Tamanho é o fogo cerrado do jornalismo econômico sobre a condução da política econômica que, ultimamente, fatos positivos têm sido vendidos como verdadeiros desastres. Justiça se faça ao Jornal Valor Econômico que em editorial (certamente para atender sua clientela da indústria) reconheceu que o Banco Central acertou de mão cheia as últimas apostas contra o chamado mercado.
Acertou e esse acerto haverá de tornar mais amena a vida dos brasileiros no próximo período. As personalidades de sempre do mundo financeiro desceram o pau na autoridade monetária desde que esta, recusando a campanha movida por esses agentes, resolveu adotar, lá por agosto do ano passado, as medidas macro-prudenciais de restrição ao crédito.
Consistem tais medidas na exigência de que os bancos comerciais aumentem as reservas mantidas junto ao Banco Central, com a finalidade de conter o crédito via controles quantitativo de moeda e não por meio de mecanismo de mercado baseado na fixação de juros mais altos.
Não perdoaram a heterodoxia ao presidente do Banco Central porque antecipavam que o governo se empenharia a partir de então em fazer baixar as taxas de juros sem recorrer ao encarecimento do crédito para salvaguardar o lucro dos bancos.
Como todos sabem bancos gostam de criar moeda por meio do crédito. Desde que lhes preservem o patamar de juros estará tudo bem, porque podem ocupar-se apenas de controlar o quanto de moeda vão criar a partir de um piso alto de taxas de juros.
Aumentar o compulsório sobre s depósitos limita-lhes a liberdade de estabelecer o montante de empréstimos que podem conceder sem comprometer seus balanços de fim de ano. Algo semelhante à permissão hipotética que se desse à companhia de águas para cobrar uma tarifa mínima de R$500,00 dos seus consumidores e racionar a oferta de quem não se dispusesse pagá-la.
Por isso a grita geral quando o Banco Central efetivamente passou a baixar os juros. Acusaram-no de abdicar da sua autonomia para atender às conveniências do governo, que buscaria com a medida nada mais que aliviar suas despesas com juros para poder gastar em outras bobagens de custeio.
Foram além, fizeram troça da sabedoria econômica do presidente do Banco Central, recomendando-lhe que lesse mais sobre experiências internacionais e conversasse com entendidos da matéria.
Diante da ponderação de que baixar os juros seria crucial para o enfrentamento de uma conjuntura mais severa devido a crise na Europa, chegaram ao ridículo – como fez Luiz Carlos Mendonça de Barros – de argumentar que o governo agia com pessimismo demais em relação à crise no Velho Continente. Quase que roubando ao Lula a expressão “marolinha”, no esforço de convencimento dos agentes econômicos de que aquilo que é bom para os bancos é bom também para o Brasil.
Trombini não deu bola para a torcida e aprofundou a política de cortes de juros. Os resultados aparecem agora num esfriamento necessário da economia que, mesmo contida, haverá de galgar robustos 3,5% no final de 2011. Que traz ainda consigo o bônus de uma saudável reversão das expectativas inflacionárias para o centro da meta no curto prazo, 5,5%.
Isso dá agora ao governo a possibilidade de ir temperando a demanda em direção ao nível que considere mais adequado em termos de custos alternativos de inflação e de emprego. É no contexto dessa busca por equilíbrio que devem ser interpretadas as medidas mais recentes de afrouxamento das condições de crédito para bens de consumo da linha branca e dos critérios de ingresso de capitais estrangeiros no País.
Graças à coragem de Trombini de recusar o receituário dos bancos para a política monetária, o Brasil vê ampliados os graus de liberdade com que pode contar para enfrentar os efeitos da crise internacional, que se aprofunda sim a despeito da argumentação irresponsável dos economistas de oposição.
Mais importante, os acertos do Banco Central provam que o sucesso do País pode prescindir da subserviência ao capital financeiro.
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