terça-feira, 3 de abril de 2012

Lobos em pele de cordeiro

Fica sensivelmente mais baixo o tom de voz de todos aqueles que nas televisões, revistas e nos novos meios eletrônicos de comunicação apelavam com discurso moralista contra a desfaçatez e a corrupção, que se dizia imperar nas instituições de governo.

O maior símbolo desses moralizadores, o senador por Goiás Demóstenes Torres, revelou-se personagem a serviço do crime organizado como nos mais incríveis filmes de ficção policial.

O prejuízo é enorme para as oposições, que apostaram todas as fichas no campo de batalha parlamentar apelando a um tipo de elemento diferenciador de lógica negativante, que buscava na retirada da credibilidade do oponente a justificativa para a aspiração ao poder político e para a dispensa de embate de propostas a fim de conquistá-lo.

É esse tipo de política de acusação posta em prática pelos principais partidos de oposição desde que Lula da Silva elegeu-se presidente da República – e alçado ao paroxismo com o chamado escândalo do mensalão – que chega a um ponto de inflexão com o desmascaramento do falso tribuno que o oposicionismo instalou no senado.

Evidente que o recurso à desmoralização, como substituto imediato da contraposição de propostas e idéias necessárias ao fortalecimento da democracia no País, não vingaria caso a mídia de maior penetração não lhe desse sustentação, e, como se sabe agora, também a origem. O envolvimento do semanário Veja com os mesmos criminosos que colaboraram com a usurpação do mandato popular pelo senador Demóstenes, é revelador o bastante disso.

A queda do discurso moralizador como forma privilegiada de disputa política faz vítimas no quadro partidário nacional. Mata de vez o partido que fez da tribuna de acusação seu maior triunfo, o DEM, e fere gravemente seu principal parceiro de práticas oportunistas, o partido da socialdemocracia brasileira.

Fica difícil agora para o PSDB fugir à associação da imagem de tucanos a demistas, construída em mais de 20 anos de parcerias políticas. E à dificuldade de dissociação entre os protagonistas da pseudocampanha pelo saneamento da política corresponde também a potencial interdição do discurso de que se utilizaram ao longo de todas as campanhas eleitorais, e que pretendiam ver renovado agora. 

Acusações que antes eram objeto de contemporização na mídia contra outras figuras de grande expressão do mesmo campo político, como José Serra às voltas com uma CPI por evasão de divisas para paraísos fiscais e Agripino Maia acusado de envolvimento com fraudes em licitações no Rio Grande do Norte, não poderão mais ser omitidas nem tomadas por infundadas quando ressurgirem nas próximas  campanhas eleitorais.

Por ocasião das eleições municipais, é hora dos partidos que foram vítimas do ardil da desqualificação moral, encenadas até agora pelos chefes da oposição, tomarem desta vez o palco e bradarem alto e bom som ao distinto público : é gente apta exclusivamente a uivar, lobos em pele de cordeiro. E, é claro, mostrar o por que.


Um comentário:

  1. Não pratica o mal para que o mal não te iluda. Quem tudo quer tudo perde.Assim sendo, o senador Demóstenes, quis ser muito esperto e acabou sendo engulido pela sua própia esperteza. Não basta apenas a perca do mandato de senador, é preciso Cadeia.

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