Os trens em São Paulo param e a culpa é dos usuários. Isso é o que afirma o governo do Estado para quem atos de vandalismo seriam responsáveis pelas recorrentes paralisações do sistema de transporte ferroviário na região metropolitana com demanda de mais de 7 milhões de passageiros ao ano.
As afirmações do secretário dos transportes Jurandir Fernandes reproduz um padrão conhecido de justificativas das autoridades estaduais para deficiências nos transportes públicos quando é chegado o momento das eleições. Vestem o problema de fantasias.
Desta vez apareceu nas hilárias explicações do secretário uma calça jeans que teria desligado o trem da rede elétrica. Um caso semelhante ao do episódio da blusa vermelha a que atribuíram a paralisação dos trens do metrô às vésperas das eleições estaduais passadas, depois desmentido pela polícia após criteriosa investigação no guarda-roupa da companhia de trens CPTM.
O fato que as autoridades não assumem é o de que depois de 20 anos de governos comandados pelo PSDB, a ausência de planejamento global dos efeitos de medidas pontuais adotadas para atender ao aumento da demanda por transportes sobre trilhos na cidade continua uma constante.
Não há integração na maneira de conceber-se o transporte sobre trilhos. Ao aumento do número de estações do metrô, ao estabelecimento do bilhete único e aos vetores de ocupação do solo urbano não se fizeram acompanhar investimentos em infraestrutura ferroviária que suportassem o perfeitamente previsível aumento da procura por transporte ferroviário.
O resultado tem sido que algumas estações de trens já não suportam qualquer aumento do número de passageiros, abarrotadas que estão nos horários de maior movimento. Sem linhas de metrô que cheguem aos pontos extremos da cidade e com itinerários de ônibus de tipo pinga-pinga que levam passageiros apenas aos acessos do metrô, sobrecarregando as estações de transbordo para as linhas ferroviárias, todo o sistema sobre o qual se assenta a mobilidade da cidade encontra-se em vias de colapsar.
Mesmo tão próximos governador e prefeito, a ponto de lançarem chapa comum para as eleições municipais, não são capazes de entender o que até uma criança brincando de trenzinho pode entender: não é possível que num plano – o municipal – as autoridades estimulem o uso do automóvel banindo ônibus fretados e encurtando linhas, e, noutro plano – o estadual – as autoridades optem por postergar investimentos em reforço e ampliação da infraestrutura de atendimento ao usuário de trens metropolitanos, a começar por energia e controles automatizados.
Diante de tamanha incapacidade de preparar uma das maiores cidades do mundo para a era pós-automóvel, governantes tão pródigos em desculpas por suas falhas bem poderiam usar as peças de roupas encontradas nas sabotagens alardeadas para finalmente apresentarem-se ao público, em outubro próximo, como de fato são vistos: palhaços a espera de um chute no traseiro.
A foto que ilustra a matéria diz tudo
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