Como se costuma dizer nas esquinas, a chapa está esquentando
para o ministro do Supremo Federal Joaquim Barboza. Ao dar azo à velha rixa
entre juízes e promotores com críticas ácidas e generalistas à
magistratura e advocacia – duas das instituições mais tradicionais do Brasil –
o magistrado está se enredando numa trama de atritos que poderá leva-lo ao
afastamento do cargo de presidente do STF.
Não que deixe de ter razão nas acusações e epítetos que
lança contra seus pares de toga e de carreira. Mas o açodamento com que o faz,
sem a mediação necessária dos meios da política, poderá fazer com que se ponha
num ponto sem volta do caminho de confronto em que se lançou contra a máquina
judiciária do País.
O caso é antes típico de uma análise de divã. Em certos
momentos e em certas épocas homens comuns, sem o saberem, veem-se no papel de
autômatos dos sentimentos que perpassam sua gente e seu tempo.
Também os demiurgos da história do final da primeira metade
do século passado expressaram o inconformismo dos seus exercendo sobre eles uma
espécie de liderança catalizadora que os arrastou invariavelmente para situações
de conflitos sociais ou de confrontos bélicos. Eram movidos pelo ódio pessoal
aos que julgavam responsáveis pela subalternidade e as ofensas impostas aos
grupos de que eram egressos.
Com Joaquim não se passou diferente. Negro e ofendido, como
todos não oriundos da elite europeia, o magistrado, depois de percorrer a longa
carreira de funcionário público do judiciário, chegou ao seu topo em decorrência
da decisão pessoal de um presidente da República, que chamou para si a tarefa de diversificar
a composição étnica da cúpula do judiciário brasileiro.
Com assento na Alta Corte, o nomeado sucumbiu aos holofotes
da cobertura midiática de um caso de raro interesse aos opositores do
presidente que o nomeara, em vista das eleições que se desenrolava. Foi o bastante
para que, no passo seguinte, já recostado à cadeira de presidente do
judiciário, Barboza sacasse da algibeira o ódio que trouxera acumulado, quiçá
desde a infância, para vergastar os que – ao menos por dever de ofício - devia
urbanidade.
Ao invés de travar sua guerra com as armas da política e da
articulação com aqueles que numa perspectiva histórica colocam-se igualmente
contra as práticas do nepotismo e dos valores da plutocracia, Barboza optou por
uma guerrilha à espécie da que fez o personagem capitão Nascimento no
consagrado filme Tropa de Elite.
Fiou-se para o confronto na popularidade granjeada pela Rede
Globo e por influenciadores de brancos poderosos do tipo do jornalista Merval
Pereira. Nada disso lhe irá bastar quando os poderosos baterem à porta dos
meios de comunicação para cobrar o fim da irascibilidade do magistrado ou
quando, antes disso, a imprensa cansar-se dos contragolpes desferidos a guisa
de sentimento de perseguição.
Ambos os desdobramentos já se insinuaram com as críticas
ácidas feitas pelo desembargador do STJ Tourinho Neto à atuação do ministro e à
recomendação do jornal O Estado de São Paulo de que o mesmo renunciasse.
Sim, não há como escapar à conclusão de que Barboza, ainda que
injuriado, é um arrivista como foram Hitler e Mussolini a seu tempo. Ou em
sentido mais restrito um frustrado, como chegou a dizer-lhe seu colega Gilmar
Mendes. E nenhum arrivista durou mais que o tempo necessário para que se manifestassem
os funestos efeitos de suas próprias bravatas e destemperos.
ótimo texto
ResponderExcluirótimas colocações
Interessante ponto de vista... O homem precisa de analista, apenas isso tenho certeza.
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