O país vive um clima de bonança e isso não é bom para a oposição. No cenário interno a economia continua exibindo robusto crescimento de quase 3% , a inflação recua em direção aos 4,5% ao ano, os juros caminham para alinhar-se com as taxas de longo prazo de 6% e o desemprego é menor a cada nova contagem do IBGE, aproximando-se dos 5,5% da população economicamente ativa; um dos menores percentuais do mundo.
A onda de choque vinda da Europa, que se esperava repercutisse no País com força o bastante para por em xeque as políticas de governo, vem sendo dissipada em nova rodada de depreciação do euro que, se não é bom para competitividade da moeda brasileira, tampouco representa um desastre contra o qual não há remédio à disposição nas prateleiras do Ministério da Fazenda.
O ambiente político se desanuviou com o aproveitamento que soube fazer em seu favor o governo das formações nebulosas dos escândalos ministeriais recentes, a fim de extrair a energia necessária para conduzir uma reforma ministerial à frio que arrancou a presidente do garrote que lhe pretenderam impor às vésperas de eleições os partidos aliados.
A mídia já não pode falar de corrupção como antes, porque foram retirados do comando das respectivas pastas ministros contra os quais pesavam suspeitas de irregularidade. Sem que se desse conta, a oposição colaborou com sua fanfarra para que fosse emprestado ao governo o respaldo necessário a uma reforma ministerial que desse perfil próprio ao governo Dilma.
Naturamente não ficaram contentes os partidos aliados com essa espécie de reforma extra-agenda que lhes impôs o governo com o apoio da mídia, e fez marcar seu desagravo com o ato de sublevação que representou a não condução do indicado oficial ao cargo de diretor geral da Agência Nacional dos Transportes.
Coerente com a estratégia que havia posto em movimento, a presidente não titubeou diante da rebeldia encetada e afastou, de uma só pernada, os dois representantes do governo nas duas casas do parlamento, egressos dos dois principais partidos de sua base de sustentação. Também neste episódio teve a mídia a seu favor e com ela parcela preponderante da opinião pública.
É a isso que chamam agora de crise: a perplexidade de partidos aliados que dormiram sonhando com um parlamentarismo contingente, em que teriam o executivo por refém, e acordaram no presidencialismo de forte predomínio do chefe do executivo que vigora historicamente no arranjo institucional brasileiro.
Em ano eleitoral, em que precisam mais do que nunca de instrumentos e garantias federais para o sucesso na disputa de vida e morte que travam pela hegemonia nas grandes cidades do País – e com isso, também pelo tamanho futuro das bancadas – a rebeldia que agita os partidos da base de apoio ao governo não deverá ter vida longa.
Resistir à chantagem que terá lugar quando das negociações visando a composição de chapas para a disputa municipal e a votação de matérias de interesse do governo no Congresso, será o gesto natural que adotará a presidente no jogo corajoso que decidiu jogar.
As composições de chapas constituem questão de economia interna dos partidos político e deverão ser resolvidas com a permuta de apoios em cidades julgadas de importância pelas lideranças para a configuração de forças no período pós-eleitoral.
As matérias de interesse do governo deverão de todo modo aguardar melhor oportunidade de votação, e a nova correlação de poder que haverá de emergir depois das eleições de outubro permitirá com maior percuciência completar a reforma ministerial já iniciada bem como reconfigurar a aliança para a sucessão presidencial.
Lula, vivo como nunca, será a carta na manga de que disporá o PT para fazer lembrar aos aliados de agora que, por questão de imposição física, alianças se fazem a partir do elo mais forte de uma corrente.
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