terça-feira, 27 de outubro de 2015

PT deve pedir renúncia de Dilma






A crise política chegou a um novo ponto de inflexão com a ação da Polícia Federal na empresa de um dos filhos de Lula da Silva. Alguma alma interessada na manutenção do Ministro da Fazenda no cargo, de quem Lula pedira a cabeça, sussurrou nos ouvidos da presidente que as forças que pressionam pela deflagração de seu processo impeachment em 15 de novembro próximo poderiam dar-lhe trégua caso colaborasse em trazer o ex-presidente `a fogueira das operações desfechadas no âmbito do Ministério da Justiça.

Fiel a seu padrão de conduta, de abandonar antigos aliados em favor de relações proveitosas no campo adversário, Dilma emitiu enfim o primeiro sinal de ataque pessoal `aquele que idealizou sua chegada `a presidência da República. Abriu com as próprias mãos as portas do inferno ao seu antecessor ao autorizar que seu Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, contra todos os alertas feitos por aliados, fechasse os olhos ao pedido que a Polícia Federal fez `a Justiça para proceder a invasão do local de trabalho do filho de Lula.

O Partido dos Trabalhadores corroído em sem seu capital político seja pelo descrédito moral de seus líderes em sucessivas operações comandadas pela Policia Federal a fim de dar suporte `as teses de isenção do Governo seja pelos efeitos deletérios da política de austeridade econômica sobre a base social de sustentação do partido, começa não ter mais motivos para sustentar o governo Dilma.

A situação lembra muito aquela experimentada pelo partido Republicano dos Estados Unidos no curso da escândalo de Watergate quando, pressionado pela consequências eleitorais do caso de espionagem protagonizado por Nixon, forçou o presidente a renúncia para estupefação dos oposicionistas da época.

Se Dilma renunciará como fez Nixon não se sabe. Afinal, no episódio americano os Republicanos que pediram a renúncia de seu presidente puderam oferecer-lhe em troca um salvo-conduto a punições futuras por meio do perdão que lhe concedeu o sucessor Gerald Ford. Aqui, nada disso seria possível e Dilma teria de recorrer ao improvável apoio daqueles que agora pedem sua deposição com o propósito de manter-se no poder.

O preço agora a ser pago por Dilma para que evite o pedido de renúncia do partido que a elegeu será nada menos que a demissão de seu Ministro da Justiça. Não apenas pelo ato que deu embasamento ao desgaste da relação entre criador e criatura, mas por todo o histórico de omissões que fez com que seu próprio partido fosse a principal vítima de um governo que, em última instância, é seu. 

Em hipótese contrária, o partido sofreria menos danos colaterais se simplesmente abandonasse o governo e, a partir da sua queda, fizesse oposição clara e determinada a qualquer novo governo, que sucedendo-lhe, insista - como será inevitável - em turvar as conquistas recentes da classe trabalhadora brasileira. O discurso para o desembarque estaria pronto: “sim, Dilma mentiu! Ao invés de colocar em pratica o programa de governo do partido que a elegeu, governa para os bancos e o capital financeiro. Fora Levy!  

Poderia ser trágico. Mas seria interessante ver todos aqueles que insistiram em por fogo no circo, agora correrem exasperados para tentar apagá-lo. 

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Dilma abre espaço entre generais


Uma grande jogada que pareceu despercebida pela mídia, seja por incapacidade de interpretação seja pela inconveniência de reconhecê-lo, foi a recente indicação do senador Otto Alencar para presidir a Comissão Especial de Desenvolvimento Nacional, criada no âmbito do Senado para dar seguimento à "Chamada Agenda Brasil", de proposição da presidência dessa Casa Legislativa.

Para quem ainda não sabe, Otto Alencar foi vice-governador, quando então era ainda governador da Bahia, o atual Ministro das Forças Armadas Jacques Wagner. Tem com ele relação de confiança e sua designação não pode ser vista senão como patrocinada e conduzida pelo padrinho político.

Mais importante que essa questão de relacionamento pessoal é que, pela primeira vez e de fato, um ministro Civil das Forças Armadas é chamado a interferir diretamente nas questões de definição das políticas de Estado.

O fato traz mais um ator para as discussões sobre os possíveis desfechos da crise política que atravessa o País. Os militares estavam afastados institucionalmente das discussões sobre os caminhos do desenvolvimento do Brasil, pelo menos desde o Governo Sarney. Não foram ouvidos sobre as privatizações. Não foram ouvidos sobre os programas de distribuição de renda.

Esse fato é tão inusitado quanto o foram as declarações de líderes importantes do empresariado sobre os rumos a dar a crise, enfatizando a importância de manutenção da paz social e da ordem constitucional. Congrega e articula as Forças Armadas ao Congresso Nacional e ao Poder Executivo.

Para aquém da dimensão mais estratégia e mais estrutural afeta ao projeto de País, o fato tem o condão de demonstrar no conturbado ambiente político que atravessamos que, se concordaram com respaldar e até participar das discussões da Comissão, é óbvio que de antemão descartam nossos militares saídas de ruptura que atentem contra a ordem democrática. E a liga é tão rígida quanto carbono, o que se convencionou de chamar de projeto nacional; um programa patriótico dos diferentes atores institucionais com o objetivo de perseverar na construção da Nação.

Logo serão apenas os 40 réus de processos por improbidade que correm no Supremo, comandados pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha, aqueles que vociferarão pelo linchamento da presidente eleita em praça pública. E, quando assim for, poderão estar no lugar que lhes compete...a cadeia, se condenados forem.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Cunha chantageia Temer




Cena 1: passos apressados, Eduardo Cunha perseguido por jornalistas à porta da sala da presidência da Câmara onde se exilara por longas 8 horas no dia em que o Procurador Geral de Justiça denunciou-o ao Supremo por crime de corrupção e lavagem de dinheiro, deixa escapar por meio de declarações em "off" emitidas por acólitos incumbidos de defendê-lo à retaguarda, que, caso viesse a ser afastado em função dos crimes de que é acusado, arrastaria consigo personagens importantes da República;

Cena 2: rosto contristado, Michel Temer, vice-presidente da república, abandona sem dar também quaisquer explicações, em São Paulo, a sala onde se reunira pouco antes com Eduardo Cunha para tratar de assuntos relacionados à denúncia da PGR; Desta vez, é Cunha quem fala a imprensa, como quem dispusesse de certa autoridade moral sobre o interlocutor naquele momento: "o PMDB deve abandonar a articulação política do governo!".

Cena 3: surpreso, no café da manhã do dia seguinte, o mesmo Michel Temer estanca os olhos diante das manchete dos jornais, que apontam que o mesmo delator cujo depoimento fundamentara a denúncia contra Cunha disse que o intermediário da propina a Cunha, vulgo Fernando Baiano, representava também os interesses de ninguém menos que o próprio vice-presidente da República;

Cena 4: semblante austero, o vice-presidente da República procura a presidente eleita para dizer-lhe que via por finalizada a incumbência que lhe havia sido confiada na articulação política e que doravante se dedicaria ao que decidiu chamar assuntos de "macropolítica".

Vendo o filme inteiro parece não restar dúvidas de que Michel Temer foi finalmente garroteado por Cunha, como se diz lá na fronteira do Rio Grande do Sul. Depois de colocar-se como o unificador do país, segundo imagem que afastava-o mais de Cunha que de Dilma, já que a sobrevivência do primeiro depende única e exclusivamente da sua capacidade de tornar a crise de Dilma maior que a sua, Temer cedia e entregava os anéis para não perder os dedos.

E o que seriam os dedos para Temer? Ver-se arrastado para a mesma sina de Cunha que o ameaçou com um definitivo abraço de afogado. Os anéis para Temer seriam abdicar da coordenação política e quiçá, mais adiante, conduzir o afastamento do PMDB do governo.

Contudo, deixar de apoiar o governo não é bem o que Temer desejaria porque sabe o sagaz político que arrastar o PMDB não é tão fácil quanto se pensa. Estariam aí outros contendores seus dentro da sigla para abocanhar-lhe o quinhão que tem no governo, como já bem ensaiam o presidente do Congresso Renan Calheiros e o imbatível marechal de campo José Sarney.

Isto porque bem sabe o vice-presidente que parte expressiva dos deputados e senadores do partido não lhe seguiriam trocando a mais de 3 anos do fim de um governo o certo pelo incerto. Aliás um incerto tremendamente eivado de incertezas, desde que com a eventual queda de Dilma o poder não cairia por inércia nos colos do vice e tampouco do PMDB, que seriam tragados pela mesma lama em que se debate Cunha.

Que não haja dúvidas: Temer afasta-se da coordenação política e ensaiará subtrair a Dilma o apoio de seu partido porque está sendo chantageado por Cunha. Mas ao final, pela ausência de saídas seguras, a Temer restará o fado de voltar a ser um vice-presidente fraco e esvaziado e a Cunha...bom, esse então já terá passado.

sábado, 18 de julho de 2015

POR UM FIO

As contradições internas da política brasileira fizeram-me parar de escrever. Escrevo solitária e isoladamente quando penso que algo mereça ser refletido. Infelizmente agora não se trata disso. Algo muito pior. A chegada da temida crise institucional, se não ela mesma ao menos algo muito próximo disso.
Os governadores do nordeste politicamente se levantaram, cindindo até o momento o País em dois (gosto de escrever país com P maiúsculo, um pequeno gesto de patriotismo). Antes a cisão era eleitoral, com os eleitores divididos quase que por igual entre nordestinos e os demais. Pois bem, se a Federação está dividida que dirá então o aparato de Estado. Não precisa ir longe: o presidente de câmara acusa abertamente o Promotor Geral de chantagista. Nixon nos velhos tempos do Watergate ficaria com inveja de tamanho desassombro.
As articulações acontecem à luz do dia, com (novamente) o presidente da Câmara procurando o vice-presidente da Justiça eleitoral para ver qual a melhor forma de fisgar o peixe, vale dizer o mandato de Dilma. O presidente do Senado emite nota (vejam bem, nota) criticando uma das instâncias do Executivo, a Polícia Federal, opondo-a à polícia (com p minúsculo) do Senado. Ao mesmo tempo em que se insurge contra o Judiciário porque, ao final, foi este quem autorizou a ação policial.

Mas a percepção geral está um passo atrás da realidade. A própria mídia ainda não interpretou a natureza do novo momento e, perplexa, encadeia publicosamente (o neologismo é meu) um fato ao outro sem parar.
Há acontecimentos secundários, é verdade, mas estes apenas são bactérias factuais em proliferação.
Com o País dividido político e eleitoralmente não demorará muito para as ruas irem à porrada. E daí o imponderável. De tudo que li até agora sobre as crises que marcaram os anos 50 e 60 e a experiência vivida da década de 80 do século passado, nada se aproxima mais de uma situação de ruptura do processo democrático. A rede diplomática estendida sobre a atual situação internacional é o principal elemento que faz o quadro distanciar-se daquele do tempo mencionado.

Se não quisermos brincar de Ucrânia ou pior, de Bósnia, melhor é começar por entender que o momento é de pensar nos possíveis desdobramentos do impasse aberto.
As massas irão para a briga, secundadas pelas forças de apartação (o exército), à partir do momento que a política falhar. Há quem ache que os militares são desejáveis mas o exemplo de aprimoramento das instituições alcançado pelas Nações europeias, mostram o contrário.