sexta-feira, 22 de março de 2013

Quem tem medo de Eduardo Campos?






No ano de 1966, Elizabeth Taylor surpreendia as plateias do mundo encenando uma dona de casa enfastiada com a rotina do casamento e em guerra velada contra o marido, nas telas e na vida real, Richard Burton.


De tão convincentes na representação do jovem casal de professores universitários, entregue ao álcool e aos ataques verbais mútuos, a dupla ganhou no ano seguinte o prêmio da academia de cinema de melhor ator e melhor atriz. Na época revistas de celebridades noticiavam os mesmos conflitos na vida pessoal dos atores.


No roteiro que o célebre dramaturgo Edward Albee havia escrito originalmente para o teatro, a crueldade de um parceiro com o outro não se saciava com as ofensas mútuas e necessitava do envolvimento de terceiros para consumar-se. A fim de extravasá-la convidam um casal amigo para o juntar e entregam-se a uma espécie de jogo da verdade em que toda sorte de mentiras e falsidades vem à tona numa longa madrugada de embriaguez e agressões morais.

O filme talvez tenha sido a mais contundente denúncia pública da indigência dos que escondem, por detrás da imagem de pessoas da sociedade e do véu de instituições oficiais, a penúria do espírito e a hipocrisia.

“Quem tem medo de Virgínia Woolf” também poderia se chamar “quem tem medo da verdade”, porque sua trama cabe à perfeição para iluminar o traço mais íntimo de personagens do mundo da política e a verdadeira natureza das instituições sob as quais selam seus pactos de interesses.

Senão como interpretar as declarações do governador de Pernambuco Eduardo Campos, que à cata de apoios para sua pretensão de candidatar-se a presidente da República afirma “ter muitas coisas em comum com Serra”, exatamente aquele que em sua malograda campanha ao Planalto tentou destruir moralmente a chefe da coalização que ele Campos a longos 10 anos integra?

Embriagado da popularidade granjeada com os pesados investimentos que desde os governos de Lula da Silva foram carreados para o nordeste a fim de desconcentrar o desenvolvimento, Campos deu de insinuar que ele próprio pode fazer muito mais do que fez o ex-presidente e faz agora a sua sucessora.

Cerca-se dos mais duros adversários dos programas responsáveis pela eliminação de 70% da miséria em seu Estado, dando voz aos que acusam essas políticas que ajudou engendrar de corromperem a disposição de trabalho dos mais pobres, como não se fartaram de dizê-lo o deputado Roberto Freire e o senador Jarbas Vasconcellos, seus mais novos aliados.

A torpeza com que se move Eduardo Campos no ambiente político não passa despercebida aos espectadores do drama que se desenrola para conservar a hegemonia das tendências de orientação trabalhista a frente do País.  Ao afirmar identificação com figuras odiados pela maioria dos nordestinos e ligadas às políticas de desmonte do Estado, Campos afasta-se de sua gente e revela a si mesmo um ator em conflito com as próprias convicções. 

Haverá de causar pena, como os personagens de Liz e Burton, mas sem merecer qualquer Óscar fora de cena. 


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