quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A avenida Paulista e o espírito dos tempos


Não é bonito um País em que as pessoas ascendem e tem mais oportunidades? Vejam o que acontece com a Avenida Paulista. Antes antro de marginais com imóveis de seu entorno em ritmo acelerado de depreciação, hoje a Paulista recebe dezenas de milhares de pessoas todas as semana para passeios noturnos.
A mídia tem noticiado esse afluxo de público, que extravasa as calçadas e alcança as pistas prejudicando o trânsito de veículos, como efeito das festas natalinas. Não é. Trata-se de certa disposição de espírito que leva as pessoas a se confraternizarem e darem a si mesmas e àqueles com que convivem um pouco mais de prazer.
É certo que na origem dessa atitude está a sensação de bem estar econômico. Mas é um sentimento que a excede. Envolve confiança no futuro, segurança pessoal, resgate do orgulho próprio e uma reelaboração das alteridades com quem se compartilha experiências: os vizinhos, o governo, os amigos e os parentes.
Como se chega a isso é questão reservada a diferentes especialidades e não apenas a sociólogos e economistas. Até a religião parece ter algo a dizer sobre esse novo momento, o que explica o sucesso de marchas com Jesus e outros encontros místicos que envolvem confraternização.
Quando o espaço público volta a ser referência de socialidade e as classes pobres deixam de imitar as mais ricas acorrendo aos “shoppings” é porque o País está mudando para melhor.
Retorna-se a um tempo que parecia superado do pipoqueiro e do algodão doce. Em que o prestígio de alguém se media menos pelas sacolas de compras carregadas nos braços e mais pelas vezes que se dizia boa noite.
Essa mudança de comportamento não deixa de ser também uma recusa ao confinamento produzido pela TV e que se soma a outras tantas que, como a adesão às redes sociais, tem como efeito a queda dos índices de audiência de que dependem as emissoras para a venda de espaços publicitários a anunciantes.
Por isso não noticiam esses novos tempos, preferindo uma interpretação economicista das suas causas enquanto vaticinam o improvável dilúvio que devolverá todos ao sofá.

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