quinta-feira, 21 de junho de 2012

Erundina e a Comuna de Paris



Erundina pensa que São Paulo vive seu momento de comuna de Paris, que em 1871 pôs em prática o primeiro governo de revoltosos à frente de uma grande cidade da era moderna.
Com o pensamento cristalizado pela idade provecta, a anciã age como um Lênin de saias e recusa-se a entender que a cidade não é mais o espaço dos experimentos sociais que pretendeu com seu polêmico governo em São Paulo há 30 anos.

Lugar de cruzamento de ideias e palco da aplicação dos sempre constantes avanços da tecnologia, a cidade luta para acomodar seus diferentes segmentos sociais aos espaços que a geografia lhes reservou. Precisa ter assegurada sua mobilidade interna, prover os serviços que lhe demandam os cidadãos, contornar contingências ambientais determinadas pela circulação das águas, concentração de gases e acúmulo de calor.

A cidade não se define mais pelo embate centro-periferia como pensou Erundina, numa espécie de visão urbana da luta de classes. Seu tecido de estruturação dinâmica pede convergência de esforços, abertura para o outro e soma permanente de esforços.

Os moradores dos bairros centrais sabem que não podem viver como ilhas de bem-estar em meio ao concreto que se espraia incontido pelas bordas da cidade e de córregos que a drenam cada vez mais para o interior. Não, os grandes problemas das cidades contemporâneas ameaçam a todos, em todos os lugares e ao mesmo tempo.

Daí o sentido do diálogo entre diferentes correntes de pensamento presentes na sociedade, expressas no âmbito das coligações partidárias destinadas a compor governos, com eixo no funcionamento aprimorado da metrópole.

Há sim divergências que separam grupos e que acabam fundando razões para agrupamentos em torno de entendimentos e princípios de ação. Um deles é o teste da verificação. Fundamental para o avanço de soluções para os problemas com que se defronta a cidade é que haja renovação entre os grupos que tenham sido testados quanto à aptidão de pôr em prática propostas aos desafios colocados.

Ainda no caso da cidade de São Paulo, depois de 8 anos no comando da gestão do município – durante os quais se acumularam problemas nos setores dos transportes, saúde e uso e ocupação do solo – o agrupamento representado pelos gestores Serra e Kassab volta  a pedir a renovação do mandato popular para o enfrentamento dos problemas para os quais já haviam sido antes designados.

Como serão providas as soluções é outra questão que serve como divisor de águas entre os agrupamentos que polarizam a formação de chapas que disputam a disputa à prefeitura. Provê-las entregando ao mercado a oferta de serviços essências que competiriam apenas ao poder público ofertar, dado  as insidiosas exigências econômicas que assolam o cidadão por todos os lados, ou então reforçar a presença do governo municipal ali onde autoridade e disciplina estatal parece fundamental, é outro quesito que determina a composição de chapas e orienta o voto.

Excluir qualquer força presente na sociedade, por causa de seu suposto compromisso com valores mais ou menos conservadores, não constitui motivo real e distintivo para a articulação de forças visando a reorganizar a vida da cidade. Para São Paulo, O Sr. Maluf representa 10% do eleitorado que ainda acreditam que por meio de grandes intervenções urbanísticas, como foram no passado as vias marginais e os grandes elevados ou viadutos, possam ser resolvidos os problemas crônicos da metrópole. Que continuem pensando.

Se essas mesmas forças, com barganha ou sem barganha, já que é fato sua presença como elemento da política, decidem compor com os que pensam a cidade do ponto de vista de soluções integradas bem como de uma ótica fortemente social, por que recusá-las se são elas mesmas parte viva da ação transformadora de que carece a cidade para enfrentar seus crônicos problemas?

...Por causa da luta de classe, da coerência ideológica responderia alguém movida pelos sentimentos da Sra. Erundina. Como disse Shakespeare, ainda bem que o tempo quebra as ideias mais arraigadas ao mesmo tempo em que é o ladrão dos dias. Pois apenas assim é possível livrar-se das ideias velhas que sobrevivem somente para fazerem-se admiradas pelos tolos.         


Nenhum comentário:

Postar um comentário