quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Os covardes que agridem os fracos



Imagens repugnantes de moradores de rua sendo agredidos pela guarda municipal vêm sendo mostradas em imagens corajosas de determinado canal de televisão.
Os fatos referem-se a práticas reiteradas de agentes estatais que vão desde o lançamento de água contra pessoas dormindo nas calçadas, por funcionários de regionais, a espancamento de grupos abrigados sob marquise e viadutos.
Muito embora esse tipo de ação tenha sempre se verificado em todas as administrações municipais, porque refletem a intolerância da própria sociedade que clama pela ação higienista do poder municipal, apenas na gestão de Andrea Matarazzo à frente da Secretaria das Subprefeituras é que adquiriu caráter de política pública oficiosa.
Andrea Matarazzo colocou à frente da Coordenadoria da Guarda Municipal na Subprefeitura da Sé Daniel Salati, ex-diretor da CESP e professor aposentado da UNESP, que com muito “gusto” e à mando de Andrea comandava rondas noturnas para expulsar de modo violento moradores de rua da região central da cidade.
A narrativa que vem a seguir foi reproduzida do relato de um dos soldados de Salatti e refere-se a uma noite em que, depois de lançar rojões contra indivíduos abrigados sob um viaduto e ato continuo agredi-los a golpes de porrete, uma mulher grávida projeta-se das trevas, arranca as roupas e desafia o chefe covarde. O texto foi escrito sob o forte impulso da emoção que o relato invocou.
“Num dia qualquer num beco qualquer de uma São Paulo escura, uma moradora de rua a quem a vida conduzira a sarjeta, portando no ventre o herdeiro da sua desgraça, viu-se cercada por homens fortes saídos da madrugada. Traziam na mão o insensível porrete e no peito as insígnias de autoridade. Agiam nas trevas porque não lhes permitia o disfarce de agentes públicos que a missão indigna fosse executada à luz do dia.
Diz-se que a mulher subitamente despertada do abandono por estampidos de rojão, testemunhava qual animal acuado o espancamento impiedoso de seus pares pelos homens que as sobram traziam. Os pedidos de clemência se chegavam a sair das gargantas logo não sobreviviam ao cimento frio.
A frente dos agressores, o chefe. Olhos coalhados de perversão, comandava com íris ensandecidas a precipitação dos porretes sobre as ossadas andrajosas. Então o impensável sucedeu: a mulher avançando entre os demais desvalidos postou-se diante do comandante dos algozes.
Fitando a alma que a fera não tinha arrancou as poucas roupas que vestia para expor ao selvagem o último trunfo da sua miserável existência, a barriga de mãe vinda a lume pela última estrela sextante daquela madrugada imunda.
Carregando em si o filho ainda não vindo confrontou a criatura noturna e conclamou-o com o fio de voz que lhe restava a perpetrar o ato de suprema afronta, ao mesmo tempo sacrifício e prêmio derradeiro de uma vida perdida.
Mate-me! Mate-me! Gritava a mulher nua como se divisasse no ofensor os próprios deuses que, ao invés da ajuda na maternidade desassistida enviavam-lhe a incompreensível punição por meio de soturna figura.
...E o monstro, que talvez um dia tivera mãe ou quem sabe até filhas, viu-se perpassado em único e breve segundo por aquele sentimento de piedade que é dado experimentar até aos mais miseráveis nesta vida. Mas que por tratar-se de algo que lhes é antinatural escapa aos seus corações como sangue ao rosto dos agonizantes.
Dissipado o estupor o algoz passou a ganir a ordem patética : Vista-se! Vista-se!
Então, como num milagre, da sarjeta o esquálido corpo materno ergueu-se gigante diante do algoz, reduzido à força da covardia ao mais insignificante nanismo. Assim foi que a dor venceu.
Sublime, a dor venceu... mesmo que ninguém tenha notado seu uivo no breu da noite nem seus espasmos no corpo tenso .
Mas eis que por ironia ou divina justiça o halo da anônima virtude, em confronto solitário com a ignomia, teve o condão de lembrar-nos no curto instante da frase lida o quanto damos nós mesmos abrigo à injustiça e à covardia.
Peçamos então nós, em cujos peitos se distende uma última fibra de humanidade perdão a toda gente ofendida: perdoa mãe querida, eles não sabem o que fazem”


  

Um comentário:

  1. Os pobres sao sempre um problema,ne'! A classe merdia nao gosta de ver 'MINDINGOS' pela rua, entao os mui democraticos representantes da elite paulistana mandam ver. Lamentavel.

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