terça-feira, 6 de março de 2012

Ninguém mais anda em São Paulo

O mais divertido hobby dos nossos barnabés do planejamento de transportes urbano é fazer mudanças no ordenamento do sistema para testar alternativas de desempenho.
 Miram-se em geral no que é praticado em grandes capitais do mundo sem se importarem com as contingências e limitações da malha que administram.
São as consequências de uma ingerência irresponsável desse tipo que enfrentam agora os paulistanos, as quais explicam o agravamento do trânsito e a superlotação de ônibus e trens do metrô.

O que pretenderam os planejadores em São Paulo foi imitar a lógica que preside o sistema de transportes de grandes cidades europeias. Lá há muito tempo os ônibus deixaram de cortar as metrópoles em todas as direções para levar passageiros em percursos completos de um extremo a outro.
A extensa e radicular malha de metrô e trólebus ali existente reorganizou o transporte com base em hubs de transbordo estabelecidos nos terminais de cada um desses modais. A partir de cada um deles, os passageiros dirigem-se a outros hubs secundários ou centrais, para o prosseguimento de viagem até o destino final.
Acompanhou tal concepção a adoção de modalidades de bilhetes únicos – seja por tempo seja por viagem – a fim de conferir flexibilidade ao sistema.
A tentativa de aplicação da mesma lógica em São Paulo sem que houvesse a mesma disponibilidade infraestrutura de meios de grande capacidade, tem produzido apenas sobrecarregamento da rede de metrô e a intensificação de congestionamentos, devido ao maior número de usuários que passaram a optar pelo transporte individual diante dos gargalos produzidos pela insensata reordenação do sistema.
Com congestionamentos ainda maiores, mesmo os coletivos que deveriam cobrir ligações mais curtas entre terminais acabam retidos no trânsito, comprometendo ainda mais a mobilidade geral.

Perde com isso o passageiro que, além do tempo exagerado que é obrigado a despender no interior desses coletivos, vê-se na contingência de gastar mais em múltiplos deslocamentos em pequenos trechos.
Tivesse a cidade uma malha de linhas de metrô subterrâneo e de superfície que fosse o triplo da existente hoje, seria possível que as mudanças postas em práticas pela municipalidade funcionassem.

Mas com linhas subdimensionadas e a completa estagnação da oferta de outros meios de transporte coletivo por décadas, o que se assiste na cidade de São Paulo é ao espetáculo da incompetência denunciada em pontos de ônibus lotados e ruas com trânsito absolutamente parado.

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