A estilista Clotilde Orozco foi encontrada estatelada defronte o prédio em que morava em Higienópolis. Frequentadora da mídia, a empresária vinha passando por dificuldades financeiras nos negócios da moda, ramo em que estava havia 30 anos.
Principalmente depois que a polícia desmantelou serviços de
agenciamento de cidadãos bolivianos que viviam em regime semiescravo para
fábricas da região da Barra Funda, em São Paulo, onde tinha 200 empregados.
O curioso no caso é que a imprensa tão pródiga em anunciar
fatalidades com alarde, não caracterizou a morte da colunável como suicídio,
nem na sua forma atenuada de “queda seguida de morte”. Para a Folha de São
Paulo e outros, a modista foi simplesmente “encontrada morta” no condomínio de
residência e transportada pelo serviço de emergência.
Há duas hipóteses para a hipocrisia dos veículos de
comunicação no caso. O primeiro é que se sentiam culpados pelo suicídio da
mulher, esquecida pelas seções especializadas em moda desde que uma nova geração
projetou-se com a glamorização dos desfiles da São Paulo Fashion Week.
A outra mais prosaica é que editores e jornalistas sentem-se
penalizados quando gente igual a eles, que frequenta as mesmas rodas sociais e
cujos cachorrinhos urinam nos meus postes do bairro mais chique de São Paulo, vê-se
envolvida em episódios tão pouco estéticos como são as mortes violentas.
Nessas situações sentem-se tocados por uma compaixão que pensam
alcançar também os leitores, os quais, de outro modo, se surpreendem amiúde com
a omissão de registros sobre corpos que encontram todos os dias nas ruas. Mortes
que por não serem noticiadas também não merecem a mesma atenção da polícia, predestinadas,
por isso, a engrossarem as estatísticas de casos sem solução. Quase 75% do
total, diga-se de passagem.
Mas não é preciso muita investigação sobre essa nova vítima
da notoriedade, controlada a bom preço pela mídia chorosa dos momentos de
desespero quando se desligam os holofotes e recolhem-se os microfones. A
solidão, o abandono e, certamente, uma boa dose de antidepressivos.