segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Alguem viu FHC no conflito da maconha dentro da USP?

Parece que progredíamos em termos da compreensão da mecânica do crime organizado e que, finalmente, gente conhecida, com poder de influenciar a opinião pública e os políticos, assumia posições novas mostrando as conexões existentes entre os rigores punitivos das leis antidrogas, no que respeita ao consumo da maconha, e os crimes de extorsão e de colaboração com o tráfico perpretados pelo aparelho policial.
Fernando Henrique foi uma dessas figuras com notoriedade que levantaram a bola sobre o assunto. Deu entrevistas, escreveu artigos e até protagonizou um documentário em que condenava o arcaísmo das leis e a contribuição que davam aos sempre crescentes índices de criminalidade nas grandes metrópoles brasileiras.
O arejamento da discussão sobre o tratamento que deveria ser dado ao usuário da maconha criou condições para que os jovens saíssem às ruas para levantar as mesmas bandeiras, a ponto de forçar o Superior Tribunal Federal a considerar legais as manifestações de rua com esse propósito.
Esperava-se que, por tudo isso, Fernando Henrique Cardoso e os que lhe secundaram na defesa da flexibilização da lei tivessem outra postura ao primeiro caso concreto de insurgência com que se deparassem, como resultado do respaldo à causa da liberdade que pareceram representar aos jovens mais mobilizados em torno da questão, dentre os quais, é claro, os estudantes da USP.
Mas surpresa. Não apenas os arautos de uma nova postura diante da lei deixaram de intervir quando eclodiu uma crise em torno do tema no momento em que policiais detiveram jovens no campus, lócus da autonomia universitária, como permitiram uma escalada de violência que culminou com a ocupação da reitoria da universidade.
Daí em diante silêncio tumular da principal referência na temática das drogas, já que ninguém mais que FHC tinha o dever moral de pronunciar-se sobre a marcha da insensatez que teve lugar quando a PM optou por levar, por conta e risco, dois jovens à delegacia.
O desdobramento dos acontecimentos expressa a falta de seriedade dos nossos políticos ao levantar temas de interesse da sociedade. A qualquer momento poderá surgir uma vítima fatal. E a leviandade com fins eleitorais cobrará seu preço em decilitros de sangue de alguém cheio de esperança que cometeu o erro de acreditar nas raposas desdentadas da política brasileira. 

Um comentário:

  1. Caríssimo,
    Ninguém viu FHC no meio do conflito porque defender uma causa é uma coisa, e tomar partido no meio do conflito é outra. A lei pode ser arcaica, ultrapassada, obsoleta. Mas ainda é a Lei. Se a Reitoria permite oficialmente o fumódromo no Campus - o que já ocorre extra-oficialmente em todas as faculdades e universidades do país - no mês que vem, eles iam passar a fumar dentro da sala de aula...E os desejos e direitos de quem não gosta, não fuma e não aprova??
    Passamos por um momento em que a sociedade tenta banir os motoristas alcoolizados, e aí vamos permitir que a maconha seja liberada em qualquer ambiente?! Depois o estudante(?) pode pegar o carro no Campus (claro que a grande maioria possui seu carro)e sair dirigindo...
    Como disse o sr. Ricardo Boechat: se eles preferem fumar maconha, façam-o em outro lugar, mas deixem suas vagas a quem deseja estudar.

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