quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Confiar em ciganas

Pouco em voga hoje em dia, o termo “cristianização” teve grande circulação na década de 90 para caracterizar o abandono político de que foram vítimas as candidaturas peemedebistas à presidência da República de Ulisses Guimarães e Orestes Quércia.

Sua aplicação à malfadada campanha eleitoral dos dois políticos foi originalmente tomada de empréstimo a outro episódio que marcou a política brasileira. Mais precisamente nas eleições de 1950, quando os três principais partidos de então apresentaram seus candidatos ao pleito.

 O PTB lançou Getúlio Vargas com o lema “ele voltará”; A UDN, seu principal adversário, lançou o Brigadeiro Eduardo Gomes, apoiada no inacreditável slogan “ele é bonito e solteiro, reserva moral do Brasil”; já o pendular PSD foi às eleições com o mineiro Cristiano Machado que, pelo fato de haver sido alertado por uma cigana de que seria presidente, adotou o risível mote “a cigana não se engana, vote Cristiano”. Acabou esquecido pelos apoiadores.

Se há por trás de Serra agora uma cigana que lhe embala as ambições não se sabe, mas o fato é que a idéia do candidato de ir às urnas, ladeado pelo imberbe Bruno Covas, no que se convencionou chamar de chapa puro-sangue, tem tudo para redundar no mesmo fiasco que celebrizou a derrota de Cristiano Machado.

Não que o ex-governador deixe de empolgar os setores mais conservadores da sociedade paulista, sobretudo depois da inaudita pregação moral que praticou contra a candidatura da primeira mulher a disputar uma eleição presidencial no País. Nem que lhe falte suficiente suporte econômico por parte de grandes grupos empresariais, que lhe são devedores por facilidades obtidas em privatizações e grandes contratações de obras públicas.

Não, o risco que ameaça as pretensões do ex-governador de São Paulo é de natureza política e tem a ver com a possibilidade de que se passe com ele o que se passou com o político mineiro seis décadas atrás, cujos partidários abandonaram-no em favor da candidatura mais viável de Getúlio. Num processo bastante parecido com o que alijou o atual governador de São Paulo Geraldo Alckimin do segundo turno das eleições para prefeito em 2008.

Sinaliza esse desdobramento a forte aproximação já realizada entre seu possível maior aliado – o prefeito Kassab – e o ex-presidente Lula da Silva, com a troca de apoios mútuos em plano nacional para fazer do PSD repaginado do candidato exotérico Machado um partido de peso suficiente para servir de contrapeso à influência que tem hoje o PMDB e partidos menores no governo federal.

Sem indicar representante na chapa liderada por Serra à prefeitura e desconfortável por ter que perfilar ao lado do partido de quem é o principal adversário, o Democratas, Kassab não terá ânimo para colocar a máquina da Prefeitura, já depurada de tucanos, a serviço da candidatura do “amigo”.

Por outro lado, as dissensões produzidas para a escolha em prévias de um pseudo-candidato impactará de tal sorte a disposição da militância e de líderes comunitários do PSDB em atuar a favor do seu candidato, que tornará impraticável ao partido enfrentar nas franjas da cidade a onda da periferia para o centro mobilizada pela máquina partidária petista, a partir de seu entrelaçamento com os movimentos sociais de bairros.

Mas um fator decisivo para que a presumida cristianização de Serra venha ser consumada é a necessidade de que se identifique um nome para a chapa do candidato petista afinado o bastante com os setores mais conservadores da sociedade e que possa, ao mesmo tempo, desmobilizar o aparato religioso que tucano moverá contra a candidatura do PT.

Com a impossibilidade de que Henrique Meirelles, o ex-presidente do Banco Central, possa cumprir esse papel, fica cada vez mais clara a importância de Gabriel Chalita do PMDB para emprestar os músculos que faltam ao PT para vencer nos bairros mais ricos da cidade.

O novo cenário que se desenha para as eleições paulistanas, com a entrada de Serra na disputa, indica que o preço de uma composição com o PMDB embora alta deva ser pago. Dilma precisa sentar depressa com Temer para acertar o valor do passe de Chalita.   




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