Em jornal para empresário ler, os mais categorizados
articulistas dão como favas contadas a vitória de Dilma nas
eleições de 2014 e já passam a especular sobre o papel que Lula terá no segundo
mandato a fim de garantir para si um novo termo. Da abordagem adotada
depreende-se duas coisas com relação a 2018, além da certeza da candidatura de Lula:
revelar-se-ão inviáveis no futuro novas postulações de Aécio Neves e Eduardo
Campos; enxerga-se na liderança de Lula a única possibilidade de condução
exitosa de uma segunda rodada de transformações que o mundo da política e dos
negócios precisam. Segue o texto em que se baseiam tais
considerações, publicado na edição de 7 de julho de 2014 do jornal Valor
Econômico, exclusivo para assinantes.
Lula será protagonista
político no 2º mandato
Por Raymundo
Costa e Andrea Jubé | De Brasília
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se
prepara para ser protagonista político no segundo mandato da presidente Dilma
Rousseff, se ela vencer as eleições de 5 de outubro. A intenção de Lula é ter
uma atuação "proativa" já a partir de janeiro de 2015, com o objetivo
de manter unida a base política e social do governo. "Vai ser uma atuação
do tamanho da liderança política dele", disse ao Valor um
interlocutor do ex-presidente.
Os mais próximos de Lula descartam a hipótese de
que esse ativismo seja interpretado como interferência indevida em assuntos do
governo ou poder paralelo. Pelo contrário, avaliam que isso forçará Dilma a
conversar e negociar mais - movimentos que ela evitou no primeiro mandato.
"Ela vai ter de incorporar isso no processo político", disse a fonte.
Lula deverá liderar o debate sobre propostas que
Dilma eventualmente não queira tomar a frente, como seria o caso do projeto de
regulamentação dos meios de comunicação eletrônicos, que são concessões
públicas, defendida por aliados como o presidente do PT, Rui Falcão, e o
ex-ministro Franklin Martins.
Ele também pode ter uma posição diferente do
governo sobre assuntos econômicos, como, por exemplo, a política de
desonerações, para citar um caso.
Essa atuação "proativa" promete se
intensificar a partir do segundo ano do eventual último mandato de Dilma, pois
Lula já se coloca à disposição para voltar em 2018, "se o povo quiser um
velhinho", diz a fonte.
Do ponto de vista do lulismo, a presidente Dilma é
a chefe de governo e de Estado; mas a principal liderança do projeto político
do PT é Luiz Inácio Lula da Silva.
No primeiro mandato de Dilma o ex-presidente
procurou se manter ao largo, sobretudo nos dois primeiros anos, para não
dividir a base econômica e social na qual se assenta o lulismo. Outro fator que
o manteve longe dos holofotes foi o tumor na laringe.
Mas quando 1 milhão de pessoas saíram às ruas para
protestar contra o governo e exigir serviços públicos "padrão Fifa",
em junho do ano passado, Lula apareceu rapidamente para tentar socorrer Dilma,
que viu sua popularidade despencar. Gravou um vídeo exortando a militância
petista a se engajar na campanha pela reforma política sugerida pela
presidente.
Depois, Lula voltou a submergir. O ex-presidente
aumentou as participações em eventos públicos neste ano, a ponto de alimentar o
"Volta, Lula" e ser obrigado a reiterar declarações de que a
presidenciável do PT era Dilma e não ele. Lula e Dilma discutiram o assunto a
sós, numa reunião em São Paulo. Lula pediu que a presidente tomasse a frente de
sua campanha.
Depois disso, o ex-presidente teve uma reunião no
Instituto Lula com o ex-ministro Franklin Martins e o publicitário João
Santana. Dilma ficou sabendo e cobrou a ausência de seu ex-chefe de gabinete
Giles Azevedo. Lula respondeu que fora encontro de ocasião. Ele aproveitara a
presença de Franklin e Santana no Instituto Lula, após uma reunião, para trocar
impressões sobre pesquisas.
Outro mal-estar que persiste nas relações deve ser
corrigido nos próximos dias: a efetiva participação do ministro Gilberto
Carvalho (Relações Institucionais) na campanha da presidente. O ministro, que é
o mais próximo amigo de Lula ainda no governo Dilma, só ainda não fora
incorporado porque a presidente não o liberara, como fez com Giles, que era seu
chefe de gabinete na Presidência.
Confirmada a candidatura dilmista na convenção
nacional do PT em junho, Lula voltou a buscar os holofotes de forma
sistemática. Tem participado de atos políticos com e sem a participação de
Dilma. E começou a falar mais. Deu entrevistas para blogueiros escolhidos por
ele, falou para o SBT e para a imprensa internacional. Esses movimentos,
entretanto, são amostra tímida do "canhão político" que se pretende
afirmar na eventual continuidade do PT no poder.
Lula e Dilma chegam ao início da campanha
eleitoral, que começa oficialmente no dia 6, depois de superar um período de
turbulências por causa do "Volta, Lula".
O ambiente na campanha de Dilma é de profundo
ressentimento com a imprensa, a quem se atribui o clima de pessimismo com a
realização da Copa do Mundo. "O 'Não Vai Ter Copa' perdeu para a 'Copa das
Copas'. Ganhamos de goleada", diz um dos integrantes da coordenação de
campanha de Dilma.
A cúpula da campanha petista considera que venceu
uma "batalha preliminar da campanha eleitoral", que foi
"duríssima", segundo expressão de um de seus integrantes. Agora, com
o início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão - e o PT com o maior
tempo dos candidatos - avaliam que Dilma terá chance de mostrar suas
realizações.
"Vai ser uma campanha entre quem tem o que
mostrar e quem tem o que esconder", define este integrante da campanha.
O "Não Vai Ter Copa", segundo fontes
próximas de Dilma e Lula, "foi uma derrota política da oposição". A
campanha da presidente considerou "lamentável" a atitude de Aécio
Neves e Eduardo Campos em relação às vaias recebidas pela presidente na
abertura da Copa do Mundo.
Entende-se que eles não reagiram com firmeza às
vaias recebidas pela presidente da República, que estava no Estádio do
Itaquerão para abrir a Copa. Os dois teriam reagido como quem diz "ela
está colhendo o que plantou".
A crítica é especialmente rigorosa em relação ao
candidato do PSDB, Aécio Neves, que na visão da campanha de Dilma cedeu ao
"discurso do ódio", quando poderia adotar uma postura mais leve e
positiva, que o preparasse para sair da eleição de 2014 com um discurso pronto
para 2018.
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