sábado, 1 de junho de 2013

Blogueiros a beira de um ataque de nervos






Contribuiriam muito mais os chamados blogueiros de esquerda caso se empenhassem em análises pouco mais sofisticadas sobre o momento que vive o País e sobre a relação de forças estabelecida entre tendências políticas que se batem pela sua hegemonia político-eleitoral.

Caíram de pau – como se costuma dizer – na elevação de juros promovida pelo banco central, bradam contra o que chamam de fogo cerrado mantido pela mídia sobre a politica econômica e seus resultados, criticam o oportunismo esperado de aliados do governo no fechamento de alianças e nas atitudes em votações do Congresso.

Como parecem não dispor de tranquilidade para análises que integrem diferentes dimensões da realidade numa visão de sentido politico claro, que ofereça uma interpretação ajustada aos avanços obtidos nos últimos anos pelos agrupamentos antiliberais na politica, esbravejam e transformam em narrativa de suspense o que deveria ser esclarecedora literatura da realidade nacional.

A alta recente dos juros decretada pelo Banco Central não se constituiu traição do presidente da instituição Alexandre Tombini à política de retomada do crescimento econômico promovido pela presidente. Foi antes medida que teve em vista antecipar-se à futura alta dos juros nos Estado Unidos, cuja economia vem dando sucessivos sinais de restabelecimento, e que uma vez deflagrada produziria uma fuga de capitais do Brasil em direção à praça nova-iorquina. Isso numa conjuntura em que o mais baixo crescimento da China vem derrubando os preços da comódites internacionais e ampliando perigosamente os déficites nas contas de transações correntes brasileiras.

Se o Banco Central não apontar para um embicamento dos juros quando os norte-americanos o fazem e o saldo de nossas contas de comércio vai a pique, o resultado será uma crise cambial. E aí, queridos, parafraseando Cacá Diegues de “bye bye Brazil”, poderíamos dizer "bye bye Dilma 2014”.

Agora, se a mídia explora a seu modo as novas circunstâncias da economia brasileira deveríamos fazer o mesmo em favor de uma perspectiva menos desanimadora. Mostrar que o transatlântico brasileiro irá descrever sua curva para não bater nos icebergs que se deslocam do rompimento da plataforma de poder das relações entre China e Estados Unidos; que vamos sim crescer mais lentamente, mas sem perder os ganhos de renda transferidos aos mais pobres que suportam eleitoralmente a pretensões do governo de esquerda de continuar no poder a partir de 2014; que a crise de 2008 reconfigurou a economia mundial, mas que não tirou o País do jogo das economias emergentes que influenciarão o panorama internacional até a segunda metade deste milênio.

Os surtos raivosos não ajudam o eleitorado que confia em Dilma e no governo das esquerdas a entender o que está se passando e em função disso o porquê dos políticos que se somam à presidente agirem de maneira dúbia sempre que lhes é solicitada a interveniência. Tampouco ajuda a intemperança dos que se dizem impacientes com as concessões da presidente.

Seguiremos mais lentamente, mas seguiremos. Só não podemos perder o papel de força aglutinadora das tendências políticas de esquerda que nos deram as diversas vitórias eleitorais nos últimos 15 anos. Resiliência é a palavra do momento.


7 comentários:

  1. O principal motivo que me faz continuar a acreditar no governo da Dilma é que não encontrei nenhuma intenção ou fato que afaste esse governo da sua essência: um governo que é republicano, democrático e voltado para buscar o bem-estar de toda sociedade brasileira, principalmente dos mais carentes. As medidas políticas e econômicas, às vezes, podem não ser ideais, mas, penso necessárias em situações específicas. Torço, antes de tudo pelo Brasil.

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    1. Isso mesmo Ester, se partíssemos desse pressuposto seríamos também mais objetivos. E você sabe, não se faz política sem objetividade e discernimento.

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  2. Nao concordo. No sistema capitalista e' de conhecimento geral: se ha crise economica, tem que reduzir os juros. So' de ver a Grobo comemorar, imagina-se a alegria dos rentistas com os ganhos.(rentista/especulador, nao produz nada)

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  3. Gostei do seu texto. Não tinha conhecimento desta aspecto da economia internacional. No entanto em relação a alta de 0,5% recente minha avaliação é menos nervosa, pois além de colaborar para a redução da inflação para o centro da meta do banco central, há um efeito de impulsão do PIB pela via da realização de lucros dos bancos. O ideal seriam juros menores, mas os gestores do BC viram mais o médio prazo.

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  4. Caro Luís, apesar de eu ter votado no pt eu discordo dessa elevação de juros, o aquecimento da economia americana pode apenas dar um refresco na politica monetária onde hoje se pratica um juros baixíssimo de 2.2 ao ano para um título de 10 anos. O bc com essa elevação contribuirá a um crescimento menor bem como a continua elevação da inadimplência e talvez uma inflação menor proveniente de recessão. Para mim esta decisão foi um retrocesso na capacidade de avaliação economica do governo.

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    1. O problema é que essas decisões não se processam a frio, com base em avaliações preservadas de pressões. E sabemos que quando se trata de juros elas são intensas. A meu ver, para além das pressões do mercado financeiro,há uma dúvida real de como ficarão os juros internacionais no próximo período. Os aumentos por aqui são sempre prospectivos e em antecipação aos movimentos especulativos. O Banco Central tem um modelo estocástico que dizem ser muito confiável para o equilíbrio de variáveis correlacionadas a preços. Mas estamos diante de perturbações no câmbio produzidas por realinhamentos dos juros. Aí creio que os fundamentalistas do BC acabaram favorecidos pelos receios da ala menos conservadora (Tombini a frente) com pressões sobre os preços advindas de desvalorizações forçadas do câmbio em futuro próximo. Tudo enfim é uma questão de como se enxerga o futuro. A maioria começa a vê-lo de modo pessimista.

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    2. Tudo pareceria muito coerente. Se não houvessem alternativas propostas há anos, como um controle mais rígido do câmbio, que também já poderia estar mais desvalorizado. Câmbio aliás tão importante que o próprio Mantega citou a guerra cambial em curso em reuniões internacionais. Nunca é demais lembrar que apesar das reduções dos juros (e Dilma começou seu governo subindo), o Brasil ainda está entre os campeões dos juros mundo. Uma aberração que Lula herdou, mas que não foi ainda resolvida após 10 anos (não 10 meses) de governo de esquerda. Lembrar também que apenas os recentes aumentos de 0,25+0,5 custaram o equivalente a 1 ano de Bolsa Família: cerca R$20 bilhões. O custo a pagar em inflação deveria ter sido discutido com a sociedade, antes da guerra midiática do tomate! Afinal, mais de 90% das categorias têm tido reajustes salariais acima da inflação nos últimos anos, compensando as perdas com folga. Em contrapartida, o Real desvalorizado em outro patamar já teria surtido efeito aumentando exportações e reduzindo importações, protegendo um pouco mais a indústria nacional, reduzindo o déficit externo, o que acabou sendo adiado. Pelo contrário: aceitamos o dólar a níveis baixíssimos de R$1,60 - 1,70 por tempo demais, um erro a que ninguém se refere! E que trouxe efeitos deletérios e, pior, duradouros e de difícil solução. Mantivemos durante uma década a mesma armadilha imposta por FHC, o tal tripé juros + câmbio + metas de inflação em outros patamares, porém na mesma lógica perniciosa. O caso das metas de inflação é emblemático: a recusa em reconhecer a inflação estrutural, para a qual contribuem vários fatores, ainda suscita polêmicas inúteis. Quando seria muito mais simples e produtivo ao país admitir um novo patamar de 5,5% (6,5% em 2011 e 5,84% em 2012) do que a inalcançável e irrealista meta de 4,5%. Que não se vislumbra no horizonte sequer dos próximos anos! Apoiar o governo, sim. Fechar os olhos aos erros da política econômica com Lula (vide Meirelles subindo juros em plena quebra do Lehman Brothers!) e também com Dilma, não. Por isto, nada como a humildade de perceber que, às vezes, até o PIG tem alguma razão: não parece "estratégico" fazer um puxadinho em função de cada nova conjuntura. Sobe juros, baixa juros, sobe juros, um dia abaixa de novo. Desonera, reonera, desonera, reonera, depois desonera... Temos dificuldades reconhecidas pelo próprio PT de articulação política. Quase não aprovamos MPs fundamentais. Queremos dar um salto ou vai ser na base do 'mais do mesmo', para sempre?

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