sábado, 31 de dezembro de 2011

Defender Serra não vale a pena


Lembro quando vi Serra pela primeira vez. Sempre sisudo junto à portinhola da cozinha em que a simpática Dona Raimunda fazia passar seu café logo depois do almoço no segundo andar da faculdade de economia, portava-se como personalidade a espera de um pedido de autógrafo.
Usava uma invariável jaqueta marrom com detalhes em couro e os poucos cabelos puxados a brilhantina. A expressão de permanente descontentamento, a quem tudo parecia desagradar, vez ou outra se desfazia em reação receptiva a eventuais festejos de bajuladores que já naquele tempo acompanhavam-no.
Visto à distância não transparecia estar agradecido pelo emprego que João Sayad e Montoro Filho arrumaram-lhe na FIPE quando desembarcou com uma mão atrás e outra na frente, vindo do exílio auto-imposto no Chile. Aparecia pouco na Universidade e naqueles inícios dos anos 80, de empregos escassos, víamos com certa estranheza o modo fácil como ganhava seu dinheiro.
Deu um curso sobre economia da América latina a que poucos se interessaram, exceto os marxistas ligados ao partidão (partido comunista brasileiro) e alguns poucos ingênuos que se encantavam com as críticas fáceis que o professor fazia publicar na revista de economia política contra as medidas cambiais adotadas à época pelos ministros Reis Velloso e Delfim Neto.
Houve alguma surpresa quando o anódino Serra surgiu como secretário do planejamento do governo Montoro. Foi trazido pelas mãos de Montoro Filho, que não podendo ser ele mesmo secretário devido à condição de descendente direto do governador, que já tinha dois outros filhos no gabinete, decidiu conferir um ar de esquerda ao governo do pai enquanto ele mesmo permaneceria nos bastidores.
No governo, o primeiro ato de Serra foi avocar a si a nomeação de todos os diretores financeiros de estatais paulistas, todas: do Banespa à Comgás. Nessas circunstâncias foi que chocou os ovos que viriam a conferir-lhe força tremenda, primeiro dentro do PMDB e depois dentro do novo partido cuja fundação seria um dos responsáveis devido à ruptura irreconciliável com Quércia.
Confinado à Secretaria da Administração e contemplado com não mais que duas diretorias regionais do Banespa, uma na capital e outra no interior, Quércia manteve-se crítico a Serra até a aliança em 2010 que pensou lhe renderia uma cadeira no senado.
Com as chaves dos cofres das estatais nas mãos e a responsabilidade de alimentar o caixa que financiaria a primeira campanha presidencial pela via direta – a de Montoro, conforme acordo firmado com Tancredo Neves que, depois de eleito pelo colégio eleitoral com apoio do governador paulista, apoiá-lo-ia nas primeiras eleições diretas no país – ficou fácil para Serra tornar-se czar da economia no estado e, depois de malogrado o plano urdido entre mineiros e paulistas com a morte inesperada de Tancredo, sagrar-se deputado constituinte por São Paulo.
Nas movimentações destinadas a articular sua candidatura, Serra atropelou um punhado de amigos que, desconhecendo o caráter daquele que haviam conduzido a uma posição de força no governo, preparavam suas candidaturas há mais tempo. Dentre eles o ex-secretário das finanças de Covas na Prefeitura Denisard Alves e o próprio Montoro Filho.
Depois de traído, Montoro Filho, a quem Serra tudo devia de sua carreira política, foi solenemente esquecido pelo amigo em todos os postos que este ocupou. Inclusive o de governador. Montorinho, como era conhecido, só voltou a posições de mando no governo do estado pelas mãos de Covas em gratidão ao fato de seu pai tê-lo nomeado prefeito de São Paulo 10 anos antes.
Engana-se por essa razão o PSDB em tomar a defesa de Serra no episódio dos recursos ilícitos trazidos por ele e sua família desde paraísos fiscais, como notícia o livro Privataria Tucana.  Primeiro porque o dinheiro internalizado não foi proveniente apenas das privatizações realizadas durante o governo FHC, mas também de sua passagem pela secretaria do planejamento de São Paulo quando era peemedebista e não tucano.
Ademais, Serra nunca deu nada ao PSDB senão que dele se alimentou o tempo inteiro. Como verme num corpo que haverá de abandonar depois que mais nada puder extrair.

7 comentários:

  1. Este tem historia, inclusive como agente da CIA,no seu exilio de araque e a sua prisao no Chile revelam este fato.

    ResponderExcluir
  2. Nunca fui filiado ao PSDB, mas tenho uma enorme resistência as generalizações que certa ala esquerdista ligada ao partido dos trabalhadores insiste em disseminar.
    Esse artigo racional trás luz e fundamentação para algo que gostaria de falar, mas por não ser um membro partidário e não conhecer tais fatos seria leviandade de minha parte.
    O Serra entrará para história por prestar um grande desserviço a sociedade ao deixar de buscar a reeleição, barrar a eleição ao Senado da República da irônica "sexologa do atentado aos usuários aeroportos" Marta e de apoiar Aécio pra presidente, afinal não aguentamos mais o PT de José Dirceu que tanto fragmenta os princípios republicanos e democráticos.
    Sua pose de esquerdista revela as razões de um pensamento tão fechado, faz parte do grupo de pessoas que acredita ainda na polarização do pensamento político que têm dificuldades de entender que vivemos, ou sobrevivemos no regime do Estado Democrático de Direito.
    Obrigado pelo artigo professor Luiz Cezar por trazer certo alívio a antipatia de uma pessoa que confiei meu voto em 2002.
    Abraço fraterno!
    Ricardo Cid@dão.
    http://fiscalizacaocidada.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. E da fábrica de genéricos da família Serra, ninguém tem informações?

    ResponderExcluir
  4. Caraca... "que tanto fragmenta os princípios republicanos e democráticos"... O que? O PT de José Dirceu?
    Que piada... Fala sério!

    ResponderExcluir
  5. esta materia deveria ser obrigatoria em todas as escolas de todos os niveis,, para que nossos jovens, SAIBAM,, COM QUEM ESTAO LIDANDO,, PERIGOSAMANTE ,GENTE QUE PODE LEVAR O BRASIL, A FALENCIA TOTAL!

    ResponderExcluir