Erundina pensa que São Paulo vive seu momento de comuna de
Paris, que em 1871 pôs em prática o primeiro governo de revoltosos à frente de
uma grande cidade da era moderna.
Com o pensamento cristalizado pela idade
provecta, a anciã age como um Lênin de saias e recusa-se a entender que a cidade
não é mais o espaço dos experimentos sociais que pretendeu com seu polêmico
governo em São Paulo há 30 anos.
Lugar de cruzamento de ideias e palco da aplicação dos
sempre constantes avanços da tecnologia, a cidade luta para acomodar seus diferentes
segmentos sociais aos espaços que a geografia lhes reservou. Precisa ter
assegurada sua mobilidade interna, prover os serviços que lhe demandam os cidadãos,
contornar contingências ambientais determinadas pela circulação das águas,
concentração de gases e acúmulo de calor.
A cidade não se define mais pelo embate centro-periferia
como pensou Erundina, numa espécie de visão urbana da luta de classes. Seu
tecido de estruturação dinâmica pede convergência de esforços, abertura para o
outro e soma permanente de esforços.
Os moradores dos bairros centrais sabem que não podem viver
como ilhas de bem-estar em meio ao concreto que se espraia incontido pelas
bordas da cidade e de córregos que a drenam cada vez mais para o interior. Não,
os grandes problemas das cidades contemporâneas ameaçam a todos, em todos os
lugares e ao mesmo tempo.
Daí o sentido do diálogo entre diferentes correntes de
pensamento presentes na sociedade, expressas no âmbito das coligações
partidárias destinadas a compor governos, com eixo no funcionamento aprimorado
da metrópole.
Há sim divergências que separam grupos e que acabam fundando
razões para agrupamentos em torno de entendimentos e princípios de ação. Um
deles é o teste da verificação. Fundamental para o avanço de soluções para os
problemas com que se defronta a cidade é que haja renovação entre os grupos que
tenham sido testados quanto à aptidão de pôr em prática propostas aos desafios
colocados.
Ainda no caso da cidade de São Paulo, depois de 8 anos no
comando da gestão do município – durante os quais se acumularam problemas nos setores dos
transportes, saúde e uso e ocupação do solo – o agrupamento representado pelos gestores Serra e Kassab volta a pedir a renovação do mandato popular para o
enfrentamento dos problemas para os quais já haviam sido antes designados.
Como serão providas as soluções é outra questão que serve
como divisor de águas entre os agrupamentos que polarizam a formação de chapas
que disputam a disputa à prefeitura. Provê-las entregando ao mercado a oferta de
serviços essências que competiriam apenas ao poder público ofertar, dado as insidiosas exigências econômicas que
assolam o cidadão por todos os lados, ou então reforçar a presença do governo
municipal ali onde autoridade e disciplina estatal parece fundamental, é outro
quesito que determina a composição de chapas e orienta o voto.
Excluir qualquer força presente na sociedade, por causa de
seu suposto compromisso com valores mais ou menos conservadores, não
constitui motivo real e distintivo para a articulação de forças visando a
reorganizar a vida da cidade. Para São Paulo, O Sr. Maluf representa 10%
do eleitorado que ainda acreditam que por meio de grandes intervenções
urbanísticas, como foram no passado as vias marginais e os grandes elevados ou
viadutos, possam ser resolvidos os problemas crônicos da metrópole. Que
continuem pensando.
Se essas mesmas forças, com barganha ou sem barganha, já que
é fato sua presença como elemento da política, decidem compor com os que
pensam a cidade do ponto de vista de soluções integradas bem como de uma ótica fortemente
social, por que recusá-las se são elas mesmas parte viva da ação
transformadora de que carece a cidade para enfrentar seus crônicos problemas?
...Por causa da luta de classe, da coerência ideológica
responderia alguém movida pelos sentimentos da Sra. Erundina. Como disse
Shakespeare, ainda bem que o tempo quebra as ideias mais arraigadas ao mesmo
tempo em que é o ladrão dos dias. Pois apenas assim é possível livrar-se das ideias
velhas que sobrevivem somente para fazerem-se admiradas pelos tolos.
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