Estará cometendo um grave erro o prefeito Haddad se cair no
canto de sereia da adoção do rodízio de veículo o dia inteiro na cidade de São Paulo, nos termos do que
propõe seu secretário do verde Ricardo Teixeira.
Erro técnico e político.
Do ponto de vista das suscetibilidades da classe média,
seria intolerável que se colocasse restrições à circulação de transporte
individual antes que tivesse melhorado em quantidade e qualidade o transporte
coletivo na metropole. A política da denegação do prefeito anterior,
de não pode isso não pode aquilo, deu no que deu: sua derrota no primeiro pleito
a que se submeteu.
Fosse palatável ao eleitorado a proposta que o aliado de ocasião traz a baila, Haddad a teria sustentado ainda durante sua campanha
eleitoral. Se não o fez, foi porque sabia de antemão desgastante e impopular a
medida. De medidas necessárias, porém impopulares o inferno está cheio, haja
vista a indefensável política de taxação da coleta de lixo que quase impediu a
volta do PT ao poder municipal ao mesmo tempo em que baniu da administração
pública a prefeita Marta Suplicy.
Se duvidar dos efeitos politicamente funestos da eventual
instituição do rodízio de veículos, consulte o prefeito a biografia do
ambientalista Fábio Feldman, que sem ousar tanto (o rodízio diário) teve a
carreira política cessada depois que, quando secretário do meio ambiente do
Estado, decidiu pela instituição do rodízio dentro do que se convencionou
chamar de centro expandido da cidade.
Bonitinho em suas calças jeans, o neófito em administração pública
Feldman viu minguar o eleitorado que lhe depositara confiança e nunca mais
voltou à Câmara dos Deputados para onde havia sido eleito inicialmente com
votação consagradora. O mesmo pode ser dito sobre a medida complementar ao rodízio,
a inspeção veicular, também ela recusada pelo eleitorado na forma como vinha sendo implantada.
Mas é no campo da realidade concreta que o rodízio de
veículos mostra-se uma medida ineficaz. Na cidade do México, onde foi implantada
desde os anos 1980, a medida duplicou a frota circulante e elevou em 10 vezes a
emissão de gases do efeito estufa.
Desatendidas com transporte público de
qualidade, as famílias preferiram adquirir um segundo ou terceiro veículo usado,
os quais, em menos de uma década, tornaram a iniciativa absolutamente inócua e
até mesmo impossível de ser revertida, já que cancelá-la implicaria em súbito e
inexequível aumento do número de carros nas ruas.
Convém ao prefeito conservar seu capital de credibilidade deixando
de recorrer a medidas momentosas que fujam ao dever de casa a que se propôs
quando foi candidato, melhorar o transporte de massas com a construção de novos
corredores de ônibus e a segregação do tráfego em favor do transporte coletivo.
O secretário do verde, que sugere a medida, não estará por
perto quando o prefeito tiver de explicar ao eleitorado do porquê de haver baixado
medida não combinada em campanha e sem que tivesse feito o que lhe cabia para
mitigar as causas estruturais dos problemas de trânsito.
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