Aos poucos, como pedras sob águas turvas que se tornam cada vez mais discerníveis na medida em que a corrente flui, começa a ficar também mais clara a relação entre as suspeitas que envolvem a inspeção veicular nas cidades de São Paulo e de Natal.
Como um esquema colaborou com o outro e ambos atuaram com o propósito de alavancar fortunas a empresas e caixas de campanha eleitorais.
Que se lance luz agora sobre esse homem: João Faustino. Ninguém o conhece, mas esse João, agora preso pela polícia federal por chefiar esquema de fraude nos serviços de inspeção veicular na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, foi feito suplente de senador de Agripino Maia, o severo tribuno da plebe nordestino, pelas mãos do paulista José Serra.
Estranho não? O padrinho do prefeito paulistano Kassab, com os bens bloqueados pela Justiça e sob risco de impeachment por suspeita de fraude na inspeção veicular da cidade de São Paulo, patrocinou politicamente outro político com domicílio a quase 4.000 km de distância, por sua vez ele também envolvido em fraudes bilionárias nos serviços de inspeção veicular.
Mas não se apresse o leitor achando que por suas pretensões eleitorais em âmbito nacional, José Serra foi buscar amigos e apoios lá onde as necessidades de voto o exigiriam. Não, José era chapa de João desde os tempos da UNE quando o famigerado (diria Guimarães Rosa) João Faustino, presidiu a seção Norte Rio Grandense da entidade.
Mais, abonou-lhe a ficha do PSDB e abrigou-lhe na antessala de Aloysio Nunes, então seu Chefe da Casa Civil, dando ao amigo o pomposo título de Sub-Chefe da Casa Civil, cargo de que desfrutou por 2 anos e meio. A convivência entre Aloysio e João tampouco foi difícil desde que um e outro trabalharam juntos no governo Fernando Henrique Cardoso, Faustino na condição de Secretário da Presidência para Assuntos Federativos e Aloysio na de Secretário Particular do Presidente.
À aproximação da campanha eleitoral, Serra incumbiu seu “protegée” de levantar dinheiro no nordeste. Com uma boa ajuda de custo no bolso e uma idéia esplêndida na cabeça: reproduzir entre os nordestinos a bilionária experiência da inspeção veicular da cidade de São Paulo que ele, Serra, havia deixada prontinha para ser operada por seu substituto e depois prefeito eleito graças a seu esforço pessoal, Gilberto Kassab.
João Faustino, usando o nome do candidato presidencial, foi direto à governadora Wilma Maia que tratou às pressas de fazer baixar uma lei estadual instituindo a inspeção veicular no estado.
Os investigadores interceptaram mensagens eletrônicas entre os operadores do esquema que demonstram a atuação da quadrilha na elaboração da lei, do edital de concorrência e até das resposta a serem adotadas no caso de recursos impetrados por concorrentes. Do mesmo modo, as investigações detectaram troca de informações com agentes públicos da cidade de São Paulo com a finalidade de conferir solidez jurídica à lei e aos documentos legais que instauraram a inspeção veicular em Natal.
Com a prisão de João Faustino e a foice que paira sobre a cabeça de Kassab, restam aniquiladas as possibilidades de uma aliança PSDB-PSD em São Paulo, da mesma forma que uma saída emergencial de Serra como candidato a prefeito. Uma mensagem no twitter bem ironizou a situação deflagrada pelo episódio, “não dá para controlar...”, lembrando o nome do consórcio paulista pivô do escândalo.
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