terça-feira, 8 de julho de 2014

NOS BASTIDORES, ARTICULISTAS JÁ PENSAM EM LULA PARA 2018


 
 
 
Em jornal para empresário ler, os mais categorizados articulistas dão como favas contadas a vitória de Dilma nas eleições de 2014 e já passam a especular sobre o papel que Lula terá no segundo mandato a fim de garantir para si um novo termo. Da abordagem adotada depreende-se duas coisas com relação a 2018, além da certeza da candidatura de Lula: revelar-se-ão inviáveis no futuro novas postulações de Aécio Neves e Eduardo Campos; enxerga-se na liderança de Lula a única possibilidade de condução exitosa de uma segunda rodada de transformações que o mundo da política e dos negócios precisam. Segue o texto em que se baseiam tais considerações, publicado na edição de 7 de julho de 2014 do jornal Valor Econômico, exclusivo para assinantes.

Lula será protagonista político no 2º mandato

Por Raymundo Costa e Andrea Jubé | De Brasília

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se prepara para ser protagonista político no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, se ela vencer as eleições de 5 de outubro. A intenção de Lula é ter uma atuação "proativa" já a partir de janeiro de 2015, com o objetivo de manter unida a base política e social do governo. "Vai ser uma atuação do tamanho da liderança política dele", disse ao Valor um interlocutor do ex-presidente.

Os mais próximos de Lula descartam a hipótese de que esse ativismo seja interpretado como interferência indevida em assuntos do governo ou poder paralelo. Pelo contrário, avaliam que isso forçará Dilma a conversar e negociar mais - movimentos que ela evitou no primeiro mandato. "Ela vai ter de incorporar isso no processo político", disse a fonte.

Lula deverá liderar o debate sobre propostas que Dilma eventualmente não queira tomar a frente, como seria o caso do projeto de regulamentação dos meios de comunicação eletrônicos, que são concessões públicas, defendida por aliados como o presidente do PT, Rui Falcão, e o ex-ministro Franklin Martins.

Ele também pode ter uma posição diferente do governo sobre assuntos econômicos, como, por exemplo, a política de desonerações, para citar um caso.

Essa atuação "proativa" promete se intensificar a partir do segundo ano do eventual último mandato de Dilma, pois Lula já se coloca à disposição para voltar em 2018, "se o povo quiser um velhinho", diz a fonte.

Do ponto de vista do lulismo, a presidente Dilma é a chefe de governo e de Estado; mas a principal liderança do projeto político do PT é Luiz Inácio Lula da Silva.

No primeiro mandato de Dilma o ex-presidente procurou se manter ao largo, sobretudo nos dois primeiros anos, para não dividir a base econômica e social na qual se assenta o lulismo. Outro fator que o manteve longe dos holofotes foi o tumor na laringe.

Mas quando 1 milhão de pessoas saíram às ruas para protestar contra o governo e exigir serviços públicos "padrão Fifa", em junho do ano passado, Lula apareceu rapidamente para tentar socorrer Dilma, que viu sua popularidade despencar. Gravou um vídeo exortando a militância petista a se engajar na campanha pela reforma política sugerida pela presidente.

Depois, Lula voltou a submergir. O ex-presidente aumentou as participações em eventos públicos neste ano, a ponto de alimentar o "Volta, Lula" e ser obrigado a reiterar declarações de que a presidenciável do PT era Dilma e não ele. Lula e Dilma discutiram o assunto a sós, numa reunião em São Paulo. Lula pediu que a presidente tomasse a frente de sua campanha.

Depois disso, o ex-presidente teve uma reunião no Instituto Lula com o ex-ministro Franklin Martins e o publicitário João Santana. Dilma ficou sabendo e cobrou a ausência de seu ex-chefe de gabinete Giles Azevedo. Lula respondeu que fora encontro de ocasião. Ele aproveitara a presença de Franklin e Santana no Instituto Lula, após uma reunião, para trocar impressões sobre pesquisas.

Outro mal-estar que persiste nas relações deve ser corrigido nos próximos dias: a efetiva participação do ministro Gilberto Carvalho (Relações Institucionais) na campanha da presidente. O ministro, que é o mais próximo amigo de Lula ainda no governo Dilma, só ainda não fora incorporado porque a presidente não o liberara, como fez com Giles, que era seu chefe de gabinete na Presidência.

Confirmada a candidatura dilmista na convenção nacional do PT em junho, Lula voltou a buscar os holofotes de forma sistemática. Tem participado de atos políticos com e sem a participação de Dilma. E começou a falar mais. Deu entrevistas para blogueiros escolhidos por ele, falou para o SBT e para a imprensa internacional. Esses movimentos, entretanto, são amostra tímida do "canhão político" que se pretende afirmar na eventual continuidade do PT no poder.

Lula e Dilma chegam ao início da campanha eleitoral, que começa oficialmente no dia 6, depois de superar um período de turbulências por causa do "Volta, Lula".

O ambiente na campanha de Dilma é de profundo ressentimento com a imprensa, a quem se atribui o clima de pessimismo com a realização da Copa do Mundo. "O 'Não Vai Ter Copa' perdeu para a 'Copa das Copas'. Ganhamos de goleada", diz um dos integrantes da coordenação de campanha de Dilma.

A cúpula da campanha petista considera que venceu uma "batalha preliminar da campanha eleitoral", que foi "duríssima", segundo expressão de um de seus integrantes. Agora, com o início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão - e o PT com o maior tempo dos candidatos - avaliam que Dilma terá chance de mostrar suas realizações.

"Vai ser uma campanha entre quem tem o que mostrar e quem tem o que esconder", define este integrante da campanha.

O "Não Vai Ter Copa", segundo fontes próximas de Dilma e Lula, "foi uma derrota política da oposição". A campanha da presidente considerou "lamentável" a atitude de Aécio Neves e Eduardo Campos em relação às vaias recebidas pela presidente na abertura da Copa do Mundo.

Entende-se que eles não reagiram com firmeza às vaias recebidas pela presidente da República, que estava no Estádio do Itaquerão para abrir a Copa. Os dois teriam reagido como quem diz "ela está colhendo o que plantou".

A crítica é especialmente rigorosa em relação ao candidato do PSDB, Aécio Neves, que na visão da campanha de Dilma cedeu ao "discurso do ódio", quando poderia adotar uma postura mais leve e positiva, que o preparasse para sair da eleição de 2014 com um discurso pronto para 2018.

sábado, 7 de junho de 2014

Professor da FGV faz análise original e diz que Dilma vence em primeiro turno






O texto que você lerá abaixo, do professor César Zuco da FGV, é um dos mais interessantes publicados na imprensa diária sobre a disputa eleitoral que transcorre neste momento no Brasil. A análise nele desenvolvida se destaca das demais por estabelecer referenciais estruturais, válidos para o conjunto dos países latino-americanos, para avaliar as chances reais de reeleição de mandatários ou de seus apoiados sem as distorções produzidas pela injunção dos acontecimentos mais imediatos responsáveis por oscilações conjunturais na posição relativa dos candidatos.
Por essa análise, apenas uma hecatombe (nas palavras do autor) poderá impedir Dilma Russef de ser reconduzida ao Palácio do Planalto, ainda em primeiro turno, nas eleições que se avizinham. Ao texto.

Conjuntura desfavorável, estrutura nem tanto


O ano eleitoral traz consigo o "império da conjuntura", quando cada fato ou factoide novo é examinado à exaustão por analistas e interpretações muitas vezes conflitantes são "repercutidas" pelas equipes de assessores e simpatizantes dos principais postulantes à Presidência.

É compreensível, e até mesmo justificável, que este esporte torne-se mania nacional. Afinal, a enxurrada de novidades potencialmente relevantes é tanta que a campanha presidencial - e consequentemente o país - parecem poder tomar um novo rumo a qualquer momento.

Há evidências, no entanto, de que talvez a conjuntura não seja tão relevante quanto tendemos a crer. As eleições presidenciais americanas, por exemplo, podem ser previstas com bastante precisão mais de um ano antes do pleito, com base em variáveis econômicas que mudam apenas lentamente. A intenção de voto do eleitor americano varia bastante, e às vezes bruscamente, ao longo do período eleitoral, mas teima em convergir para a estimativa "estrutural" feita antes mesmo de se conhecer a identidade dos candidatos.

Cenário econômico externo sugere que Dilma será reeleita

O Brasil difere dos Estados Unidos em muitos aspectos e não temos uma série longa de eleições para analisar. Cabe perguntar se é possível, dados os limites impostos pela existência de apenas seis eleições presidenciais, fugir da análise meramente conjuntural e tentar interpretar os sinais estruturais para a eleições de outubro.

Duas formas razoáveis de contornar a falta de dados incluem tanto a comparação do Brasil com países parecidos, quanto a mudança do foco da análise de resultados eleitorais para a aprovação de presidentes, para a qual temos uma série longa de dados.

Em países que, como o Brasil, exportam commodities e importam capital, duas variáveis econômicas internacionais - preços de commodities e a taxa de juros americanas - exercem forte influência sobre a economia doméstica, e, por sua vez, afetam o sucesso de presidentes. Estas duas variáveis podem ser combinadas num único indicador de "bons ventos" econômicos, que revela um mapa bastante intuitivo e acurado do cenário econômico internacional ao longo das últimas décadas para esses países: condições extremamente desfavoráveis nos anos 80, melhora progressiva até meados da década de 90, uma breve porém significativa deterioração no fim daquela década, e uma melhora sem precedentes a partir de 2002. O índice atingiu seu máximo em meados de 2011 e desde então vem caindo.

O índice de "bons ventos" tem um impacto muito grande na probabilidade que qualquer presidente latino-americano se reeleja ou eleja seu sucessor, e nos ajuda a entender por que poucos governos elegeram sucessor nos anos 80 ou na virada do século.

O índice explica também grande parte da variação da avaliação de presidentes brasileiros desde 1988. Seu impacto é indireto, afetando inúmeras variáveis econômicas domésticas como crescimento, inflação, desemprego, nível de renda e taxa de câmbio. Estes indicadores se combinam para afetar a percepção da população, mas a influência de cada uma depende muitas vezes do nível dos demais, e as associações entre eles tornam a tarefa de separar os efeitos de cada variável na aprovação longe de trivial. O uso do indicador externo, portanto, simplifica a análise ao passo em que retém grande poder explicativo.

Convém salientar um ponto fundamental que decorre da análise. Nós - assim como os demais latino-americanos - avaliamos governos com base em resultados que em grande parte não são causados ou controlados por eles. Atribuímos inteiramente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o sucesso econômico de seus governos desconsiderando que o cenário externo era extremamente favorável, e não descontamos o fato de a presidente Dilma Rousseff estar governando durante um período bem menos benigno. Este erro de atribuição, por sinal, é frequentemente cometido tanto por eleitores comuns quanto pelos mercados hiperinformados e racionais.

As vésperas do protestos de 2013, a taxa de avaliação positiva da presidente Dilma estava nos níveis previstos pelo contexto econômico internacional. Despencou, recuperou-se parcialmente, mas ainda está bastante abaixo dos cerca 55% que seria de se esperar hoje. O índice de "bons ventos" segue em queda, tendo baixado cerca de 20% desde o pico. Apesar da direção ser negativa, o seu nível é superior ao de 2006, e ainda bastante positivo em termos históricos.

Na falta de uma bola de cristal, o passado é o melhor guia para antecipar o futuro. Projetando um cenário razoavelmente pessimista para os próximos seis meses, com algum aumento na taxa de juros americana e queda adicional das commodities, a experiência dos últimos 25 anos indica que a presidente deveria chegar em outubro com mais de 45% de avaliações entre boa e ótima. Não há uma maneira precisa de traduzir esta popularidade em votos, mas sabe-se que ela tende a ser mais direta nas eleições em que o presidente é candidato a reeleição.

Em resumo, a não ser que tenhamos ingressado em um mundo completamente diferente do que existia antes de 2013, e que a avaliação do presidente tenha se desconectado de seus determinantes estruturais históricos - uma possibilidade que não podemos nem confirmar nem descartar - há poucas chances de o governo perder a eleição.

Apesar da minha ênfase em determinantes estruturais, é evidente que a conjuntura pode não colaborar. Porém, exceto por um cataclisma político da dimensão de um apagão elétrico, uma maioria esmagadora das pequenas e médias incógnitas conhecidas ou desconhecidas a serem realizadas entre agora e outubro teriam que desfavorecer o governo. Isso pode até acontecer, mas a probabilidade de tal conjunção é baixa.

Assim, este exercício sugere que a sensação difusa, porém geral, de que a eleição de 2014 será extremamente competitiva seja, talvez, fruto de uma valorização excessiva do conjuntural em detrimento do estrutural.

Cesar Zucco é cientista político, professor da FGV-Ebape e colunista convidado do Valor. Publicado no jornal Valor Econômico de 6 de junho de 2014.





 


 

sábado, 5 de outubro de 2013

Quem perde quem ganha





A decisão de Marina Silva de filiar-se ao PSB e figurar como vice na chapa desse partido à presidência da Republica atinge em cheio as pretensões eleitorais dos tucanos de chegarem ao segundo turno das eleições de 2014.

A decisão da ex-ministra de Lula de aliar-se a outro ex-ministro de Lula, Eduardo Campos, marca o fim de uma era em que a opção liberal para a sociedade brasileira ainda era vista como alternativa ao trabalhismo de esquerda do partido dos trabalhadores.

Não irá ao segundo turno o candidato Aécio Neves por haver ensejado com o discurso totalizante de “ser contra tudo que esta ai" a rejeição definitiva ao modelo tucano de economia e sociedade, orientado pela lógica do capital financeiro e submetido as forças tendenciosamente cegas do mercado.

Ainda que haja um perdedor de fato com a decisão de Marina Silva, o partido dos tucanos, não consta que haja um ganhador certo. Nada sugere que ao colocar-se como força reparadora das incongruências reais e imaginarias do governo em exercício possam os que dele dissentiram convencer a parcela do eleitorado disposta a apoiar Dilma Russef nas próximas eleições de que colaboradores possam se sair melhor que seus chefes.

Isso porque não existem 3 modelos de sociedade forjados pelos mesmo processo histórico que teve sua ruptura com o fim do governo de João Goulart. Disso sabem o neto de Miguel Arraes que com Jango ombreou nas lutas que culminaram com o golpe militar de 1964 e a companheira de Chico Mendes. a quem o partido dos trabalhadores deveu parte da seu mito de origem.      

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Dilma faturou com o 7 de setembro





No periódico destinado aos “supporters” das candidaturas de oposição, o veículo do jornalismo canhoto dos grupos Folha e Globo, o Valor Econômico, entrevista 3 ou 4 especialistas em política para concluir que o anticlímax produzido pelas manifestações do 7 de setembro não apenas prenuncia um cenário favorável para  candidatura Dilma como também impulsiona a ascensão da presidente nas pesquisas de opinião. Veja os porquês.
Com medo de violência, classe média esvazia manifestações
Valor Econômico de 09/09/2013
O novo perfil de manifestações sociais, com menor volume de pessoas e maior frequência de ações violentas entre os que protestam e a polícia, tende a afastar a classe média desse tipo de ato. Foi o que ocorreu em 7 de setembro e o que pode vir a ser observado nos próximos eventos do gênero, na opinião de cientistas sociais ouvidos pelo Valor.
Para o sociólogo e cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Paulo Baía, a violência continuamente divulgada nos atos desestimula adesões. "Nos protestos de sábado, estavam presentes os grupos mais violentos, não somente entre os manifestantes, mas também entre as forças institucionais", disse. "Só quem vai aos protestos agora são aqueles que valorizam o confronto, a violência como forma de proteger sua representação", disse, acrescentando que a disposição, nos atos em junho, era diferente. "Eram pessoas movidas por um sentimento de mudar o país", avaliou.
Cláudio Couto, cientista político e professor do curso de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), acredita que a menor participação popular nos protestos era esperada. "Ninguém se mobiliza o ano inteiro, há um refluxo normal nesse tipo de manifestação", disse. A tendência, então, é que os mais radicais permaneçam. No Rio, tanto os manifestantes, mais agressivos, quanto a polícia, pouco preparada, afastaram os cidadãos comuns, que desejavam apenas expressar sua opinião. "A resposta das forças institucionais no Rio foi mais violenta", afirmou. "Há pouca habilidade da polícia local para lidar com esse tipo de ato".
Para Túlio Velho Barreto, cientista político da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), de Recife, o ideário anarquista do grupo Black Blocs, um dos organizadores das manifestações nas redes sociais, ganhou força em um país em que há uma crise de representação dos partidos. "A crise do paradigma de esquerda é mundial, mas no Brasil se agrava porque os partidos são frouxos e pouco programáticos", disse.
Citando o caso recente da absolvição do deputado Natan Donadon, Barreto disse que população brasileira sofre de um acúmulo de impunidade e cinismo na atividade política no Brasil. "Há uma descrença generalizada da atividade política dentro do partido. O que não é necessariamente bom. Até hoje, não se fez democracia sem partidos", afirmou.
No Recife, conta Barreto, os protestos contaram com a participação de pequenos grupos. Algumas pessoas reunidas na Praça do Derby, centro do Recife, entraram em confronto com a polícia. "Eles usaram máscaras, foram abordados por policiais e se recusaram a se identificar", afirmou. Um outro grupo tentou se articular pelas redes

sociais para sair sem roupa pelas ruas. "A Secretaria de Defesa social já tinha se manifestado dizendo que iria prender todo mundo que saísse nu. O movimento perdeu força".
Na opinião de Barreto, os impactos na popularidade do governo Dilma Rousseff devem ser limitados. "É diferente do que ocorreu após as manifestações de junho, quando houve um grande desgaste dos governantes", afirmou.
Já o cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcus Ianoni aponta para uma leve recuperação na imagem de Dilma e para a continuidade do desgaste político que ronda a figura do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), como os principais sinais dos protestos durante o dia da Independência.
Para Ianoni, o menor volume de pessoas nos atos pode refletir o fato de que a população entende que o governo federal está buscando soluções. E isso, na prática, ajuda a melhorar a imagem da presidente.
"O governo tem conseguido dar respostas à essência das demandas de junho, relacionadas aos serviços públicos de transporte, educação, e saúde", disse. "As pesquisas mostram que Dilma reverteu parte da queda de popularidade observada em junho, durante o auge dos protestos, e o PIB [Produto Interno Bruto] do segundo trimestre, com alta de 1,5% [em relação ao primeiro trimestre], mostrou que nossa economia não está perfeita, mas não está tão trágica como a oposição gostaria", afirmou.
A lógica não é a mesma no caso do governador do Rio. "Cabral, diferentemente de Dilma, não conseguiu dar esse tipo de resposta", afirmou. O fato de o PT ter deixado um "vácuo" no cenário político fluminense, abrindo espaço para lideranças do PSOL e de outras bandeiras com diretrizes políticas mais agressivas, também contribuiu para impedir a recuperação da imagem de Cabral. Para o professor da UFF, os confrontos violentos nos protestos do Rio refletiram a insatisfação com as respostas do governo do Estado em relação às demandas dos protestos de junho, bem como uma repressão institucional mais violenta aos atos.

A ausência de uma "espinha dorsal" política na coordenação dos protestos foi um dos pontos mais evidentes em Brasília e no Rio, segundo Ianoni. Para ele, o perfil "desorganizado" dos atos ocorridos no sábado deve prosseguir nas próximas manifestações.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Dilma com a iniciativa






Dilma pediu decisão popular sobre a convocação de uma Constituinte exclusiva. A proposta lançada pela presidente é nitroglicerina pura para as acomodadas instituições do País. Para o Congresso acostumado a votar em conta-gotas leis e emendas constitucionais que consagram proposições de grupos minoritários da sociedade e para o Judiciário, satisfeito em extrair poder da interpretação de preceitos contraditórios de uma Constituição crescentemente maculada por interesses particularistas.

Como na propaganda de um veiculo utilitário lá pelos anos 1970 cujo mote para o encaminhamento de toda e qualquer tranqueira era “bota na Kombi”, assim a carta Magna brasileira tem sido o destino final de todo o interesse que se pretenda intocável.

Convocado pela emissora de rádio da Rede Globo, a CBN, a opinar sobre o chamamento da presidente, o ex-ministro do Supremo Federal Ayres Brito, taxou-a de aventureira pelo fato de colocar em risco a estabilidade jurídica advinda da Carta de 1988. Nas suas palavras “essas coisas a gente sabe como começa e nunca sabe como termina”.

Por seu turno, antecipando-se à presidência do Congresso, a oposição parlamentar ao governo, trombeteou alto e bom som que a proposta formulada pela chefe do executivo é despropositada por transferir ao Congresso a responsabilidade pela crise da instituições representativas inauguradas pelas manifestações de ruas, já que depende dele Congresso a autorização para a convocação de plebiscito sobre a decisão da abertura de processo constituinte.

Não tem legitimidade, no entanto, nem este nem aquele para censurar a proposta presidencial. Não a tem o Congresso porque representado por Renan Calheiros, notório representante das oligarquias nordestinas, homem-forte do governo Collor e aliado de primeira hora de José Sarney, a quem deve seu retorno à presidência do Congresso depois de haver renunciado ao mandato quase duas décadas atrás para evitar a cassação por ofensas éticas à Casa a que deveria servir.

Não tem legitimidade também o Supremo porque seu presidente é chefe de um poder corrupto e responsável direto pelo colapso da administração da justiça em nosso País, que sujeita o cidadão a uma espera de 2 anos para assistir ao início da arbitragem de direitos em tribunais de pequena causa, nos quais se discute uma disputa entre vizinhos. O mensalão? Cortina de fumaça para ocultar essa ultrajante impotência do judiciário brasileiro para proporcionar segurança jurídica ao homem comum e distribuir justiça.

Devido a essa perda súbita e irrevogável de legitimidade das instituições e dos partidos políticos é que Dilma acerta quando propõe zerar o jogo e devolver ao povo, por meio da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva, o poder de decidir sobre as questões elencadas como relevantes à cidadania.

O poder da mídia, as regras da política, o funcionamento das grandes cidades, os negócios religiosos, tudo, simplesmente tudo estará sob o escrutínio nessa nova Constituinte. E aos partidos não restará outra saída senão fazer aquilo que é o seu principal papel, a disputa ideológica em torno de propostas para a sociedade.


terça-feira, 18 de junho de 2013

Constituinte Exclusiva Já






Toda energia não canalizada tende dissipar-se. E a energia mobilizada pelas manifestações que eclodem pelo País já não podem ser direcionadas a uma ou outra demanda isolada. Passagem de ônibus? PEC 37? Corrupção? 

Não! Cada um tenta puxar a sardinha para o seu lado enquanto a população nas ruas não quer menos que a reforma cabal e completa das instituições.

Não uma reforma conduzida por esses congressistas que estão aí, também eles alvo da fúria popular. Mas por outros, eleitos com o propósito de redesenhar as instituições e imprimir novo sentido de finalidade ao ordenamento jurídico.

Basta de salvadores pré-fabricados como o raivoso presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, erigido pelas organizações Globo como exemplo a ser seguido segundo a receita do estude, preste concurso público para sentar-se a mesa com os poderosos, ainda que arrote e solte gases à mesa.

A saída é coletiva tal qual a história ao longo dos tempos tem ensinado, mesmo que a confiança popular não favoreça nem os partidos nem os sindicatos, eles mesmos forças instrumentais de uma ordem a que se deseja por fim.

Mas o ímpeto transformador das mobilizações engendradas pela história se deixado só às ruas levam a becos sem saída, o fogo das barricadas mantido a arder noite a dentro extingue-se por si mesmo. O que não é de modo algum bom para a nação, pois se a montanha parir um rato haverá no futuro a violência que nasce da decepção.

Foi a Constituição de 1988 que abriu essa caixa de pandora com o primado que estabeleceu da soberania popular e da justiça social. Seu cumprimento, a ferro e fogo por meio dos programas sociais de larga envergadura nos governos Lula e Dilma, estabeleceu uma nova consciência de direitos incompatível com o funcionamento de instituições que a ela sobreviveram ainda eivadas de interesses particularistas das oligarquias conservadoras.

Da concentração da mídia aos poderes de investigação pelas instituições de Estado, tudo deve ser repensado segundo a legitimidade de uma nova Constituinte que exprima o espírito dos tempos, afinado com a inclusão social e a democracia direta tornada possível com os mecanismos de internet.

Dizer não ao Congresso, dizer não às oligarquias estaduais e ao economicismo que não vê mais que números e cifras enquanto a população padece nas cidades, exige como resposta a criação de uma instância de decisão e de reformulação das instituições que esteja acima dos poderes constituídos dos quais refoge toda e qualquer confiança.

Que as ruas vocalizem o grito de uma Constituinte soberana e exclusiva já, para o bem do Brasil!  


sábado, 1 de junho de 2013

Blogueiros a beira de um ataque de nervos






Contribuiriam muito mais os chamados blogueiros de esquerda caso se empenhassem em análises pouco mais sofisticadas sobre o momento que vive o País e sobre a relação de forças estabelecida entre tendências políticas que se batem pela sua hegemonia político-eleitoral.

Caíram de pau – como se costuma dizer – na elevação de juros promovida pelo banco central, bradam contra o que chamam de fogo cerrado mantido pela mídia sobre a politica econômica e seus resultados, criticam o oportunismo esperado de aliados do governo no fechamento de alianças e nas atitudes em votações do Congresso.

Como parecem não dispor de tranquilidade para análises que integrem diferentes dimensões da realidade numa visão de sentido politico claro, que ofereça uma interpretação ajustada aos avanços obtidos nos últimos anos pelos agrupamentos antiliberais na politica, esbravejam e transformam em narrativa de suspense o que deveria ser esclarecedora literatura da realidade nacional.

A alta recente dos juros decretada pelo Banco Central não se constituiu traição do presidente da instituição Alexandre Tombini à política de retomada do crescimento econômico promovido pela presidente. Foi antes medida que teve em vista antecipar-se à futura alta dos juros nos Estado Unidos, cuja economia vem dando sucessivos sinais de restabelecimento, e que uma vez deflagrada produziria uma fuga de capitais do Brasil em direção à praça nova-iorquina. Isso numa conjuntura em que o mais baixo crescimento da China vem derrubando os preços da comódites internacionais e ampliando perigosamente os déficites nas contas de transações correntes brasileiras.

Se o Banco Central não apontar para um embicamento dos juros quando os norte-americanos o fazem e o saldo de nossas contas de comércio vai a pique, o resultado será uma crise cambial. E aí, queridos, parafraseando Cacá Diegues de “bye bye Brazil”, poderíamos dizer "bye bye Dilma 2014”.

Agora, se a mídia explora a seu modo as novas circunstâncias da economia brasileira deveríamos fazer o mesmo em favor de uma perspectiva menos desanimadora. Mostrar que o transatlântico brasileiro irá descrever sua curva para não bater nos icebergs que se deslocam do rompimento da plataforma de poder das relações entre China e Estados Unidos; que vamos sim crescer mais lentamente, mas sem perder os ganhos de renda transferidos aos mais pobres que suportam eleitoralmente a pretensões do governo de esquerda de continuar no poder a partir de 2014; que a crise de 2008 reconfigurou a economia mundial, mas que não tirou o País do jogo das economias emergentes que influenciarão o panorama internacional até a segunda metade deste milênio.

Os surtos raivosos não ajudam o eleitorado que confia em Dilma e no governo das esquerdas a entender o que está se passando e em função disso o porquê dos políticos que se somam à presidente agirem de maneira dúbia sempre que lhes é solicitada a interveniência. Tampouco ajuda a intemperança dos que se dizem impacientes com as concessões da presidente.

Seguiremos mais lentamente, mas seguiremos. Só não podemos perder o papel de força aglutinadora das tendências políticas de esquerda que nos deram as diversas vitórias eleitorais nos últimos 15 anos. Resiliência é a palavra do momento.