Não se deve perder por nada a entrevista exclusiva que Fernando Henrique Cardoso deu ao semanário inglês The Economist, reproduzida em trechos pelo jornal o Estado de São Paulo e postada mais abaixo.
O ponto central da entrevista, como não poderia deixar de ser, é o personalismo exibido pelo ex-presidente, que resume a explicação de toda a crise pelo qual atravessa o partido da oposição como resultante de um vácuo de poder deixado pela sua principesca “decisão” de abdicar da liderança do partido a fim de franquear espaços a novas lideranças.
É ai que entra José Serra, pintado como um candidato que aproveitou essa brecha sem dispôr de legitimidade para tanto, sendo, por isso, contestado por outros postulantes numa disputa que tem mantido o partido imobilizado.
FHC não faz rodeios para declarar que a vez pertence a Aécio Neves como candidato à presidência da república, mas dúvida que Serra tenha a grandeza de perceber que caberia a ele contribuir com a renovação do partido ausentando-se da disputa.
Também na avaliação que faz das causas da derrota aponta o dedo para o ex-governador de São Paulo. Com discurso errado, teria se isolado dentro do partido, não sabendo formar as alianças que o levariam à vitória. Julga que Aécio vem de uma cultura política diferente, a mineira, o que o habilitaria a fazer diferente. Só não sabe se Serra o deixará fazer o que precisaria ser feito dentro e fora do partido, visto ambição de seu ex-ministro, insinua.
Porém, o mais interessante FHC deixa para o final. Dentre diferentes nomes que poderiam vir a substituí-lo a frente das oposições cita um que não é oposicionista, mas cuja menção deixa bem claro em qual figura a “inteligentizia” tucana apostará suas fichas: Eduardo Campos, o jovem governador de Pernambuco.
Ressalta, no entanto, que a possível candidatura extra-tucana de Campos, em torno da qual se reunirão todos no futuro, não é para tão já. O que revela que o ex-presidente também não aposta um centavo que Aécio, acuado pelo cão raivoso Serra, possa vencer agora.
Em entrevista à 'Economist', ex-presidente diz que Serra pode 'abrir espaço' em 2014
23 de janeiro de 2012 | 17h 24
Em uma conversa com a jornalista Helen Joyce, chefe do escritório da revista em São Paulo, realizada no dia 12 de janeiro, o ex-presidente destaca a importância de unidade dentro do PSDB para a escolha de seu candidato daqui a três anos. Questionado sobre quem seria o "candidato natural", FHC respondeu sem rodeios: "Aécio Neves".
O tucano não retira Serra da disputa, indicando que "as coisas ficarão mais claras depois das eleições municipais". No entanto, FHC indica que o ex-governador pode desistir da disputa para promover a renovação do partido e chega a compará-lo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disputou a Presidência diversas vezes.
"No caso do PSDB, o ex-governador Serra desempenha o papel do Lula: ele tem coragem, ele gosta de competir. Eu não sei até que ponto ele vai estar convencido de que isso não é para ele, que deve abrir espaço para os outros", avaliou o ex-presidente.
Já a participação do governador paulista Geraldo Alckmin na disputa nacional de 2014 foi praticamente descartada por FHC.
O ex-presidente criticou a campanha tucana à Presidência em 2010, quando Serra foi derrotado por Dilma Rousseff no 2º turno. Ele afirma que "o PSDB cometeu erros enormes" e insinua que o fracasso se deveu ao isolamento de Serra dentro do partido.
"Nosso candidato estava isolado internamente. O que estou tentando expressar é que seria possível vencer. O erro foi nosso.", disse à Economist.
Perguntado pela jornalista se o partido conseguiria vencer com o mesmo candidato - Serra -, FHC foi reticente: "Bom... Talvez não".
Para o ex-presidente, o partido sabe que precisa estar unido, mas lamenta que a política partidária brasileira se baseie na personalidade de seus protagonistas, e não em valores. Ele diz acreditar que Aécio tenha forçar para vencer as eleições.
"Aécio é de uma cultura brasileira mais tradicional, mais disposta a estabelecer alianças. Ele tem apoio em Minas Gerais. São Paulo não é assim, é sempre dividido, é muito grande", disse.
FHC afirma que o PSDB ficou carente de lideranças fortes depois que deixou o Palácio do Planalto, em janeiro de 2003. Ele sinaliza que não houve consenso na organização hierárquica do partido após a morte do ex-governador de São Paulo Mário Covas - seu sucessor natural no partido.
"(Em 2002,) eu decidi que era hora de abrir espaço para outros, não apenas por generosidade, mas também porque eu estava cansado de exercer a liderança política. Covas morreu e nenhum líder claro me substituiu. Havia uma tensão permanente entre três ou quatro candidatos, e, no fim, o Serra se tornou candidato, mas sem convencer os outros de que ele era o homem certo", descreveu FHC. "Eu tomei a minha decisão: abrir espaço. E esse espaço ainda está aberto."
O ex-presidente aponta a existência de uma "nova geração" de líderes, em que se incluem, além de Aécio e Serra, o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati; o governador do Pará, Simão Jatene; e o governador de Goiás, Marconi Perillo. FHC também faz um aceno ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB.
"(Eduardo Campos) pode se tornar um líder - ele tem algumas das características necessárias. Ele seria capaz (de se fortalecer), mas ainda não. É uma possibilidade", disse.
De @joseserra_ para FHC, na voz de Fafá de Belém: ♫♫ Abandonado por você, ♫♫ abandonado por você, ♫♫ Tenho tentado te esquecer, ♫♫ abandonado por vocêêêêêêêêêêêê ♫♫♫♫♫
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