Nos anos 1970 o mais popular vilão da TV era também o mais cômico. Seu nome, Tião Gavião. E o hilariante de suas desventuras era justamente o recorrente fracasso dos ardis em que se empenhava para prejudicar sua contendora em corridas, a simpática Penélope Charmosa.
Se o paralelo entre a trama
do desenho animado e a disputa que travam agora
Fernando Haddad e José Serra pela prefeitura de São Paulo soa algo falho
no que toca ao candidato petista, nem tanto ajustado ao papel de jovem charmoso,
cai a perfeição em Serra não apenas pela aparência velhaca do candidato mas
também pela rede de intrigas a que até agora se dedicou a fim impedir um desfecho
favorável ao seu adversário no pleito.
No entanto, como na série infantil, também nesse caso o embuste não deverá soprepor-se ao discernimento. Matéria do jornal Valor
Econômico faz um retrospecto das eleições travadas na cidade desde que foi
instituído o pleito em dois turnos, em 1992, para concluir que além de
improvável a vitória do candidato tucano é também mais difícil, se considerado
o curto tempo da campanha. Confira o texto na íntegra.
Em SP, quem começa na frente costuma ganhar
Por Cristiane Agostine, do Valor Econômico em 15/10/2012
Os candidatos à Prefeitura de São Paulo que começaram o segundo turno à
frente nas pesquisas de intenção de voto venceram nas urnas. É o que mostra a
comparação entre os levantamentos do instituto Datafolha com os resultados das
eleições de 1992, 1996, 2000, 2004 e 2008. Nas cinco disputas, a propaganda
obrigatória no rádio e na televisão não foi suficiente para mudar o cenário
indicado pelas pesquisas. Neste ano, a dificuldade para reverter o quadro
poderá ser maior, pois o horário político terá menos programas do que nas
eleições passadas.
De acordo com pesquisa feita entre 9 e 10 de outubro, Fernando Haddad
(PT) registrou 47% das intenções de voto e José Serra (PSDB), 37%. A margem de
erro é de dois pontos percentuais. Na contagem dos votos válidos, que exclui os
votos em branco e os nulos, Haddad tem 56% e Serra, 44%.
O histórico das eleições indica o desafio a ser enfrentado por Serra na
reta final da campanha. Em 1992, na primeira eleição com segundo turno na
cidade, Paulo Maluf (PPB, atual PP) começou a segunda rodada com uma vantagem
de doze pontos percentuais em relação a Eduardo Suplicy (PT). O horário
eleitoral durou vinte dias, de 24 de outubro a 12 de novembro, e o cenário das
pesquisas foi semelhante nas urnas, com a vitória de Maluf. Em 1996, a duração
da propaganda política
diminuiu para quinze dias, mas a história se repetiu na disputa
entre Celso Pitta (PPB) e Luiza Erundina: líder da pesquisa do segundo turno,
Pitta venceu Erundina.
Na eleição seguinte,
em 2000, Marta Suplicy (PT) iniciou o segundo turno com 69% das intenções dos
votos válidos contra 31% de Maluf. Nos quinze programas no rádio e na TV, Maluf reduziu a diferença,
mas foi derrotado.
Marta tentou a reeleição em 2004 contra José Serra,
mas perdeu. Nos quinze dias do horário político, Serra manteve-se à frente da
petista. Em 2008, a propaganda política teve duração menor, de treze programas,
mas essa redução pouco influenciou o que as pesquisas indicavam: o prefeito
Gilberto Kassab (DEM) começou o segundo turno na liderança e ganhou com uma
votação parecida com o que o Datafolha registrou (ver o gráfico). As
pesquisas, no entanto, sempre podem reservar surpresas.
Neste ano, o Datafolha indicou o candidato do PRB,
Celso Russomanno, na liderança do primeiro turno até quatro dias antes da
eleição e mostrava Russomanno e Serra no segundo turno. Só na véspera da
disputa o instituto mostrou um empate triplo: Serra com 28%, Russomanno com 27%
e Haddad com 24% das intenções dos votos válidos, em pesquisa com margem de
erro de dois pontos percentuais. Nas urnas, o tucano teve 30,75% dos votos
válidos, seguido pelo petista, com 28,98%. O candidato do PRB, com 21,6%, ficou
fora da disputa.
No segundo turno desta eleição, para tentar reverter a
desvantagem nas pesquisas, Serra prepara uma série de ataques a Haddad. No horário
eleitoral gratuito, que voltará a ser veiculado hoje e terá duração de doze
dias, o tucano vai explorar o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal
Federal e a condenação de petistas históricos, como José Dirceu e José Genoino.
Além disso, mostrará as falhas na realização do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) quando o petista era ministro da Pasta. A campanha tucana ainda estuda
como explorar o "kit gay" na televisão. Já Haddad deve mostrar os
problemas da gestão de Gilberto Kassab, sucessor e aliado de Serra, além do
mensalão mineiro.
A propaganda será exibida até dia 26. Serra e Haddad
terão direito a 20 minutos todos os dias, divididos em dois períodos.
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