A mobilização de caminhoneiros que desabastece de mercadorias a cidade de São Paulo, em protesto contra a proibição da circulação de veículos pesados nas marginais, é vendida pelas autoridades municipais como atentado de grupos organizados e de sindicatos contra a população.
Não é bem assim. O protesto traduz o inconformismo com um conjunto de medidas disfuncionais para a vida da cidade que vem sendo tomadas pelos órgãos encarregados de assegurar a mobilidade na metrópole, desde que a precariedade da infraestrutura de transportes públicos transformou o meio individual de transporte em alternativa mais viável de deslocamento no espaço urbano da capital.
Essas decisões são pautadas por critérios de visibilidade das medidas anunciadas, deixando aos agentes econômicos os custos pela sua adoção. No caso da proibição de caminhões nas marginais, a norma estabelecida foi justificada como sendo em decorrência da operação do Rodoanel; outra via anelar em torno da cidade que, como o circuito integrado pelas marginais, permite também que se chegue aos diferentes quadrantes da metrópole.
Mas com a previsão da conclusão do Rodoanel apenas para 2014, inexiste uma rota alternativa que permita aos veículos de carga de grande porte alcançar os armazéns e silos de transbordo de cargas mais próximos das zonas centrais, tampouco existe a possibilidade do abastecimento de bens essenciais como gasolina e combustíveis em caráter contínuo.
Na ausência dessa infraestrutura de fornecimento de bens e mercadorias à cidade, as empresas transportadoras que se ocupam desses serviços devem arcar, por si mesmas, com os custos da guarda e do transporte mais oneroso em termos trabalhistas nos períodos de circulação estipulados pela prefeitura.
Não há como deixar de ver na greve que paralisa o setor de transporte de cargas a justa reivindicação por critérios de circulação que reconheçam as lacunas de instrumentos para que a restrição venha ser atendida sem desorganizar a própria atividade e onerar, por fim, os consumidores pela transferência dos custos decorrentes da medida.
Mas, não poderiam os burocratas de serviço na prefeitura deixar de ceder a mais uma medida de fácil apelo eleitoral, porque privilegia, a princípio quem possui automóvel. Acostumou-se o prefeito com o ganho político proporcionado por medidas que mostram a cidade de São Paulo como se fosse uma Estocolmo dos trópicos.
Depois de haver fechado casas noturnas e ter retirado cartazes das ruas, Kassab e sua turma pensam que podem transformar os caminhões que servem a cidade em carruagens de abóbora, como na estória de Cinderela. Acuado, contudo, pelo que fez com o transporte de passageiros e agora também com o transporte de cargas, voltará a ser ele mesmo – quando der meia noite no dia das eleições de outubro – simplesmente Kassab o incompetente.
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