quinta-feira, 28 de março de 2013

DISCRETO SUICÍDIO







A estilista Clotilde Orozco foi encontrada estatelada defronte o prédio em que morava em Higienópolis. Frequentadora da mídia, a empresária vinha passando por dificuldades financeiras nos negócios da moda, ramo em que estava havia 30 anos.


Principalmente depois que a polícia desmantelou serviços de agenciamento de cidadãos bolivianos que viviam em regime semiescravo para fábricas da região da Barra Funda, em São Paulo, onde tinha 200 empregados.

O curioso no caso é que a imprensa tão pródiga em anunciar fatalidades com alarde, não caracterizou a morte da colunável como suicídio, nem na sua forma atenuada de “queda seguida de morte”. Para a Folha de São Paulo e outros, a modista foi simplesmente “encontrada morta” no condomínio de residência e transportada pelo serviço de emergência.

Há duas hipóteses para a hipocrisia dos veículos de comunicação no caso. O primeiro é que se sentiam culpados pelo suicídio da mulher, esquecida pelas seções especializadas em moda desde que uma nova geração projetou-se com a glamorização dos desfiles da São Paulo Fashion Week.

A outra mais prosaica é que editores e jornalistas sentem-se penalizados quando gente igual a eles, que frequenta as mesmas rodas sociais e cujos cachorrinhos urinam nos meus postes do bairro mais chique de São Paulo, vê-se envolvida em episódios tão pouco estéticos como são as mortes violentas.

Nessas situações sentem-se tocados por uma compaixão que pensam alcançar também os leitores, os quais, de outro modo, se surpreendem amiúde com a omissão de registros sobre corpos que encontram todos os dias nas ruas. Mortes que por não serem noticiadas também não merecem a mesma atenção da polícia, predestinadas, por isso, a engrossarem as estatísticas de casos sem solução. Quase 75% do total, diga-se de passagem.

Mas não é preciso muita investigação sobre essa nova vítima da notoriedade, controlada a bom preço pela mídia chorosa dos momentos de desespero quando se desligam os holofotes e recolhem-se os microfones. A solidão, o abandono e, certamente, uma boa dose de antidepressivos. 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Quem tem medo de Eduardo Campos?






No ano de 1966, Elizabeth Taylor surpreendia as plateias do mundo encenando uma dona de casa enfastiada com a rotina do casamento e em guerra velada contra o marido, nas telas e na vida real, Richard Burton.


De tão convincentes na representação do jovem casal de professores universitários, entregue ao álcool e aos ataques verbais mútuos, a dupla ganhou no ano seguinte o prêmio da academia de cinema de melhor ator e melhor atriz. Na época revistas de celebridades noticiavam os mesmos conflitos na vida pessoal dos atores.


No roteiro que o célebre dramaturgo Edward Albee havia escrito originalmente para o teatro, a crueldade de um parceiro com o outro não se saciava com as ofensas mútuas e necessitava do envolvimento de terceiros para consumar-se. A fim de extravasá-la convidam um casal amigo para o juntar e entregam-se a uma espécie de jogo da verdade em que toda sorte de mentiras e falsidades vem à tona numa longa madrugada de embriaguez e agressões morais.

O filme talvez tenha sido a mais contundente denúncia pública da indigência dos que escondem, por detrás da imagem de pessoas da sociedade e do véu de instituições oficiais, a penúria do espírito e a hipocrisia.

“Quem tem medo de Virgínia Woolf” também poderia se chamar “quem tem medo da verdade”, porque sua trama cabe à perfeição para iluminar o traço mais íntimo de personagens do mundo da política e a verdadeira natureza das instituições sob as quais selam seus pactos de interesses.

Senão como interpretar as declarações do governador de Pernambuco Eduardo Campos, que à cata de apoios para sua pretensão de candidatar-se a presidente da República afirma “ter muitas coisas em comum com Serra”, exatamente aquele que em sua malograda campanha ao Planalto tentou destruir moralmente a chefe da coalização que ele Campos a longos 10 anos integra?

Embriagado da popularidade granjeada com os pesados investimentos que desde os governos de Lula da Silva foram carreados para o nordeste a fim de desconcentrar o desenvolvimento, Campos deu de insinuar que ele próprio pode fazer muito mais do que fez o ex-presidente e faz agora a sua sucessora.

Cerca-se dos mais duros adversários dos programas responsáveis pela eliminação de 70% da miséria em seu Estado, dando voz aos que acusam essas políticas que ajudou engendrar de corromperem a disposição de trabalho dos mais pobres, como não se fartaram de dizê-lo o deputado Roberto Freire e o senador Jarbas Vasconcellos, seus mais novos aliados.

A torpeza com que se move Eduardo Campos no ambiente político não passa despercebida aos espectadores do drama que se desenrola para conservar a hegemonia das tendências de orientação trabalhista a frente do País.  Ao afirmar identificação com figuras odiados pela maioria dos nordestinos e ligadas às políticas de desmonte do Estado, Campos afasta-se de sua gente e revela a si mesmo um ator em conflito com as próprias convicções. 

Haverá de causar pena, como os personagens de Liz e Burton, mas sem merecer qualquer Óscar fora de cena. 


quarta-feira, 20 de março de 2013

A QUEDA de JOAQUIM BARBOZA








Como se costuma dizer nas esquinas, a chapa está esquentando para o ministro do Supremo Federal Joaquim Barboza. Ao dar azo à velha rixa entre juízes e promotores com críticas ácidas e generalistas à magistratura e advocacia – duas das instituições mais tradicionais do Brasil – o magistrado está se enredando numa trama de atritos que poderá leva-lo ao afastamento do cargo de presidente do STF.


Não que deixe de ter razão nas acusações e epítetos que lança contra seus pares de toga e de carreira. Mas o açodamento com que o faz, sem a mediação necessária dos meios da política, poderá fazer com que se ponha num ponto sem volta do caminho de confronto em que se lançou contra a máquina judiciária do País.

O caso é antes típico de uma análise de divã. Em certos momentos e em certas épocas homens comuns, sem o saberem, veem-se no papel de autômatos dos sentimentos que perpassam sua gente e seu tempo.

Também os demiurgos da história do final da primeira metade do século passado expressaram o inconformismo dos seus exercendo sobre eles uma espécie de liderança catalizadora que os arrastou invariavelmente para situações de conflitos sociais ou de confrontos bélicos. Eram movidos pelo ódio pessoal aos que julgavam responsáveis pela subalternidade e as ofensas impostas aos grupos de que eram egressos.

Com Joaquim não se passou diferente. Negro e ofendido, como todos não oriundos da elite europeia, o magistrado, depois de percorrer a longa carreira de funcionário público do judiciário, chegou ao seu topo em decorrência da decisão pessoal de um presidente da República, que chamou para si a tarefa de diversificar a composição étnica da cúpula do judiciário brasileiro.

Com assento na Alta Corte, o nomeado sucumbiu aos holofotes da cobertura midiática de um caso de raro interesse aos opositores do presidente que o nomeara, em vista das eleições que se desenrolava. Foi o bastante para que, no passo seguinte, já recostado à cadeira de presidente do judiciário, Barboza sacasse da algibeira o ódio que trouxera acumulado, quiçá desde a infância, para vergastar os que – ao menos por dever de ofício - devia urbanidade.

Ao invés de travar sua guerra com as armas da política e da articulação com aqueles que numa perspectiva histórica colocam-se igualmente contra as práticas do nepotismo e dos valores da plutocracia, Barboza optou por uma guerrilha à espécie da que fez o personagem capitão Nascimento no consagrado filme Tropa de Elite.

Fiou-se para o confronto na popularidade granjeada pela Rede Globo e por influenciadores de brancos poderosos do tipo do jornalista Merval Pereira. Nada disso lhe irá bastar quando os poderosos baterem à porta dos meios de comunicação para cobrar o fim da irascibilidade do magistrado ou quando, antes disso, a imprensa cansar-se dos contragolpes desferidos a guisa de sentimento de perseguição.

Ambos os desdobramentos já se insinuaram com as críticas ácidas feitas pelo desembargador do STJ Tourinho Neto à atuação do ministro e à recomendação do jornal O Estado de São Paulo de que o mesmo renunciasse.

Sim, não há como escapar à conclusão de que Barboza, ainda que injuriado, é um arrivista como foram Hitler e Mussolini a seu tempo. Ou em sentido mais restrito um frustrado, como chegou a dizer-lhe seu colega Gilmar Mendes. E nenhum arrivista durou mais que o tempo necessário para que se manifestassem os funestos efeitos de suas próprias bravatas e destemperos.

terça-feira, 19 de março de 2013

O IBOPE DA CARA FEIA








A última pesquisa Ibope vinda a público mostra um fenômeno até mais interessante que a inaudita popularidade da presidente em terras antes dadas a prestigiar aqueles delas egressos, como o Nordeste de Lula e Eduardo Campos. Afinal foi lá que a governante revelou seus mais sólidos índices de crescimento.

O aspecto interessante a ser destacado é que Dilma cresceu a despeito da pancadaria a que foi diuturnamente submetida na mídia falada e escrita de mais ampla circulação. Constatá-lo é mais fácil do que identificar suas causas.

Dilma sobe, em que pesem as forças em contrário, em razão daquilo que por paradoxal foi apontado como uma de suas principais debilidade: a dureza do sorriso e as feições crispadas como as de um chefe mal humorado.

Pois Dilma com esse carisma às avessas passa ao eleitor médio, sobretudo ao mais pobre, a firmeza que julga indispensável a fim de que sejam asseguradas as conquistas realizadas no último decênio, as quais reputa fruto da disciplina e do esforço pessoal.

A veemência com que a presidente refuta os detratores de sua política soa mais consistente que as críticas que lhe são movidas e calam fundo num eleitorado que aspira à segurança como a principal premissa para a definição de seu voto.

A oposição parece não entender que o perfil de eleitorado que emergiu como hegemônico no Brasil, a partir do que se convencionou chamar de era Lula, é conservador.

Não no sentido que dá ao termo o conservadorismo na economia e na política, de identificação com teses pró-mercado e intransigência com escândalos políticos. Mas no sentido de recusa do jogo político miúdo que passa ao largo do que seria o interesse da maioria, como foi o caso da reação da oposição às medidas de redução da conta de energia e da tributação sobre a cesta básica.

Depois do arquétipo do pai bonachão, os brasileiros parecem ter abraçado definitivamente o da mãe protetora e austera. 

domingo, 17 de março de 2013

O PENSAMENTO INVERSO


 
 
Com a ascensão de Eduardo Campos na preferência dos articulistas de periódicos de grande circulação e comentaristas de TV, começa a cristalizar-se no eleitorado tucano a sensação de que se o governador de Pernambuco for ao segundo turno das eleições presidenciais de 2014 contra Dilma terá o apoio de Aécio Neves, candidato do PSDB, enquanto a recíproca não é verdadeira: se o mineiro Aécio for ao segundo turno não terá o apoio do pernambucano Campos.

A expectativa é letal para as pretensões do candidato tucano que deixa de representar para o segmento da sociedade que se opõe ao governo petista a possibilidade de vitória no segundo turno. Se não tivessem nada a perder com a opção presidencial, ele e o seu PSDB, vá lá! Mas têm, e muito. Com a decisão de concorrer ao governo federal, Aécio e seu partido deixam escapar das mãos uma permanência tranquila e certa no governo de Minas Gerais.  

Com o controle do governo de São Paulo sob crescente ameaça, seja pela possibilidade de lançamento da candidatura Lula pelo PT em 2014 seja pelo desgaste de quase 20 anos ininterruptos de poder, entregar de bandeja Minas soa inaceitável à meia dúzia de caciques que controla o partido tucano.

Não seria de surpreender, portanto, que, a continuar a perda de apoio midiático, Neves recue do projeto presidencial, dando mais uma vez espaço à recolocação do velho “step” careca José Serra no veículo tucano.

Sem chances de ir ao segundo turno, porém reconciliado com a própria ambição, Serra abriria mão de trocar o PSDB por outro partido, como deu de ameaçar, o que pouparia o ninho de uma maior fragilidade em eventual disputa com Lula da Silva em São Paulo.

Se assim vier acontecer, Serra não teria a boa vontade dos correligionários como teve da outra vez em que concorreu à presidência da República. Seria escolhido apenas para figurar como candidato fantoche de modo a ocultar a real preferência de correligionários por aquele tido como verdadeiramente capaz de derrotar o campo petista, Eduardo Campos.

 

quarta-feira, 13 de março de 2013

CAROS AMIGOS, DIGAMOS A VERDADE






A revista Caros Amigos entrou em crise. Funcionários fizerem greve, vieram a público denunciar irregularidades trabalhistas e foram por fim demitidos. 

O fenômeno tipicamente capitalista que atingiu a redação daquele periódico foi tomado subitamente pelo que não era: consequência da insensibilidade do governo e resultado de partilha desigual dos recursos à sua disposição para campanhas de interesse público e para propaganda oficial.


Os críticos foram pessoas que conhecemos e que aprendemos admirar pelos Blogs que animam. São portadores de interpretações alternativas que tiveram o condão de estimular outros tanto blogs de questionamento às versões do "establishment". Têm por certo razão de afirmarem que os critérios da Secretaria de Comunicação do Governo Federal poderiam ser mais justos na distribuição de verbas publicitárias.

Agora, vincularem a falência da Editora Casa Amarela, que publica o folhetim, ao que poderíamos chamar de “desassistência governamental”, parece de todo despropositado e também pouco justo com a capacidade do periódico de reinventar-se.

O fato é que Caros Amigos padece do mesmo mal que acomete toda imprensa escrita, e de outros mais. Seus escritos perderam interesse, chafurdam no alternativo e exploram temas que mais lembram crônicas da vida privada, de tipos e perfis que já chegaram a suscitar interesses de leitores de nicho.

O fato de ter tido um passado glorioso não redime a revista de buscar soluções para seus próprios dilemas, dentre estes o mais fundamental parece ser a perda de leitores. Condenamos no que chamamos de grande mídia exatamente essa dependência do governo, expresso, por exemplo, nas compra de jornais e revistas de grande circulação pelo governo de São Paulo.
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Não podemos propor causas artificiais a acontecimentos que todos sabemos de natureza bem mais complexa, sob o risco de sermos chamados de corporativistas e de argumentarmos em interesse próprio. Não cabe supor antecipadamente martirizadas publicações que bem podem estar sendo mal geridas ou guiadas por propostas editoriais mal formuladas. 

Eis aí a revista CartaCapital, que recebe recursos do Governo Federal mas que é, antes de tudo, um belo exemplo de sucesso editorial que atrai farta publicidade privada sem abrir mão daquilo em que acredita.

Sob o signo do conservadorismo







Entre a perplexidade e a dúvida o mundo recebe a notícia de que o chefe da igreja católica é um latino americano. A notícia não é boa. Ângela Merkel que o diga. Desde que Joseph Ratzinger, o papa renunciante, assumiu a Santa Sé a ingerência do episcopado germânico só fez por crescer na Alemanha, refreando não apenas avanços nos costumes da altamente desenvolvida sociedade alemã, como também bloqueando o reconhecimento público de nação agressora que caberia aos alemães fazerem para apagar as feridas da segunda guerra, e com isso voltar a ter peso na segurança da Europa às voltas com um norte da África cada vez mais hostil. O apreço de Ratzinger por Adolph Hitler foi o motivo de fundo.

A escolha do papa Argentino tem mais a ver com as preocupações da Igreja com o desgarramento da América Latina dos dogmas eclesiásticos desde que os principais partidos com que contava para influenciar a vida laica foram um a um desaparecendo com o avanço dos movimentos de afirmação social e o fortalecimento das organizações políticas independentes de caráter popular.

Com a repressão comandada por Ratzinger, à frente da Congregação para a Doutrina e a Fé, aos propositores da chamada Teologia da Libertação e ao envolvimento do baixo clero (na verdadeira acepção da palavra) com os movimentos de resistência às ditaduras do continente, o que era conhecido como democracia-cristã praticamente deixou de existir, dando lugar a partidos trabalhistas de compromisso transformador, pouco permeáveis aos valores da Igreja

As diferentes denominações evangélicas apenas ocuparam o vazio deixado pelo catolicismo, que, ausente das lutas populares, abriu caminho ao ativismo político protestante. A ponto de qualquer governo não poder ignorar, num dos maiores países católicos do continente – o Brasil – a presença de partidos e bandeiras evangélicas nas articulações visando disputas eleitorais.

Embora declinante, a força da Igreja ainda é grande no mundo contemporâneo, sobretudo nas Instituições seculares voltadas à educação e à assistência social nas grandes regiões metropolitanas, e a presença de um papa da região se fará sentir nos grandes temas ligados aos costumes e ao autonomismo das políticas de erradicação da pobreza.

A escolha de um papa argentino mostra ainda que a Igreja fez uma opção por cuidar de seu rebanho ao sul do equador, o que ignifica o apoio mais aberto do episcopado a representantes laicos que militem em partidos conservadores, em que questões relacionadas ao avanço da emancipação feminina e à afirmação de minorais são interpretadas de modo mais restrito.

Não há como iludir-se, a  relevância de temas morais na política sul-amarica só fará recrudescer daqui pra frente.

terça-feira, 12 de março de 2013

Freire, um aliado "mui amigo"


Nada mais revelador da debilidade das oposições no atual quadro político brasileiro do que a proposta que faz o funcionário e deputado de encomenda por São Paulo, Roberto Freire, de reeditar a antiga política de frente ampla.

A frente ampla foi uma modalidade de alianças entre partidos de diferentes doutrinas cujo objetivo era dar enfrentamento aos regimes ditatoriais que se instalaram na Europa Ocidental com a ascensão do fascismo e suas variantes.
Na América latina cumpriu o importante papel de juntar o conjunto dos partidos políticos de orientação democrática no combate às ditaduras militares do continente, no período da guerra fria entre Estados Unidos e a extinta União Soviética.

O PMDB, quando ainda denominava-se MDB, movimento democrático brasileiro, foi uma aliança desse tipo. Juntou desde conservadores de carteirinha como Tancredo Neves – ex primeiro ministro do movimento golpista que pretendeu substituir o vice-presidente eleito João Goulart – até militantes do clandestino partido comunista brasileiro.

A derrota do fascismo na Europa e o fim de regimes militares na América latina foi também o fim da razão de ser da política de frente ampla. No Brasil, o florescimento da democracia tornou obsoleta a ideia de supressão das diferenças de pensamento na sociedade em favor do combate a um mal maior, a ditadura.

E não poderia ser diferente. As instituições democráticas para progredirem e se consolidarem precisam do embate de ideias e da seleção, por meio do voto, daquelas que mais atendam os interesses da maioria. Quanto mais se diversifica a sociedade, com novos segmentos de classe e grupos de interesse, mais clamorosa e necessária é a explicitação das diferenças.

Se assim é, se a união de todos contra um só é viável quando os pressupostos da democracia estão em risco ou foram suprimidos, então a que serve a proposta sustentada pelo deputado egresso do antigo partido comunista, Freire, de que se instaure uma frente política contra a candidatura de Dilma Russef nas eleições presidencial de 2014 no Brasil?

Serve antes à candidatura de Eduardo Campos, que tem em Freire e no senador Jarbas Vasconcellos, ambos de Pernambuco, seus principais articuladores junto ao PSDB e ao PMDB, respectivamente. Trata-se, não mais não menos, de tentativa de colocar em pé de igualdade as candidaturas de Aécio Neves e de Eduardo Campos a custa do esvaziamento preliminar da primeira.

Não é difícil divisar o dedo de José Serra na manobra, mortal ao seu contendor nas hostes tucanas. Mas não apenas a ele. Às oposições em seu conjunto também, pois quem tem muitos candidatos, diz o adágio, não tem um sequer.

O fato é que foi a candidatura de Eduardo Campos que provocou esse reboliço todo no campo oposicionista. Aos poucos a dissensão aberta por Campos vai mostrando o que bem poderia ser interpretado como uma manobra de Lula para asfixiar a candidatura tucana. Provavelmente não é. Mas constitui amostra contundente de que a polarização PT-PSDB caminha para a superação pela via do apagamento do polo tucano.

 Um desdobramento estimulante para os que pregam a defesa dos interesses nacionais e a diminuição contínua das desigualdades sociais no País.