Há pouco tempo atrás pude experimentar situação de trabalho em importante projeto de obra de infraestrutura em que as equipes encontravam-se sob comando de um septuagenário . O homem era um feixe de todas as emoções do que fora no passado e de como se via hoje em relação aos demais.
Não se tratava exatamente de intolerância a marca de seu comportamento mas da continuada demonstração da emocionalidade exacerbada de um homem inconformado com o não domínio de códigos , abordagens e leituras do mundo que tinham os mais jovens à sua volta e que respondia a qualquer gesto não comandado com externalizações emocionais as quais pareciam significar uma única coisa: o entendimento de que o mundo atual gerara um bando de incompetentes ou acomodados aos quais não seria sua tarefa “preparar”.
O personagem , com passar do tempo produziu no ambiente de trabalho como que uma guerra de gerações. O pessoal da faixa dos 20 já não falava com o pessoal da faixa dos 40 que já não falava com o pessoal da faixa dos 60. Um verdadeiro colapso da sociabilidade interna, que tinha na figura pusilânime do chefe o único elemento de coesão.
Não é preciso dizer dos prejuízos trazidos ao trabalho. Erros atrás de erros produzidos pelo não estabelecimento de canais informais de comunicação que tornavam de todo modo inútil os canais formais.
A dúvida que me acometeu naquela circunstância foi a de que se não seria o cataclisma da interaçao entre as pessoas ao invés de resultado da personalidade de um indivíduo um problema relacionado mesmo às dificuldades intrínsicas de relacionamento no ambiente de trabalho de pessoas em diferentes estágios etários.
A reposta à indagação surge agora de pesquisa realizada, pela American Academy of Management, com 8 mil profissionais de 60 companhias americanas, buscando averiguar até que ponto e em que circunstâncias a diferença de idade interfere no relacionamento de trabalho entre as pessoas.
Os resultados da pesquisa mostraram de maneira inconteste que diferenças de idade interfere sim, e muito, no grau de entrosamento e integração possível de ser alcançado pelas equipes engajadas em diferentes projetos das empresas pesquisadas.
Detalhe interessante da pesquisa diz respeito à constatação feita de que a correlação positiva entre diferenciais de idade, entrosamento e satisfação com o trabalho dependeria mais do grau com que os diferentes membros da equipe manifestavam suas próprias emocões no dia a dia do que das diferenças de idade em si.
Ambientes em que a cultura da organização tinha por salutar a externalização sem reparos da alternância de estados de ânimo pessoais, tendiam a apresentar também maior grau de conflito, insatisfação com o trabalho e perda da eficácia da comunicação interpessoal.
Contrariamente, ambientes pautados pelo tratamento mais formal entre as pessoas, limitando-se a manifestação das emoções pessoais e a liberdade na forma de apresentação individual (como por ex. barba e cabelo), tendiam a ser marcados por maior harmonia de relacionamentos e a propiciar um diálogo intergeracional de melhor qualidade.
No mesmo diapasão, a pesquisa mostrou que organizações que dispunham de equipes compostas por profissionais de diferentes idades eram tão mais produtivas, em relação às de maior homogeneidade etária, quanto mais definidos fossem os protocolos de atitudes com relação à demonstração das emoções pessoais. A cordialidade e a formalidade constituir-se-iam na garantia de uma ambiente com baixos níveis de "stress" nos relacionamentos interpessoais.
O que resulta da pesquisa é que o o proveito obtido em fundir a experiência dos mais velhos com o ânimo e a criativadade dos mais jovens apenas produzirá efeito na hipótese da haver elevado grau de formalização (certamente não exagerado) das relações entre as pessoas de diferentes idades, impedindo-se, desse modo, o comprometimento da cooperação esperada por uma natural tendência de cada grupo etário exergar a si mesmo como mais merecedor de posições de influência ou de comando na condução do projeto que o outro.
(Contudo, nem sempre idades harmônicas entre os membros da mesma equipe significam relações pacíficas)
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