O vai e vem eleitoral de Kassab em função das indefinições da candidatura de Serra à prefeitura paulistana, reflete a ausência de vínculos orgânicos com a sociedade do partido que ajudou a criar e a consequente dependência da nova agremiação de composições estratégicas com outros partidos e com o poder estabelecido em plano federal, para fazer vingar o PSD como ator relevante na cena nacional.
Resultado da divisão produzida no interior do “establishment” pelos governos exitosos de Lula e Dilma, que granjearam ao PT mais ampla base social de sustentação, o PSD vive o natural dilema (ver matéria abaixo do jornal Valor Econômico) entre ceder às conveniências dos que lhe deram origem no PSDB ou prosseguir com o cisma iniciado e perseverar na construção de um partido de centro-direita renovado em seus dogmas e práticas de atuação.
Ao titubear diante da possibilidade de lançamento do ex-governador de São Paulo , Kassab contempla um plano de refundação das oposições que passa pelo aprofundamento da crise que vive o PSDB até o ponto em que, exaurido pelos embates internos, dê ensejo há uma terceira agremiação apta a reconstituir via disputas eleitorais a hegemonia perdida da centro-direita.
Nesse sentido, é premonitória a resistência que opõem a militância e grupos políticos do PSDB a uma composição com Kassab, insistindo no lançamento de uma candidatura que não seja a de Serra. Sabem que, se assim não for, sucederá ao PSDB o mesmo que se passou com o PMDB desde a ruptura que deu ensejo ao PSDB, quando foi condenado em São Paulo a padecer eternamente da condição de coadjuvante nas disputas eleitorais. Fado que talvez seja ao partido dos tucanos ainda mais adverso.
Porque sem o lustro de haver conduzido a redemocratização no País, como o PMDB, e sem uma estrutura nacional que dê suporte à penetração nos rincões mais afastados do País, poderá ser conduzido, depois de uma eventual defecção de serristas, ao completo desaparecimento.
Porque sem o lustro de haver conduzido a redemocratização no País, como o PMDB, e sem uma estrutura nacional que dê suporte à penetração nos rincões mais afastados do País, poderá ser conduzido, depois de uma eventual defecção de serristas, ao completo desaparecimento.
De outro modo, ao tentar manter as portas abertas a uma composição com o PT – reafirmando uma proposta lançada pelo próprio prefeito aos dirigentes do partido dos trabalhadores – o alcaide pensa no fortalecimento lento e gradual da agremiação que patrocinou, até o ponto em que seja possível levantar-se contra os aliados da centro-esquerda.
A favor desta tática estão a maioria de parlamentares e prefeitos de outros Estados que reforçaram os quadros do PSD por ser-lhes demais custoso o afastamento do governo federal. E será exatamente a essas forças internas que Kassab terá que resistir para levar a bom termo a oferta de reciprocidade a Serra nas eleições de São Paulo deste ano.
São dois caminhos que desembocam em diferentes paragens os que se abrem ao prefeito. Um deles determinado pelas contingências da política local e também pelos planos de um grupo político sem chances de chegar ao poder pela via da disputa interna em seu partido, o grupo de Serra.
A outra vereda mostra-se coerente com as necessidades de parcela ponderável das elites regionais, politicamente deslocadas pela emergência de novas classes sociais e pela atração que sobre elas exercem os partidos de centro-esquerda, como o PSB de Eduardo Campos.
Da escolha de Kassab entre as candidaturas de Serra e Haddad dependerá a estratégia de reposicionamento da centro-direita no País. Se escolher Serra, Kassab estará sacrificando seu projeto de partido e com ele a chance de ser um dia figura de visibilidade nacional. Mesmo porque os dois juntos constituem peso demais para qualquer coligação carregar.
PSD teme Lula como adversário
Valor Econômico, edição de 17/02/2012
Parlamentares do PSD de outros Estados estão preocupados com a possibilidade de o ex-governador José Serra (PSDB) decidir pela disputa à Prefeitura de São Paulo e com o risco de o prefeito Gilberto Kassab recuar das negociações com o PT. A avaliação é que Kassab, presidente da nova legenda, avançou demais na direção da aliança com Fernando Haddad (PT) e uma eventual mudança de posição agora deixaria a relação do PSD com o governo federal muito ruim em todo o país e "arrebentaria" o partido.
Depois de propor ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a aliança em torno de Haddad e de comparecer ao evento em comemoração aos 32 anos do PT, recebendo vaias da militância e afagos da presidente Dilma Rousseff, Kassab perderia a credibilidade se recuasse, na opinião de integrantes da cúpula do seu partido que não querem ficar na oposição ao governo federal.
Como até agora ele tem mostrado muita habilidade política, a expectativa de seus aliados é que mantenha a disposição de aliança com o PT - a não ser que os petistas rejeitem. A avaliação é que Kassab tem argumentos de sobra para dizer a Serra que não tem mais condições políticas de voltar atrás, já que o tucano negou de forma categórica que disputaria.
O prefeito já está recebendo mensagens de dirigentes do PSD com manifestações de preocupação. Lembram que, pela histórica ligação política com Serra, Kassab tinha carta branca para apoiá-lo na disputa à Prefeitura de São Paulo em 2012 e fez todos os gestos nesse sentido. Liberado por Serra, ficou livre para articular a candidatura própria do vice-governador, Guilherme Afif Domingos, ou a aliança com Haddad.
Voltar atrás seria um "absurdo", para um dirigente do PSD, Estaria transformando Lula num "adversário forte demais" e colocando todo o poder federal contra a nova legenda, que nasceu para ser "independente" e para viabilizar um projeto de futuro para políticos que, abrigados no Democratas ou em outros partidos, estavam sem perspectiva. Seria atrair "artilharia pesada" contra o PSD.
Se Kassab caminhar para Serra agora, estaria "amarrando" seu projeto para 2014 ao PSDB. Entre os integrantes do partido, há ressentimento com a forma com que o PSDB "massacrou" o DEM, seu aliado, e com o tratamento dado ao próprio PSD.
Um motivo de irritação é o fato de o PSDB, mesmo sem nome forte para disputar a prefeitura, não ter disposição de apoiar um candidato do PSD agora, nem mesmo em troca do apoio de Kassab à candidatura à reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB) em 2014. Para parlamentares da nova legenda, isso é uma "humilhação".
Essas avaliações são feitas por dirigentes do PSD de outros Estados. Em São Paulo, a cautela é maior. O líder do PSD na Câmara dos Deputados, deputado federal Guilherme Campos (SP), diz que "a relação de Serra com Kassab transcende a questão de compromissos. Existe uma relação construída ao longo do tempo". Ele lembra que, por enquanto, existe apenas uma "promessa de posicionamento" com o PT.
Segundo ele, os sentimentos da bancada federal do partido em relação à aliança com o PT estão divididos. "O PSDB foi o primeiro partido que institucionalmente foi procurado pelo nosso presidente no sentido de fazer uma composição. E houve todo um processo de morosidade e falta de definição do PSDB", diz Campos.
Ele admite que a sinalização de que Serra pode mudar de posição tornou as conversas "mais intensas de todos os lados" e "aumentou a confusão e o clima de suspense" nas negociações em São Paulo. "É mais fácil acertar na Mega-Sena do que no que o Serra está pensando."
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