A Rede Globo de Televisão voltou a exercitar um dos seus esportes favoritos: trabalhar o imaginário coletivo dos telespectadores para interferir na política brasileira, de modo a beneficiar-se com o favorecimento a políticos eleitos com sua ajuda.
Vem sendo apresentada em horário nobre uma mini-série sobre política e políticos que parodia o jogo do poder e faz uma caricatura dos desafios que o Brasil enfrenta para superar as consequências de uma herança patrimonialista no campo da administração pública.
O protagonista da estória é um presidente de propósitos idealistas cujos planos reformistas são obstados por aliados inescrupulosos que integram o ministério deixado por seu antecessor e diante dos quais não refreia o ímpeto de demití-los.
O vilão é um senador com longos anos de carreira e que comanda, desde o Congresso, o tráfico de influências e os esquemas de corrupção de que quer livrar-se o governante. Mulheres e cenas de adultério comparecem na trama como que um ingrediente à parte para fazer passar a luxúria como um pecado menor diante dos desafios da cena brasileira.
Mas o que faz a Globo com tal enredo senão repetir a si mesma nas tentativas feitas anteriormente de imiscuir-se nos negócios de estado, elegendo e destronando mandatários? Está ali um Collor de Melo em melhor talhe já não querendo combater marajás, mas moralizar a gestão pública. Está também um Sarney, gênio do mal no comando de uma espécie de rede federal de chantagens destinada a apropriar-se da nação.
Dá para identificar entes mais abstratos no drama, como a bancada do PMDB e os escândalos de que a Globo orgulha-se de haver noticiado. E um projeto, o de corrigir a saga do primeiro herói alagoano que não deu certo pela, quem sabe, de um mineiro que promova o choque de gestão necessário a resguardar a emissora do perigoso quadro de ameaças, oferecido pela concorrência, a seu império de negócios.
Apenas fica de fora da ficção a oposição política a esse suposto governo, que se não existe na trama não é por distração. É porque, assim como na vida real, quem faz oposição ao governo estabelecido no país ficcional é a própria Globo. Onisciente, revela aos olhos do eleitor ignorante o que sua condição de iletrado não permite ver.
Extrair opositores do país imaginário apresentado no enredo é uma forma da estação de TV falar diretamente àqueles a quem pretende manipular: “vamos, rebelem-se pelo voto, coloquem de volta no poder aqueles que farão o serviço moral que propomos a vocês”.
Depois que o ex-diretor de programação da Rede Globo, Bonifácio Sobrinho, revelou em livro que foram eles mesmos quem elegeram Collor, os redatores da TV foram convocados para diluir a história e reconstruí-la a partir de um ponto em que já não haja partidos interferindo no governo e apenas reality shows, no qual “quem decide é você”.
Daí as referências à internet e às redes sociais, que faz o protagonista principal, como instrumento de contrapressão àqueles que querem limitá-lo no combate aos feios, sujos e malvados. Curiosamente, o mesmo que pregam os oposicionistas de carne e osso quanto ao papel de movimentos anticorrupção existente apenas na virtualidade do “facebook”.
Não resta dúvida que a Globo está em campanha. E os colunistas de política da grande mídia entenderam a senha de prepararem-se para fazer da mini-série o cavalo de tróia de uma pregação moral que contraponha o que poderia ser ao que é de fato a cena política brasileira, conquistando corações e mentes até as eleições de outubro.
Enquanto isso, emissora permite-se um estuprinho em horário nobre para distrair a galera, já que ninguém é de ferro. Mas perguntamos nós, os de cá que trabalham a construção de um país que não seja apenas para a fortuna da grande mídia. Onde está o governo brasileiro que se elegendo contra as manobras da Rede Globo a tudo assiste como que a um big brother dentro do big brother?
A depender apenas dos índices de audiência do horário eleitoral fortuito, digo, da minissérie, a candidatura do Aécio já nasceu morta.
ResponderExcluirAliás, a cada dia que passa o PSDB se assemelha mais ao José do poema de Drummond: está sem mulher, está sem carinho, está sem discurso... Mas ainda pode beber, como bem sabem o próprio Aécio "Bafômetro" Neves e Lúcia Hic Hicpólito, gloriosa devota de São João da Barra!