Com demora de quase 2 meses Fernando Henrique Cardoso deu as caras no debate que cerca a repressão aos estudantes da USP. Perdeu a oportunidade o ex-presidente de mostrar que a discussão que propunha de abrandamento das leis repressivas que restringiam o consumo da maconha era algo para ser levado a sério.
O que se discute hoje na USP vai muito além de um episódio policial deflagrado pela recusa dos estudantes de submeterem-se aos ditames da lei atual sobre uso e porte de drogas. Diz respeito mesmo ao novo estatuto que deve ser dado à canabis em nossa sociedade, depois que o álcool passou a integrar o lazer de pré-adolescentes, os neurolépticos a ser prescritos como pastilhas para a garganta e os grandes centros urbanos povoados por inúmeras cracolândias.
Nesse quadro de disseminação de drogas de muito mais alto poder ofensivo à saúde que a própria maconha é que os jovens saíram às ruas e conquistaram o direito, reconhecido pelo Supremo Federal, de manifestarem-se livremente em favor da descriminalização da erva. Isso depois de a polícia paulista haver, por mais de uma vez, dispersado passeatas a golpes de cassetetes e lançamento de bombas de gás.
Fernando Henrique tinha o direito de ser contra ou favor os estudantes. O que não tinha direito era de silenciar quando a Universidade em que foi professor titular e de onde emergiu para vida pública haver sido invadida e ter sua a autonomia ferida com a prisão em massa de estudantes que tinham conquistado na prática, em décadas de persistência, o direito de fumar em áreas determinadas do campus.
Só a hipocrisia de uma classe média boçal, que se entope de remédios e que enche a cara de álcool quase que diariamente é capaz de considerar que a questão da maconha deva ser tratada como caso de polícia. Principalmente depois que autoridades e personalidades como Fernando Henrique passaram a defender publicamente a flexibilização das leis.
O lamentável é que o patrocinador desse episódio negro das lutas dos jovens brasileiros para repaginar os costumes e promover a abertura cultural tenha sido um partido que se reivindica socialdemocrata e defensor das liberdades democráticas. Partido também da cultura e da abertura para o mundo. Se foi, já não é.
As coisas passam, e como tudo na história também o velho preconceito com relação à maconha, goste-se da idéia ou não, está passando. E passarão com o preconceito os velhos partidos políticos que incapazes de compreender as boas novas que os tempos trazem, preparam-se para governar apenas para os mais conservadores com a bíblia e o porrete nas mãos.
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