zahran (TV Centroeste, em Mato Grosso), Câmara (TV Anhanguera). A maioria das concessões locais são afiliadas às empresas dessas famílias, em particular a Marinho/Abravanel e são controladas por políticos.
O pesquisador Squirra (1999) chama essa situação de latifúndio do audiovisual, afirmando que a situação de concentração da radiodifusão no País lembra a época das Capitanias Hereditárias, já que um grupo de donatários “dividiu o espectro de canais como se fosse capitanias que, por não mudarem de mãos, tornou-se verdadeiro Tordesilhas eletrônico”.
Não bastasse o domínio que esse pequeno grupo de famílias e de políticos exerce sobre os veículos e comunicação, seu poder é ainda amplificado pelo controle que têm dos demais elos da cadeia de produção do audiovisual no País. Ao mesmo tempo em que produzem programas para televisão, detêm os meios para divulgá-los em jornais, produzir trilhas sonoras e promovê-los em jornais do país. Quem não cansou de ver e ouvir cada uma dessas emissoras falando de si mesmas nos mais diferentes meios sob seu controle?
Contribuem para esse grau de concentração tanto as sinergias produzidas pelas novas mídias que permitem maior integração entre cada um desses veículos quanto um tipo de operação em que o meio sucedente dá apoio ao antecedente, numa rede auto-alimentada de reforço mútuo. Uma espécie de Santo Graal do marketing gratuito. Os estudiosos Lima e Capelli não hesitam em afirmar que “somos o paraíso da radiodifusão desregulamentada, submetida apenas às regras de mercado e não as da cidadania”.
O resultado é que com a acoplagem do poder econômico das grandes corporações anunciantes ao poder de influência das empresas de comunicação, a mídia acabou por se tornar instrumento de opressão simbólica ao invés de instrumento plural da exposição dos múltiplos interesses presentes na sociedade democrática.
Mauro Porto em sua celebrada tese de doutorado defendida nos Estados Unidos em 2007 destaca que o funcionamento efetivo da democracia está atrelado à capacidade de deliberação dos cidadãos sobre assuntos que dizem respeito ao destino de sua comunidade e de seu País; e que essa capacidade depende do modo pelo qual os cidadãos mobilizam os conteúdos da mídia como atalhos para a compreensão dos processos políticos em que estão envolvidos.
Dá como exemplo no Brasil o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão, salientando o papel crucial que esse informativo teve, e ainda tem, na deliberação do indivíduo sobre os temas políticos sobre os quais deve a cada eleição decidir
Alerta, desse modo, para a necessidade de que se questione até que ponto os programas noticiosos postos em circulação na TV não representariam interpretações parciais dos fatos noticiados, que interferem no modo como os cidadãos compreendem e formam suas preferências a respeito de temas de interesse público. 
Os resultados empíricos apresentados no referido estudo, com base em experimentos controlados levados a efeito junto a 2 grupos diferentes telespectadores, sendo um deles de controle, confirmaram objetivamente que os enquadramentos apresentados pelo Jornal Nacional interferem de forma significativa no modo pelo qual a audiência faz sentido da realidade política que a cerca.
As conclusões constituem um já bastante reverberado alerta: o conteúdo diversificado da mídia é determinante para a qualidade da democracia e pré-condição para o estabelecimento de uma opinião pública consistente e plural.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O líquor espinhal da corrupção



Foi revelado o segredo de polichinelo que explica a sólida maioria do governo estadual na Assembléia Legislativa: o cabresto das emendas individuais ao orçamento que concedem aos deputados que seguem o governo nas matérias de seu interesse um quinhão de 2 milhões de reais cada.
Se isso não for prática evidente de corrupção e compra sistemática de consciências então não se sabe mais o que significam tais conceitos.
Mais que um desvio, os fatos trazidos a conhecimento público traduzem esbulho dos mecanismos que asseguram o funcionamento da democracia representativa, já que a representação atribuída pelo voto nas mais diferentes regiões do Estado de São Paulo é subvertida, via a troca dos legítimos interesses da população pelo aquinhoamento com um punhado dinheiro para obras paroquiais.
Que não se fale, por evidente, da margem que isso proporciona ao enriquecimento ilícito não só dos representantes do eleitorado mas de agentes públicos, que não teriam porque deixar de participar das caixinhas que organizam a distribuição do botim extraído aos cofres públicos.
Corrompem-se também os fornecedores do Estado, desde que empreiteiras e pequenas construtoras são levadas a atuar como intermediárias no esquema, tomando dinheiro das municipalidades para levar aos deputados e demais agentes públicos que autorizam a liberação de valores junto à Fazenda do Estado.
Corrompido o poder legislativo e o coração do poder executivo, o vírus dessa verdadeira AIDS da moralidade pública, alcança o poder municipal pelo fato de obrigatoriamente envolver o prefeito e a câmara municipal no processo de arrecadação de propinas.
Mas como se chega a uma situação dessas de tamanho comprometimento das práticas republicanas de se fazer política e de gerir coisa pública? Fácil: quando alguns poucos se arrogam o monopólio da moralidade e fazem mercadologicamente do próprio nome e do partido político, credenciais bastantes para dispensar a vigência de quaisquer mecanismos de controle. Como no caso do governo paulista que se julga infenso a investigações de CPIs porque constituído por acusadores de primeira hora.
Erguem-se bustos à honestidade para que mantenham-se vivos os ícones de santidade que permitem na penumbra a ação malversadora de recursos públicos. Mário Covas, por exemplo.

Que Santo é esse cujo braço direito e chefe da casa civil durante seu governo, Robson Marinho, vem sendo julgado pelo estado suíço, como Maluf, por roubo comprovado do metrô paulista  e da companhia de trens urbanos em conluio com a empresa francesa de equipamentos Alstom? 

Que não se alega a condição de desencarnado para popupar o suspeito. Caso a morte elevasse alguém à santidade, Bin Laden seria santo também entre nós e não apenas entre seus seguidores fanáticos.
É porque havia se erigido um falso mito é que também foi possível a tentativa de conduzir a sucessão na cidade de São Paulo recorrendo-se a uma espécie de hagiografia (história dos santos) perversa, em que se buscava colocar na maior prefeitura do país o neto do mito, que agora se sabe tinha o busto feito com barro de esgoto da companhia saneamento.
Bruno Covas foi pilhado na estória do propino-duto não com dotes de 2 milhoes de emendas parlamentares, mas de 8 milhões. Quatro vezez mais que a maioria. E assim com quatro vezes mais chances de alavancar recursos para sua natimorta candidatura.

 Pior para a família que não vai poder reproduzir no neto a saga do avô. Melhor para a cidadania, que livrou-se precocemente de um político suspeito.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Agora somos todos moradores de rua




A designação dos fenômenos sociais muda na medida em que mudam a visão que temos deles. Um caso digno de nota é o modo como temos nos referido nos últimos 30 ou 40 anos ao que agora chamamos de população em situação de rua.
A referência ao termo "situação” busca associar ao indivíduo que vive nas ruas a noção de que o modo de vida é fruto de fatalidade motivada por alguma insuficiência de natureza pessoal: a falta de vontade de trabalhar, a prática de vícios, a existência de perturbações mentais ou coisas que nos acostumamos por tanto tempo a atribuir àqueles que não compartilham do nosso modo convencional de viver.
Dessa época data o hábito de disciplinar as crianças fazendo-se menção a um possível seqüestro pelo “homem do saco”, localizando no objeto de que faz uso o despossuído, para guardar os poucos bens que carrega consigo, o instrumento de agressões à integridade das pessoas com quem a rigor deveria conviver.
Tempo em que os adultos chamavam aqueles que perambulavam pelas ruas de “mendigos”, com o que se lhes buscava atribuir a condição de quem vive de esmolas supostamente por falha de caráter ou limitação física para o trabalho, numa referência a uma concepção culturalmente estabelecida de produzir socialmente que envolvia o ir e vir da fábrica ou do escritório e principalmente a submissão a um regramento que lhes era de todo próprio.
Mas o que seria hoje ser morador em situação de rua  quando multidões acorrem às praças e logradouros públicos para ali habitar por prazo indeterminado em protesto contra as condições de injustiças limites da nossa sociedade organizada segundo a lógica implacável do lucro e da competência pessoal para gerar o que chamam de agregação de valor?
Os movimentos ocupem Nova Iorque, Roma, Londres, com suas tendas ao ar livre e sacos de dormir espalhados pelas calçadas podem ser considerados uma adesão ao modo de existir de amplos contingentes populacionais que nas maiores cidades do mundo optaram por viver com a liberdade dos pombos muito antes que qualquer movimento contestatório reproduzisse seu modo de colocarem-se diante da sociedade constituída para reagir ao empobrecimento progressivo.
O desespero das autoridades por demover os manifestantes dessa decisão apenas confirma que tocaram numa ferida do sistema, que agora se espraia com a percepção daquilo que a sociedade não queria enxergar, porque se assim o fizesse seu próprio modo de vida se revelaria o que é: pura opção.
Opção por submeter-se aos corruptos eleitos por processos fraudados, opção por entregar a saúde e o tempo de viver com as pessoas queridas aos dirigentes de empresas que a cada final de ano transformam os ganhos obtidos coma supressão do necessário para a felicidade de muitos em carrões importados, que nem emprego criam em seu próprio país.
Opção por submeter-se à ideologia das telenovelas, dos comentaristas de telejornais que falam com a autoridade daqueles que possuem poder sobre nossos destinos e nossas escolhas. Opção por submeter-se à violência do policial, à arrogância do fiscal e ao tratamento de boiada de um sistema de transportes concebido para massa, para o povão como disse outro dia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Com as novas formas de protestos somos todos agora moradores em situação de rua. E isso nunca será dito no telejornal das 8. Não enquanto nós mesmos não o percebermos.   
     

O estrategista Kassab



Se não brilha como gestor, Kassab demonstra ser gênio como estrategista político. Olha só o que homem fez: percebendo ruir o edifício da direita brasileira com o escândalo do partido dos Democratas (DEM) em Brasília, deixou no madeirame a escoragem do conservadorismo brasileiro, com a malograda campanha de José Serra à presidência, e saiu a campo para formar novo partido.
O que parecia improvável ganhou conotação de verdadeiro portal em direção a uma nova configuração da política brasileira para todos aqueles que, apartados dos cofres federais a penosos 8 anos, enxergaram na dúplice tragédia  - a do governo do distrito federal e a de Serra – a senha para fugir à companhia de agrupamentos político que se tornaram pouco menos que aves de repetição.
Contra sua iniciativa mobilizaram-se os aliados e partidários de ontem vendo o perigo que lhes rondava à volta. E se logrou seu intento político o foi porque contou com o apoio velado do governo federal tanto na mobilização de partidários a fim de ver suprido os quadros de parlamentares que necessitava para o preenchimento dos requisitos legais exigidos quanto na mudança de tendências do Tribunal Regional Eleitoral  pouco favorável inicialmente a migrações partidárias.
Mas sua última grande façanha, coroando o primeiro êxito de fazer zarpar um grande navio de centro direita sob as barbas dos grande partidos conservadores brasileiros, foi  a de haver cooptado Henrique Meirelles, ex-presidente do banco central,  e tê-lo lançado simultaneamente ao nome de Guilherme Afif Domingues, vice-governador de São Paulo, à disputa pela prefeitura municipal ano que vem.
O movimento foi de enxadrista porque, com Meireles, Kassab traz para junto de si todo aparato político do governo federal e do lulismo, seguramente 60% do PT hoje, ao mesmo tempo em que deixa apavorada as hostes tucanas, que sabem que Meireles na Prefeitura corresponde à virtual derrota da recondução de Alckmin ao governo estadual e, com ela, a antecipada inviabilização do retorno do partido ao governo federal.
Com isso fez com que rapidamente os figurões tucanos rifassem todos os seus pré- candidatos, deixando Bruninho Covas pendurado no prego do propino-duto da Assembléia Legislativa e os demais em compasso de espera, na expectativa da iniludível benção das lideranças. Que querem agora Afif na exata medida em que veêm o vulto de Lula por detrás da imagem de competência supra-partidária de Meirelles.
Kassab joga para imobilizar num primeiro momento tucanos, arrancando-lhes em seguida o que nunca imaginaram ceder: a cabeça de chapa para uma disputa majoritária. Isso, que é desejo das lideranças e ato cedição para a militância, principalmente depois que o próprio governador recusou a dobradinha há 3 anos atrás, deverá rasgar de alto a baixo a unidade partidária já esgarçada com as desavenças entre Serra e Alckmin.
Por fim Kassab irá de Meirelles com o apoio de partidos da base do governo federal, como PSB e PDT, conseguindo com que o governo federal não mova sua máquina avassaladora contra a candidatura gestada pelo Kassabismo.
Quanto à candidatura petista às eleições municipais, deixará de ser uma investida de vida e morte e servirá mais para mostrar uma cara nova para as eleições futuras. Marta no fim recuará, já que a esta altura joga por um ministério no governo federal , bem orientada que está pelo experimentado ex-quercista que é seu ex-marido.
Lula no fim vencerá, seja com Hadad seja com Meirelles e poderá pavimentar sua candidatura ao Governo do Estado em 2014, ponte ao Governo Federal em 2018. Os corinthianos, a periferia e a nova classe média vassoureira e dilmista o levaram ao bandeirantes.

Os irmãos cara de pau




Uma piada esses economistas de oposição, um cômico em particular esse tal Mendonção. Não lembram? Aquele que  ministro da comunicação no governo Fernando Henrique Cardoso, acusado de agir pessoalmente na montagem de consórcios que levaram por ninharia concessões milionárias na exploração de telefonia, foi pilhado ao telefone dizendo ao seu irmão, dirigente do BNDES, que o governo havia agido “no limite da responsabilidade” no processo de privatizações.
A declaração deu investigação na polícia federal e mereceu capa da Veja, o que levou os irmãos Mendonça de Barros, Luiz Carlos (o Mendonção) e José Roberto, a serem demitidos do governo de cujo presidente eram amigos pessoais.

De lá pra cá os manos passaram a ser mais cautelosos e viraram o que se chama “homens de mercado”. Abriram uma corretora em nome dos respectivos filhos e comparecem com regularidade pendular à mídia para perorarem sempre em linha contrária do que são as medidas do Governo.
Se o Governo porventura aumenta os juros, os Mendonça de Barros gritam à janela que deveria ter baixado. Se o Governo os abaixa lá está a família de novo a clamar que a medida foi erro crasso.
No momento, depois de terem circulado por todas as bancadas de telejornais alardeando a desindustrialização do Brasil e seu retorno ao estágio de grande fazenda da primeira república, dão meia volta e dizem que o Brasil retrocedeu à época do regime militar fechando a economia às importações, numa clara ofensa aos ditames da Organização Mundial de Comércio.
De brasileiros assim Miami, para não dizer o inferno, está cheio. Os irmãos Mendonça de Barros após haverem enriquecido como “coordenadores de consórcios de telefonia” e terem captado clientes para a empresa comandada pelos filhos quando a frente do governo vêm arvorarem-se agora em grilos falantes da consciência nacional.
Desmoralizados com o enorme cortejo de vaticínios que não se cumpriram, esses nossos brasileiros tão bom de bicos dedicam-se no momento a ganhar um dinheirinho com os “injustiçados” importadores de carros subfaturados da Ásia, enquanto repetem a exaustão que o Governo faz mal de “preparar-se para uma economia de guerra” por causa da crise, porque o que vem por aí é um período de bonança.
Nesse sentido seria uma “aventura” baixar os juros em razão de que os bons ventos internacionais (imaginem) fariam com que a inflação disparasse e a grande conquista do governo de que fizeram parte, a estabilização dos preços (sempre ela) estaria perdida para sempre.
Essa família de matracas a serviço de quem lhes pague mais deveria calar-se e assumir de uma vez por todas que não fazem análise desinteressada, que casam o tempo inteiro seus interesses de consultores de especuladores com a de repetidores de simplórios discursos oposicionista.
Discursos que colavam no tempo em que os dois expeliam perdigotos nos artigos da extinta Revista de Economia Política nos tempos do regime militar, mas que hoje giram em falso por desconsiderarem a possibilidade de que qualquer baboseira possa ser escrutinizada pela livre circulação de idéias na rede mundial de computadores.
Fiquemos combinados, senhores Mendonça: tudo que vier refletir a condução da política econômica vossas senhorias são contra. Certo? Então deixem as pessoas inteligentes em paz

sábado, 15 de outubro de 2011

O Governo das Coisas






Entregar o governo nas mãos das grandes corporações alegando o dogma da eficiência ou da necessidade da formação mais rápida de riquezas, constitui o elemento chave na desarticulação da sociedade, na explicação do aumento da pobreza e do agravamento da situação de saúde da população que hoje estarrece a todos nós.

Ano após ano, partidos de extração liberal comparecem às eleições dizendo que se vitoriosos consumiremos mais e que as virtudes de uma economia comandada pelo mercado haverá de nos levar à redenção.

Hoje, por exemplo, em São Paulo onde esse tipo de governo baseado na hegemonia das empresas tem lugar há quase um quarto de século, colhemos os resultados mais perversos e mais representativos desse tipo de mentalidade política. Pago com o aviltamento da vida trazido por uma uma compreensão de mundo que reduz homens a relações de consumo.

Um governo a serviço de empresas é um governo que privatiza a saúde na forma de serviços transferidos a cooperativas, que privatiza os tansporte a fim de que se desincumbam dos investimentos que deles se espera na melhoria da mobilidade interna à cidade, que não se importam com educação pública de qualidade porque gente ligada às escolas privadas comanda as instância de governo resposáveis, que deixa a segurança à míngua pelo fato de julgar que penitenciárias resolverão o problema de populações marginalizadas.

No momento em que o mundo se volta para a constituição de governos que tenham o homem no centro das suas preocupações é preciso que nos perguntemos sobre o porquê de assistirmos à contínua concentração de renda nas grandes cidades do país e a razão de cracolâncias nos centros urbanos, ao mesmo tempo em que programas bem defindos conseguem  quase erradicar a pobreza nos rincões mais longinquos no país.

Há algo de muito errado com os partidos que querem entregar o país à exploração privada. Quando o mundo se levanta contra a repartição desigual das riquezas e o desastre natural que a ordem comandada por interesses privados sobre o Estado produziu, deve-se não perder de vista que os que desse modo pensam tem nome e reunem-se em partidos políticos perfeitamente identificáveis.

É preciso o quanto antes por o homem no centro da vida política da nação, substituindo-se o governo das coisas pelo governos dos cidadãos. Só assim se dará paradeiro à degradação da vida, do ambiente natural e da perda do que nos trouxe até o presente nessa longa jornada história adentro: a capacidade de nos vermos uns nos outro e de nos sentirmos imortalizados nas gerações futuras.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Diferenças geracionais no trabalho



Há pouco tempo atrás pude experimentar situação de trabalho em importante projeto de obra de infraestrutura em que as equipes encontravam-se sob comando de um septuagenário . O homem era um feixe de todas as emoções do que fora no passado e de como se via hoje em relação aos demais.
Não se tratava exatamente de intolerância a marca de seu comportamento mas da continuada demonstração de um padrão de emocionalidade exacerbada num homem inconformado com a perda de domínio dos códigos , abordagens e leituras do mundo que tinham os mais jovens à sua volta e que por isso mesmo respondia a qualquer gesto não comandado com externalizações emocionais que mais pareciam expressar uma única coisa: a visão de de que o mundo atual gerara um bando de incompetentes  aos quais não seria sua tarefa “preparar”.
O personagem, com passar do tempo produziu no ambiente de trabalho como que uma guerra de gerações. O pessoal da faixa dos 20 já não falava com o pessoal da faixa dos 40 que já não falava com o pessoal da faixa dos 60. Um verdadeiro colapso da sociabilidade interna, que tinha na figura pusilânime do chefe o único elemento de coesão.
Não é preciso dizer dos prejuízos trazidos ao trabalho. Erros atrás de erros produzidos pelo não estabelecimento de canais informais de comunicação, que tornavam de todo modo inútil os canais formais.
A dúvida que me acometeu naquela circunstância foi a de que se não seria o cataclisma da interaçao entre as pessoas ao invés de resultado da personalidade de um indivíduo um problema relacionado mesmo às dificuldades intrínsicas de relacionamento no ambiente de trabalho de pessoas em diferentes estágios etários.
A reposta à indagação surge agora de pesquisa realizada, pela American Academy of Management, com 8 mil profissionais de 60 companhias americanas, buscando averiguar até que ponto e em que circunstâncias a diferença de idade interfere no relacionamento de trabalho entre as pessoas.
Os resultados da pesquisa mostraram de maneira inconteste que diferenças de idade interferem sim, e muito, no grau de entrosamento e integração alcançado pelas equipes dos diferentes projetos das empresas pesquisadas.
Detalhe interessante da pesquisa diz respeito à constatação feita de que a correlação positiva entre diferenciais de idade, entrosamento e satisfação com o trabalho dependeria mais do grau com que os diferentes membros da equipe manifestavam suas próprias emocões no dia a dia do que das diferenças de idade em si.
Ambientes em que a cultura da organização tinha por salutar a manifestação sem reparos da alternância de estados de ânimo pessoais, tendiam a apresentar também maior grau de conflito, insatisfação profissional e perda da eficácia da comunicação interpessoal.
Contrariamente, ambientes pautados pelo tratamento mais formal entre as pessoas, limitando-se a manifestação das emoções pessoais e a liberdade na forma de apresentação individual (como por exemplo, uso de barba e corte cabelo) ao requerido pela harmonização de costumes, tendiam a ser marcados por maior harmonia nos relacionamentos e um diálogo intergeracional de melhor qualidade.
No mesmo diapasão, a pesquisa mostrou que organizações que dispunham de equipes compostas por profissionais de diferentes idades eram tão mais produtivas quanto mais bem definidos fossem os protocolos de atitudes com relação à forma de demonstrar emoções pessoais. A cordialidade e a formalidade constituir-se-iam, desse modo, na garantia de um ambiente com baixos níveis de "stress" nos relacionamentos entre as pessoas.
O que resulta da pesquisa é que o proveito obtido em fundir a experiência dos mais velhos com o ânimo e a criatividade dos mais jovens apenas produzirá efeito na hipótese da haver elevado grau de formalização (certamente não exagerado) das relações entre indivíduos de diferentes idades, impedindo-se, desse modo, o comprometimento da cooperação esperada por uma natural tendência de que cada grupo etário julgar a si mesmo mais merecedor de posições de influência e de destaque na execução do projeto.

Que Nossa Senhora da Boa Morte os ajude!



Com o isolamento crescente de Serra no PSDB, atritado que está com Fernando Henrique Cardoso, que não lhe dá mais bola, e acuado por Alckmin que não lhe deixa mais respirar nos espaços restritos destinados a ele e a seu grupo no governo estadual, o derrotado candidato presidencial às eleições pelas oposições em 2010 não vislumbra mais horizonte de futuro dentro de seu partido.
Tentou se colocar novamente como candidato à presidência, mas a falta de apoio em casa e o anúncio formal de Aécio Neves que a vez agora é dele e que disso não abre mão, tornam contraproducente aspirar a reverter a virtual cristalização do nome de seu rival interno que goza de forte apoio na cúpula partidária nacional.
Por outro lado, o desmoronamento do DEM, de onde retirou seu vice nas eleições passadas e onde contava com expressivo apoio, subtrai-lhe a condição de fiador de futuras alianças que poderiam beneficiar ao partido e a seus líderes em comando.
A criação do PSD, por fim, marca-o como agente de desestruturação da agremiação que lhe deu a candidatura nas eleições passadas, já que sem Kassab não haveria a nova legenda que arrastou consigo parcela expressiva de quadros do PSDB, deslocando-o para a quarta posição como força política na Câmara.
Não é demais lembrar que foi Serra quem fez de Kassab prefeito de São Paulo contra o candidato  de seu partido e agora governador Alckmin.
É por não ter mais nem futuro nem presente e ainda possuir um passado agora desabonador no partido que ajudou a fundar é que Serra está em conversações com o PPS de seu grande amigo Roberto Freire para constituir uma nova agremiação que lhe permita começar do zero, como se jovem fosse, uma carreira política gravemente afetada por erros cometidos.
Marina estará com ele no mesmo partido, quem sabe pleiteando o governo de São Paulo... ou vice-versa. Que Nossa Senhora da Boa Morte os ajude!
 Segue nota à respeito, publicada no bem informado jornal Valor Econômico de 11/10/2011.

"Em reação ao isolamento de Serra no PSDB, o presidente do PPS, o deputado federal Roberto Freire (SP) ofereceu legenda ao ex-governador paulista.

Em entrevista ao portal "IG", Freire afirmou que, dada a propensão do PSDB em optar, desde já, pela candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República em 2014, Serra e seu grupo seriam "empurrados para fora da legenda" e poderiam encontrar espaço em seu partido. "Se o PSDB continuar tratando-o [Serra] tão mal, nada impede que ele também venha para o PPS. Estaremos de braços abertos", observou o deputado.

A ex-senadora Marina Silva, que deixou o PV, também é considerada bem-vinda pelo PPS. Aliados seus filiaram-se à sigla para concorrer em 2012. "Conversamos no sentido de abrir o PPS para que os marineiros possam se candidatar pela legenda, onde quiserem, no Brasil inteiro. Depois, tanto eles como nós decidiremos o que fazer. Podemos inclusive ficar definitivamente juntos".

As dificuldades encontradas por Marina e Serra para alocar seus grupos políticos fazem Freire até vislumbrar tais lideranças unidas, sob o guarda-chuva do PPS. "Isso poderia dar até numa via alternativa ao que está aí colocado [para 2014]: Dilma versus Aécio. Quem sabe uma via alternativa, de esquerda e com respeito ao meio ambiente?", avaliou".

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O caso da propaganda de lingerie



Gostamos de enxergar narrativas por detrás de qualquer coisa. O filmete de propaganda sobre roupas íntimas estrelado por Gisele Bundechen, por exemplo, dá a impressão que uma mulher bonita e inteligente fala às demais mulheres de maneira divertida sobre coisas do dia a dia das próprias mulheres: uma artimanha para lidar com o marido, um charme lançado ao caso para resolver pequenas questões da vida conjugal ou coisas assim.
Por essa razão ter sido considerada por muitos sem sentido a restrição que fez a Secretaria dos Direitos da Mulher à abordagem da propaganda. Afinal, o que tem brincar com coisas que tudo mundo sabe que existe, já que uma calcinha é algo tão importante na vida a dois?
Isso é o que nos querem fazer crer os fabricantes da lingerie e a agência de propaganda que gastaram tubos para contratar Gisele e outro tanto para veicular a peça publicitária, o que leva a um coro de concordância das empresas de comunicação que se beneficiaram com sua veiculação.
Mas sem querer dar margem a que fiquemos no plano de ser ou não ser politicamente correto os comentários acerca do filme, caberia indagar se convém, para além da questão de gênero, fazer passar como normal uma barganha de sexo por dinheiro assim de maneira tão natural, fossem os protagonistas da cena homens ou mulheres.
Quem passe pela Praça do Trianon na avenida paulista verá meninos (isso, com genitália masculina) prostituindo-se por causa de tênis e outros objetos de consumo adquiridos em compras de shopping centers de luxo no fim de semana. Quanto à prostituição feminina essa já é conhecida, tendo muitas vezes a justificá-la filhos pequenos ou familiares pobres.
Argumenta-se que a restrição pretendida à propaganda visa interferir nas relações pessoais das pessoas e criar constrangimentos a uma parcela de mulheres que efetivamente pensam como o personagem representado pela modelo.
Mas é muito mais que isso que está em questão. O que diz o filme é que é natural seduzir para conseguir dinheiro, que não há nada de errado em oferecer sexo em troca do pagamento de uma dívida.
Quem não se lembra das consequências daquela outra propaganda que pregava a desejabilidade de levar-se vantagem em tudo e que fez a cabeça de uma ou duas gerações movidas por profundo egoísmo e oportunismo no ambiente social?
A validar-se esse tipo de mensagem como referente apenas ao plano das alegorias da vida privada, sem quaisquer preocupações com seus efeitos sobre o comportamento de jovens e a atitude de grupos, não nos deveria causar surpresa então se uma criança oferecesse sexo ao primeiro adulto que encontrasse para obter um celular da moda ou coisas do tipo.
Pensaria a criança: se mamãe faz sexo por dinheiro em casa para gastar mais no cartão de crédito pago por papai, por que não poderia eu com estes meus seios recém nascidos e esta cartela de pílulas nas mãos, fazer o mesmo com o tiozinho na esquina?
Mas deixemos essas considerações para lá. Não incomodemos ao fabricante de lingeries, à agência de propaganda e as  emissoras de televisão com coisas assim... assim tão politicamente corretas.

A árvore dos milhões




Todos sabem que o governador Alckmin deve 5O% do sucesso de sua carreira política ao falecido governador Covas. Ele mesmo não perde oportunidade de reavivar no eleitorado a lembrança da associação de seu nome com o de Covas sempre que possível em pronunciamentos públicos.
Estratégia de comunicação que tem funcionado porque, graças à colaboração da imprensa, poucos associam o nome de Covas com o de seu ex-Chefe da Casa Civil, amigo e todo poderoso à época de seu governo, o atual conselheiro do tribunal de contas que agora está sendo processado pelo governo suíço, Robson Marinho.
Contra o ex-membro do alto escalão pesa a acusação de haver movimentado 3 milhões de francos naquele país europeu provenientes do recebimento de propinas pagas por fornecedores franceses de equipamentos para o metrô de São Paulo e para a companhia de trens metropolitanos, a empresa Alstom.
 É preciso que se relembre. No ano de 1995 Alckmin era deputado estadual pouco conhecido. Havia chegado à presidência do diretório regional de São Paulo do PSDB beneficiado por um acordo que previa o rodízio de lideranças regionais à frente da instância partidária.
Covas, cioso de seu prestigio como ex- exilado e opositor do regime militar, pretendia produzir para si um quadro de conforto político que lhe permitisse lançar-se com segurança primeiro ao Palácio dos Bandeirantes em 1998 e em seguida à presidência da república em 2002.
Com esse intuito, manobrou habilmente para evadir-se à pressão de correligionários para que aceitasse como vice um figurão do partido com planos próprios e mais afinado ao presidente FHC, que 2 anos depois apoiaria também Maluf ao governo do Estado. Incomodava Covas as movimentações ostensivas de Serra e de seus aliados junto a FHC com vistas a fazer-se seu sucessor e plantar em São Paulo um governador de sua confiança.
Foi desse modo que a escolha recaiu sobre o pacato deputado do interior Alckmin, a quem foi confiada a tarefa de conduzir ao lado de Robson Marinho a privatização das estatais de São Paulo, a frente da Comissão Estadual de Desestatização, e com isso prover os fundos que bastariam ao projeto presidencial de Covas alguns anos mais tarde.
Do resto o destino e a fatalidade da morte dariam conta. E tudo que Alckmin teve doravante seria demonstrar à viúva do falecido uma reverência eclesiástica à sua memória e permeabilidade aos desejos da influente senhora de introduzir seu neto predileto, Bruninho Covas, na carreira política a fim de colher o que restasse de louros da imagem de probidade do avô.
Desse modo não surpreende a informação que veio a público há pouco de que Bruno Covas logrou antecipar em um só ano de seu mandato de deputado estadual pelo PSDB todo o valor que teria a receber em 4 anos à título de emendas parlamentares, dessas que agora se sabe constituem o meio pelo qual opoerou o que vem sendo chamado de escândalo do mensalão paulista.

Foram 8 milhões de reais, quando outros deputados tinham o direito de retirar 2 milhões dos cofres estaduais para o patrocínio de obras municipais onde bem entendessem, com a propósito último de obtenção de gordas comissões que finaciassem suas respectivas campanhas e, claro, garantissem a formação de um sempre oculto patrimônio pessoal.
Tudo indica que o motivo do favorecimento do rapaz, no momento secretário estadual do meio ambiente, foi dar- lhe condições para para viabilizar a formação de seu caixa de campanha à prefeitura da capital, ungido que estava pela dívida de gratidão que o governador mantem para com a família a quem deve sua fulminante carreira política.
Entende-se porque Bruninho, dando ainda os primeiros passos na política, apavorou-se com o estouro de rojão do deputado que, descontente com a partilha, denunciou o esquema de propina. 

Num gesto ingênuo inoculou-se da dose letal do que supunha ser sua vacina contra os pecados já cometidos na manipulação das emendas: declarou à imprensa que recebera ele, Bruno Covas, oferta de propina por parte de prefeito do interior e que recomendou na oportunidade sua doação à Santa Casa.
Melhor teria feito se hovesse pedido ao prefeito filantropo que desse o dinheiro à Santa Sé a fim de canonizar o próprio avô e, quem sabe, também seu fiel escudeiro Robson Marinho. Este último com a pressa devida, antes que vá preso ou se mande do país com a grana levada do assalto à companhia do metropolitano.

Segue trecho de matéria do Estadão de 11/10/2011 que permite entender o sucesso eleitoral de Bruno Covas.

Em ano eleitoral, Bruno Covas consegue R$ 8,2 milhões em emendas

Em notícias veiculadas em seu site oficial, o secretário estadual de Meio Ambiente, Bruno Covas (PSDB), informa ter conseguido intermediar, só no ano de 2010, um repasse de recursos a prefeituras e entidades equivalente a toda a cota de emendas parlamentares que lhe caberiam em quatro anos de mandato como deputado.
No ano passado, Covas exercia mandato de deputado estadual e foi campeão de votos na disputa à reeleição. Embora a cota anual de emendas por parlamentar seja de R$ 2 milhões, Bruno afirma ter conseguido intermediar o repasse de recursos que somam R$ 8,2 milhões. Todos viraram convênios do governo estadual com prefeituras ou entidades. O levantamento foi feito pelo Estado a partir das informações que constam no site do próprio secretário e da checagem dos convênios.

Procurados na manhã desta terça-feira, 11, o governo estadual e o secretário Bruno Covas não se manifestaram até agora sobre as informações desta reportagem. Assim que o fizerem, suas versões serão divulgadas pelo estadão.com.br.

O governo do Estado de São Paulo não divulga os autores de todas as emendas e nem seus respectivos valores. O Executivo paulista divulgou, até o momento, somente os recursos liberados em 2011. Diante da ausência de publicidade desses dados, não se sabe quanto o governo dispendeu em recursos que de fato foram intermediados pelo secretário Bruno Covas.

Nas peças orçamentárias de 2010 e 2011, o governo reservou R$ 188 milhões para emendas parlamentares, valor que, dividido por 94 deputados, resulta em R$ 2 milhões. Bruno Covas foi o relator desses dois orçamentos na Assembleia. Embora houvesse uma pressão de deputados por aumentar o valor das emendas, o tucano manteve a cota inalterada.

O valor de R$ 8,2 milhões que Bruno conseguiu liberar em ano eleitoral foi encontrado em 49 emendas das quais o próprio secretário, em seu site oficial, afirmou ser autor. O Estado confirmou a assinatura dos convênios e a liberação do dinheiro com base em informações da Secretaria da Fazenda.

Em diversas notícias do site de Covas é possível encontrar a liberação das emendas. Com o título "Guararapes é beneficiada por emenda de Bruno Covas", uma reportagem informa a liberação, pelo governo, de R$ 300 mil para um estádio do município.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Morre diabo!

A Conferência do Instituto Solvey de física e química em Bruxelas em 1927. Os maiores nomes da ciência do século passado reunidos num só lugar. O sexto da direita para esquerda Erwin Schrodinger.

Certos momentos na história da ciência podem representar significativas mudanças na forma como interpretamos a vida ou como a viveremos no futuro próximo. São temas colocados no dia a dia das pesquisas, que não são levados ao grande público pelo fato da comunidade científica não julgá-lo preparado para compartilhar noções excessivamente subvertedoras daquelas mais mais comuns que o mantem apascentado na vida cotidiana.

Trazê-las à divulgação, no entanto, tem o potencial de retirar à sociedade a condição de agente passivo da inovação científica que, levada ao mercado na forma de tecnologia em momento posterior, só faz por aumentar a segregação dos que não dominam os aspectos mais ordinários de uma existência cada vez mais automatizada. Por implicar em transformações iminentes na forma como homem relaciona-se com a natureza e com o próprio homem é que precisam ser popularizadas.
Para o que importa a este artigo conviria registrar como o momento mais revolucionário do modo como homem viria a lidar com a matéria que constitui o mundo físico ao seu redor, a Conferência de Solvey de 1927 na Bélgica,quando luminares da física do começo do século reuniram-se a fim de colocarem-se de acordo sobre os novos paradigmas trazidos pela física quântica à ciência do começo do século.
A emergência então de novos paradigmas respondia às descobertas que fizera a física quântica com relação ao comportamento dos pacotes de energia de que era composta a luz, os fótons, cujos quantuns (daí a nomenclatura de física quântica) comportavam-se de maneira anôma-la em relação à matéria conhecida.  
Extraídos a um mesmo corpo luminoso podiam ser superpostos e quando manipulados apresentar comportamento inverso, mesmo que colocados a grandes distâncias entre si. Separadas duas partículas da ordem de poucos nanômetros (bilionésimos de milímetros) a anos luz uma da outra, o que se fizesse numa repercutiria inversamente na outra.
Se destruída uma partícula aqui outra ressurgiria noutro lugar, se deslocada à esquerda num lado, uma contraparte sua se deslocaria para a direita noutro lado. Tudo de sorte que a experiência interferiria sempre no experimento e nada ficaria imune a essa interferência. A circunstância recusada por Albert Einstein de início, no que se refere às distâncias envolvidas, ganhou confirmação com as pesquisas recentes proporcionadas pelos instrumentos disponíveis de observação da matéria no plano das suas partículas constitutivas elementares.
Sendo a matéria uma forma particular de energia também os corpos físicos estariam teoricamente sujeitos a condições erráticas de partículas que pulsariam sem existência permanentemente concreta, em que o existir e o não existir constituiriam mesmo estados simultâneos ou intermitentes de sua forma de vir ao mundo.
Pra ilustrar essa situação um dos físicos presentes ao encontro, Erwin Shrodinger, propôs que se imaginasse um gato junto a quem fosse disposto veneno dentro de uma caixa fechada. Até que se abrisse a caixa nada se saberia sobre a situação exata do animal, se estaria vivo ou morto. E uma vez aberta a caixa, nada poderia ser especulado cientificamente sobre qual sua condição anterior.
Esse seria o gato de Shrodinger, vivo e morto ao mesmo tempo até sair da caixa. Esse estado dúplice seria mesmo o estado permanente da matéria no universo, existente e não existente, presente e não presente, provável e improvável,viva e morta simultaneamente.
Contra o argumento teórico se opõem as constatações do mundo fisco em que prevalece a lógica newtoniana. Que no caso do gato reivindicaria um gato vivo dentro da caixa e o mesmo gato vivo ou morto depois fora da caixa. Mas o fato é que as coisas grandes só aparentemente mostram-se estáveis. Apenas após de transposto certo nível de interações no plano das partículas enquanto cresce o tamanho do objeto, quando ainda são e não são, é que sua projeção externa se mostraria estável à percepção.
É por essa mesma razão que tudo que não é coerente com a estabilidade dos corpos se nos apresenta contra-intuitivo. O decaimento para a instabilidade seria assim dado matematicamente por meio de equações multifuncionais de grande complexidade de modo a permitir inferir a transição do existir ao não existir, já que no plano físico apenas seria possível atestar um dos lados da moeda, o da existência.
Nesse ponto em que se concentra o formidável dos experimentos e das especulações científicas. Se fosse possível derivar uma equação que protelasse o decaimento a partir do ponto em que ele alcançasse um ponto de limiar na passagem à não existência, seria possível então chegar a uma formulação de seu estado estável e organizado, que seria mesmo o estado que consideramos pertinentes ao das coisas vivas.
Isso mesmo, uma equação da vida, que codificada em processo bioquímicos programados permitiria superar o decaimento imperceptível a meios empíricos, e mantê-lo em estado de permanente coesão e organização física.
A manipulação dos estados anteriores à alternância entre existir e não existir dos quantuns já vem sendo aproveitado no processamento de dados nos denominados computadores quânticos, mecanismos capazes de processar bilhões de cálculos simultaneamente e que ofereceriam os meios para formulações necessárias à captura matemática do decaimento. Acredita-se que esses computadores já testados em laboratórios de física de partículas estejam em duas ou três décadas operando comercialmente.
Claro está que enquanto nos mantivermos no estágio de impedir que os pobres morram de doenças as mais banais sem nos preocuparmos com a socialização dos frutos mais avançados da ciência já desde seu início, a começar pela divulgação do que vem sendo investigado por cientistas, os benefícios que dela advirá tenderá a estar concentrado em poucas mãos. As mesmas que, por força da conjugação de um saber e de riquezas hiper-concentrados, assegurarão a um grupo restrito no futuro a condição de virtual imortalidade.
Aí então não será preciso mais guerras para conservar o domínio sobre amplas partes do globo como se faz hoje, bastando apenas que se deixe a maioria morrer naturalmente enquanto a parcela no controle se beneficia da quase imortalidade proporcionada pelos avanços da medicina.
Como se o insano, que preso após assassinar a mãe em São Paulo, continuasse a gritar profeticamente diante das cameras de televisão para todos nós: morre diabo!
               

sábado, 8 de outubro de 2011

Mídia ameaça largar tucanos na mão



Aos poucos a imprensa vai perdendo a inibição de investigar casos escabrosos que cercam a direita do espectro político do País e começa a trazer a tona detalhes dignos de nota do escândalo do mensalão paulista. Um caso capaz de deixar marcado no ventre do partido de situação, que reina sob uma aura de probidade faz 20 anos no governo estadual, a marca indelével da corrupção.
Os detalhes do episódio ainda não são sabidos, mas sua emergência se deve ao descontentamento de um deputado da base do governo, Roque Barbieri, que resolveu, imagina-se lá porque, detonar o esquema de compra de lealdades na Assembléia legislativa de São Paulo.
Esquema que, diga-se de passagem, vigorava ainda antes que fosse denunciado nas eleições de 2006 o que se convencionou chamar de mensalão do PT com a finalidade de dar naquele ano a vitória sobre Lula às oposições.
Mas por que só agora a imprensa perde a inibição? A resposta está no rearranjo do quadro partidário em São Paulo e mesmo no país com a obtenção de registro pelo novo partido de centro-direita, o PSD.
Com uma alternativa de poder à mão em 2014 no Estado, seja com Meirelles que vem de filiar-se à agremiação seja com Afif Domingues, vice-governador do Estado, a elite política em São Paulo, por meio de seus mais notórios veículos de comunicação, o jornal O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, prepara um belo chute nos traseiros de Geraldo Alckmin em 2014.
Sabem que caso não se antecipem à deterioração do quadro político no Estado, Lula haverá de fazer o sucessor de Kassab na prefeitura paulistana ou com seu ex-ministro Hadad ou com seu ex-banqueiro central Meirelles.
A senha foi dada há poucos dias pelo jornal Valor Econômico, parceria entre o Grupo Folha e o Grupo Globo, que em editorial furibundo manifestou seu descontentamento com o que considerou imaturidade do partido que até agora vem apoiando, o PSDB.
No fundo, o noticiário político nacional e estadual revela a existência de um terremoto produzido pelo fato do governo Dilma vir se firmando junto à classe média tradicional com seu estilo de governar pautado pelos valores com que classe média também se identifica: sobriedade, firmeza e moralidade.
Por causa disso o telejornalismo da Rede Globo já rearranjou sua bancada de comentaristas nos telejornais, afastando figurinhas mais venais com Sardemberg e Miriam Leitão. Por que não o faria com o partido que lhe faz perder a razão?
Sim, os meios de comunicação ameaçam ir de Dilma, Meirelles e PSD nas próximas eleições. E é isso que explica a crescente exposição midiática do novo mensalão.  

Estatizar a distribuição das drogas


Quem diria. A mocinha que morreu há 2 ou 3 meses atrás vitima da colisão do carro de um playbloy que trafegava de madrugada a 160 km por hora pela rua Tabapuã estava ela mesma embriagada. Dados toxicológicos recentemente divulgados confirmam níveis elevados de álcool no sangue da jovem.
Mas todos sabemos que não é só álcool que rola na madrugada paulistana e contribui para que ocoram essas tragédias. Por não terem sabor, as outras drogas químicas prestam-se a  potencializar o efeito dos drinks que a rapaziada vara a noite tomando nos bares de São Paulo.

Alguém já deu uma olhada num deles? Por exemplo naquele de nome São Bento, nas proximidades do local onde houve a colisão fatal? É um sofisticado e enorme barracão, com capacidade para mais de 1000 pessoas em que, a certa altura da noite, até o ar que se respira é alcoolizante.
Se fala muito nos pobres da cracolândia que se acabam no consumindo drogas baratas. Mas nada se fala dos jovens de classe média alta que se acabam nesses pavilhões da beberrança e da ingestão de comprimidos. Menos evidentes que os esquálidos que se juntam no centro da cidade como populares em parques de diversões, as vítimas dos speeds noturnos que se iniciam nas mesas de bares somam dezenas de mortos todos os meses, com corpos dilacerados em seus carros esportivos. Levam consigo nessas mortes estúpida inocentes que caminham nas calçadas ou outros motoristas em deslocamento.Casos que só ganham destaque na mídia quando envolvem carros bacanas.
E saber que tem gente por aí, que posa de “honoris causa” e de personalidade internacional (claro que falo de Fernando Henrique Cardoso) que julga que liberando a comercialização de drogas viveríamos num mundo melhor. Eis o absurdo a que se chega com idéias privatistas. Como se o mercado legalizado fosse mais controlável que o mercado negro.
Fosse assim o cigarro e a bebida não fariam tantas vítimas fatais. Alegam em defesa da solução a hipótese dos políticos controlarem as corporações que faturariam bilhões de dólares com a venda desses produtos alteradores da percepção. Ingenuidade de nenê de berço.
Outro dia falando com um sociólogo que estuda a questão das drogas, um professor jovem e competente que não pode ser acusado de conservadorismo, tive de curvar-me a seu lúcido e heterodoxo ponto de vista de que a única saída para as drogas, todas elas sem exceção, seria estatizar sua distribuição. Porque só o Estado não teria interesse em faturar com seu consumo. Só o Estado estaria apto a combinar o fornecimento aos dependentes, e até àqueles dispostos ao uso por lazer, com uma política ativa de tratamento e de prevenção visando a redução progressiva do seu consumo.
Também na questão das drogas, os privatistas estão redondamente enganados.