No periódico destinado aos “supporters” das
candidaturas de oposição, o veículo do jornalismo canhoto dos grupos Folha e
Globo, o Valor Econômico, entrevista 3 ou 4 especialistas em política para
concluir que o anticlímax produzido pelas manifestações do 7 de setembro não
apenas prenuncia um cenário favorável para
candidatura Dilma como também impulsiona a ascensão da presidente nas
pesquisas de opinião. Veja os porquês.
Com medo de violência,
classe média esvazia manifestações
Valor Econômico de 09/09/2013
O novo perfil de manifestações sociais, com menor
volume de pessoas e maior frequência de ações violentas entre os que protestam
e a polícia, tende a afastar a classe média desse tipo de ato. Foi o que
ocorreu em 7 de setembro e o que pode vir a ser observado nos próximos eventos
do gênero, na opinião de cientistas sociais ouvidos pelo Valor.
Para o sociólogo e cientista político da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Paulo Baía, a violência
continuamente divulgada nos atos desestimula adesões. "Nos protestos de
sábado, estavam presentes os grupos mais violentos, não somente entre os manifestantes,
mas também entre as forças institucionais", disse. "Só quem vai aos
protestos agora são aqueles que valorizam o confronto, a violência como forma
de proteger sua representação", disse, acrescentando que a disposição, nos
atos em junho, era diferente. "Eram pessoas movidas por um sentimento de
mudar o país", avaliou.
Cláudio Couto, cientista político e professor do
curso de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo
(FGV-SP), acredita que a menor participação popular nos protestos era esperada.
"Ninguém se mobiliza o ano inteiro, há um refluxo normal nesse tipo de
manifestação", disse. A tendência, então, é que os mais radicais
permaneçam. No Rio, tanto os manifestantes, mais agressivos, quanto a polícia,
pouco preparada, afastaram os cidadãos comuns, que desejavam apenas expressar
sua opinião. "A resposta das forças institucionais no Rio foi mais
violenta", afirmou. "Há pouca habilidade da polícia local para lidar
com esse tipo de ato".
Para Túlio Velho Barreto, cientista político da
Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), de Recife, o ideário anarquista do grupo
Black Blocs, um dos organizadores das manifestações nas redes sociais, ganhou
força em um país em que há uma crise de representação dos partidos. "A
crise do paradigma de esquerda é mundial, mas no Brasil se agrava porque os
partidos são frouxos e pouco programáticos", disse.
Citando o caso recente da absolvição do deputado
Natan Donadon, Barreto disse que população brasileira sofre de um acúmulo de
impunidade e cinismo na atividade política no Brasil. "Há uma descrença
generalizada da atividade política dentro do partido. O que não é
necessariamente bom. Até hoje, não se fez democracia sem partidos",
afirmou.
No Recife, conta Barreto, os protestos contaram com
a participação de pequenos grupos. Algumas pessoas reunidas na Praça do Derby,
centro do Recife, entraram em confronto com a polícia. "Eles usaram
máscaras, foram abordados por policiais e se recusaram a se identificar",
afirmou. Um outro grupo tentou se articular pelas redes
sociais para sair sem roupa pelas ruas. "A
Secretaria de Defesa social já tinha se manifestado dizendo que iria prender
todo mundo que saísse nu. O movimento perdeu força".
Na opinião de Barreto, os impactos na popularidade
do governo Dilma Rousseff devem ser limitados. "É diferente do que ocorreu
após as manifestações de junho, quando houve um grande desgaste dos
governantes", afirmou.
Já o cientista político e professor da Universidade
Federal Fluminense (UFF) Marcus Ianoni aponta para uma leve recuperação na
imagem de Dilma e para a continuidade do desgaste político que ronda a figura
do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), como os principais sinais dos
protestos durante o dia da Independência.
Para Ianoni, o menor volume de pessoas nos atos pode
refletir o fato de que a população entende que o governo federal está buscando
soluções. E isso, na prática, ajuda a melhorar a imagem da presidente.
"O governo tem conseguido dar respostas à
essência das demandas de junho, relacionadas aos serviços públicos de
transporte, educação, e saúde", disse. "As pesquisas mostram que
Dilma reverteu parte da queda de popularidade observada em junho, durante o
auge dos protestos, e o PIB [Produto Interno Bruto] do segundo trimestre, com
alta de 1,5% [em relação ao primeiro trimestre], mostrou que nossa economia não
está perfeita, mas não está tão trágica como a oposição gostaria",
afirmou.
A lógica não é a mesma no caso do governador do
Rio. "Cabral, diferentemente de Dilma, não conseguiu dar esse tipo de
resposta", afirmou. O fato de o PT ter deixado um "vácuo" no
cenário político fluminense, abrindo espaço para lideranças do PSOL e de outras
bandeiras com diretrizes políticas mais agressivas, também contribuiu para
impedir a recuperação da imagem de Cabral. Para o professor da UFF, os
confrontos violentos nos protestos do Rio refletiram a insatisfação com as
respostas do governo do Estado em relação às demandas dos protestos de junho,
bem como uma repressão institucional mais violenta aos atos.
A ausência de uma "espinha dorsal"
política na coordenação dos protestos foi um dos pontos mais evidentes em
Brasília e no Rio, segundo Ianoni. Para ele, o perfil "desorganizado"
dos atos ocorridos no sábado deve prosseguir nas próximas manifestações.
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