quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Sobre Macacos e Brasileiros: Crítica à The Economist


 A revista The Economist, bíblia semanal dos liberais do mundo inteiro anda um tanto incomodada com a perda relativa de status internacional de seu país de origem e a de seus pares desenvolvidos (EUA a frente), e vem se empenhando em fazer crer que a percepção dominante de uma economia mundial puxada pelos BRICs, (acrônimo para Brasil, Rússia, Índia e China) não é o que parece.
Daí que fez publicar em seu último número (link abaixo) atraente infográfico em que busca demonstrar o que considera ser a falácia do destaque recebido pela economia brasileira na imprensa mundial. O artifício é simples: no infográfico a revista permite que o leitor compare com um simples toque do “mouse” do computador o PIB per-capita (produto interno bruto por habitante e indicação de bem-estar presumido das populações) de cada Estado Brasileiro com o de um país mais pobre porém com PIB equivalente. Resulta que o Estado mais desenvolvido do Brasil, São Paulo, aparece comparado à Polônia, prosseguindo em decadência os demais Estados até serem comparados com os países mais pobres da África e da Ásia.
Como sempre sucede aos números, é possível relacioná-los sempre de todas as maneiras, extraindo deles o resultado que mais se deseja. Contam os editorialistas para esse exercício de presdigitação com o parco conhecimento dos leitores sobre técnicas estatísticas o que, embora seja fato, não elide a má fé da revista na distorção da realidade que o confronto dos números acaba por produzir.
Não é preciso dizer que o material foi saudado como “genial” ou “revelador” pelos garotos cult cujos Blogs os jornais brasileiros mantêm como apêndice de suas redações. Foi o caso do pseudo blogueiro José Roberto de Toledo, do “O Estado de São Paulo” que espalhou entre os nacionais o material que, como seria de esperar-se de uma revista inglesa, era mesmo só para inglês ver. Maledicências à parte, é mesmo da falta de ciência e, sobretudo, da concepção canhestra que presidiu a elaboração da peça gráfica do que gostaria de ocupar-me.
Há duas formas de comparar um homem e um gorila (modo, aliás, como gostavam de nos chamar os europeus). A primeira é comparar o peso de um grupo significativo de indivíduos de ambas as espécie e verificar se encontramos um padrão distintivo de comparação que permita categorizar cada indivíduo seja como homem seja como macaco. A surpresa é que relativamente a esse quesito, homens e macacos parecerão bastante parecidos: há seres humanos que pesam os 150 Kg de um gorila e há também símios que pesam os 80 ou 90 Kg de um homem adulto.
A fim de não forçar demais a comparação, poderíamos ainda nos valer de outro atributo para diferenciar as espécies, a altura. Mas também esse critério apresentaria resultados comuns às duas categorias, uma vez que há homens com 1,50 m assim como há macacos com 1,70 m de altura. Mesmo com essas dessemelhanças, seria possível perfilar os dados para fazer mostrar que em certo lugar do planeta os residentes apresentariam características muito próximas às dos seus ancestrais das savanas.
Contudo há uma maneira mais honesta de relativizar o desempenho da economia brasileira, que acabou de subir 5 posições no ranking das mais competitiva do mundo desbancando o próprio Reino Unido que desceu 3 degraus na mesma classificação, não a esquartejando e depois comparando cada pedaço com aquilo que ela não é em seu todo.
O método mais ético e mais científico de estabelecer a comparação seria por meio do que os economistas chamam de análise do componente principal. No comparativo entre brasileiros e primatas poderiam ser considerados como componentes principais as características de uma e outra espécie que importariam para uma diferenciação, como o peso e a altura. No caso das economias seriam indicadores significativos de desempenho – alguns daqueles contemplados na elaboração do ranking de competitividade mundial, por exemplo – vistos não um a um, mas em conjuntos contra conjuntos de mesma tipologia de informações. O que produziria uma terceira variável, produto da eliminação dos maiores desvios verificados internamente a cada grupo isolado de características as quais quando comparadas tornariam possível um confronto se status tecnicamente de maior validade.
Complicado? Nem um pouco. Para melhor ilustrar a maior pertinência de um raciocínio desse tipo frente o utilizado pelo pasquim de Yuppies liberais, imaginemos um casarão no Morumbi (bairro nobre da cidade de São Paulo) que fosse ocupado por membros de uma família. Se a intenção fosse aferir o grau da riqueza da família que ali habita não faria qualquer sentido dividir o casarão em cada uma de suas dependências e comparar cada uma, em metragem e renda média do ocupante, com as mesmas variáveis referentes a um sobradinho inteiro na Vila Formosa. O correto seria comparar o casarão em sua totalidade com todos os sobradinhos que lhe equivalessem, agrupando as variáveis de diferentes quesitos (como disponibilidade luz, água e renda familiar média) a eles pertinentes numa única medida e aí sim submeter essa medida homogênea a comparação.
Da minha humildade posição de leitor-gorila escreverei à redação do pasquim para alertar do inocente descuido. Vai aí o link do quase-engano que transgorma o Brasil num amontoado de Zâmbias
                                                                                                                                                                  

   

Um comentário:

  1. Caríssimo, concordo com o teor de sua crítica, mas gostaria que você pudesse demonstrar melhor o argumento. Ficou um pouco confuso...
    Acho que comparar cada estado da federação brasileira com um país é a mesma coisa que comparar cada quarto de uma mansão com um sobradinho. Comparar a mansão inteira com vários sobradinhos incorreria no mesmo erro, não?

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