No ano de 1966, Elizabeth Taylor surpreendia as plateias do mundo
encenando uma dona de casa enfastiada com a rotina do casamento
e em guerra velada contra o marido, nas telas e na vida real, Richard Burton.
De tão convincentes na representação do jovem casal de
professores universitários, entregue ao álcool e aos ataques verbais mútuos, a
dupla ganhou no ano seguinte o prêmio da academia de cinema de melhor ator e
melhor atriz. Na época revistas de celebridades noticiavam os mesmos
conflitos na vida pessoal dos atores.
No roteiro que o célebre dramaturgo Edward Albee havia escrito
originalmente para o teatro, a crueldade de um parceiro com o outro não se
saciava com as ofensas mútuas e necessitava do envolvimento de terceiros para consumar-se. A fim de extravasá-la convidam um casal amigo para o juntar e entregam-se a uma espécie de jogo da verdade em que toda sorte de mentiras e
falsidades vem à tona numa longa madrugada de embriaguez e agressões morais.
O filme talvez tenha sido a mais contundente denúncia
pública da indigência dos que escondem, por detrás da imagem de pessoas da
sociedade e do véu de instituições oficiais, a penúria do espírito e a hipocrisia.
“Quem tem medo de Virgínia Woolf” também poderia se chamar “quem tem medo da verdade”, porque sua trama cabe à perfeição para iluminar o traço mais íntimo de personagens do mundo da política e a verdadeira natureza das instituições sob as quais selam seus pactos de interesses.
Senão como interpretar as declarações do governador de
Pernambuco Eduardo Campos, que à cata de apoios para sua pretensão de
candidatar-se a presidente da República afirma “ter muitas coisas em comum com
Serra”, exatamente aquele que em sua malograda campanha ao Planalto tentou
destruir moralmente a chefe da coalização que ele Campos a longos 10 anos
integra?
Embriagado da popularidade granjeada com os pesados
investimentos que desde os governos de Lula da Silva foram carreados
para o nordeste a fim de desconcentrar o desenvolvimento, Campos deu de
insinuar que ele próprio pode fazer muito mais do que fez o ex-presidente e faz
agora a sua sucessora.
Cerca-se dos mais duros adversários dos programas responsáveis
pela eliminação de 70% da miséria em seu Estado, dando voz aos que acusam essas políticas que ajudou engendrar de corromperem a disposição de trabalho dos mais pobres, como não se fartaram de dizê-lo o deputado Roberto Freire e o senador Jarbas
Vasconcellos, seus mais novos aliados.
A torpeza com que se move Eduardo Campos no ambiente
político não passa despercebida aos espectadores do drama que se desenrola para
conservar a hegemonia das tendências de orientação trabalhista a frente do País. Ao
afirmar identificação com figuras odiados pela maioria dos nordestinos e
ligadas às políticas de desmonte do Estado, Campos afasta-se de sua gente e revela a si mesmo um ator em conflito com as próprias convicções.
Haverá de causar pena, como os personagens de Liz e Burton, mas sem merecer qualquer Óscar fora de cena.
O Dudu quer poder para isso vestiu a fantasia da traição e da ilusão.
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