Aos poucos vão diminuindo o alarido sobre a crise internacional e a sensação de hecatombe que produziria sobre a economia brasileira.
Do lado de lá do Atlântico, o segundo pacote de ajuda ao sistema financeiro começa a atenuar os efeitos mais graves de desequilíbrio entre ativos e passivos dos bancos europeus e os casos mais graves de ruptura institucional no arranjo monetário do euro começam a ser contornados.
A Grécia já não se desgarrará, enquanto Portugal e Espanha reagem com mais facilidade ao purgativo de orçamentos fiscais mais apertados.
Ao norte da América latina, os Estados Unidos mostram o quanto há de venturoso possuir, na era do conhecimento, uma economia baseada em larga medida na inovação e na tecnologia. Enquanto setores tradicionais, como indústria e transformação, retomam lentamente o passo de crescimento, o setor de serviços mostra resultados surpreendentes no ritmo das contratações e empregos.
Tudo parece indicar que os impasses de 2011 na economia internacional não passaram de uma ligeira recaída no processo de recuperação do contágio das sub-prime (créditos podres securitizados por instituições de investimentos) iniciada de forma mais consistente quase 2 anos antes.
Os efeitos para o Brasil desse quadro externo favorável são que dificuldades conhecidas retomam agora seu lugar na agenda dos grandes problemas nacionais que aguardam solução: a queda na taxa de juros, como forma mais consistente de lidar com o problema cambial derivado da terapia de injeção monetária para salvar mundo afora grandes bancos; e a elevação da taxa de investimentos dos atuais 19% para desejáveis 21% , em relativamente curto espaço de tempo, a fim de ampliar o horizonte de crescimento econômico brasileiro sem que se gere inflação.
A solução desses dois problemas mais gerais cobra, contudo, uma série de medidas encadeadas no tempo de ajustes, estímulos e mudanças que bem poderiam consumir um governo inteiro, como haverá de ser com o governo Dilma. Mas o esforço ao final terá valido a pena.
Porque com a redução em termos estruturais das taxas de juros terá sido levado a bom termo o segundo processo mais relevante de transformações macroeconômicas já empreendidas no Brasil desde a eliminação do descontrole inflacionário na década de 1990.
Além de constituir passo formidável na conquista de investimentos sustentáveis na indústria, uma maior aproximação dos juros internos aos praticados nas principais praças financeiras do mundo terá o efeito de frear o ingresso de dólares no País em busca de ganhos fáceis de senhoriagem financeira, também causa da valorização artificial do real com todas suas consequências danosas para o emprego e, de novo, para o investimento em setores industriais menos competitivos.
Por sua vez, o deslocamento do que se convencionou chamar de formação bruta de capital em mais 2 ou 3 pontos percentuais fornecerá ao País a pista de que precisa para poder avançar à taxas de crescimento do PIB cada vez mais robustas, de modo a colocar-se logo em passo com o avanço de outros destacados emergentes, que o fazem em ritmo que é pelo menos o dobro do brasileiro.
O fato de que o caminho para esse programa visando proporcionar ao País condições de desenvolvimento prolongado no tempo, de modo a elevar o padrão médio de vida da população, esteja agora praticamente livre de ameaças externas, não deve fazer esquecer que seu traçado é politicamente construído. No sentido de que constitui-se das opções feitas com relação às diferentes modalidades possíveis de desenvolvimento e dos valores que possam ser adotados como guia para essa conquista.
O propósito de um tipo de desenvolvimento autônomo em relação à conveniências de outros países, que seja inclusivo e promova ao mesmo tempo a integração das demais nações da América do sul, não pode prescindir do combate ideológico permanente às visões de cunho liberal em economia e políticas públicas, lastreadas em visões de mundo próprias dos setores rentistas da sociedade, persuadidos a retomar a hegemonia na condução dos interesses nacionais.
Nunca como agora economia e política mostraram-se tão emaranhadas nas perspectivas que se abrem ao País em futuro de não mais que uma década . E da mesma forma que em outros momentos críticos da história, das escolhas em economia política feitas depende a afirmação dos interesses mais genuinamente nacionais.
Algo nada diferente do que se passa também em outros países que atravessam igual passagem para a condição de nações desenvolvidas, como Rússia, Índia e China.
Nenhum comentário:
Postar um comentário