quinta-feira, 10 de julho de 2014

VEXAME DO SELECIONADO NÃO AFETARÁ DILMA




Analista de política do jornal Valor Econômico reproduz na edição de ontem do diário (9/07/2014) análise do respeitado cientista político do CEBRAP e da Unicamp Marcos Nobre o qual afirma que as oposições a Dilma Russef não poderão extrais dividendos eleitorais da derrota sofrida pelo selecionado brasileiro frente ao da Alemanha. Acompanhe a interessante análise do estudioso.




VEXAME PODE REFORÇAR VOTOS NULOS
por Cristian Klein, para o jornal Valor Econômico

A derrota humilhante de 7 a 1 da Seleção brasileira para a Alemanha deve ter impacto na eleição deste ano, com aumento de votos em branco e nulos, mas provavelmente não beneficiará nenhum dos candidatos à Presidência. É o que prevê o filósofo político Marcos Nobre, do Cebrap e da Unicamp, autor do livro "Choque de democracia - Razões da revolta", sobre a eclosão das manifestações de rua no ano passado.

Para Nobre, a Seleção "sem meio de campo" é a metáfora perfeita para o governo Dilma Rousseff - "que não consegue se comunicar com os empresários, com os sindicatos, que se isola". Mas a presidente não deverá ser responsabilizada pelo fracasso do futebol brasileiro, na segunda Copa do Mundo sediada pelo país.

Em sua opinião, os dois principais candidatos da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), não terão condições de culpar Dilma, já que se aproveitar do mau resultado do futebol pode ser um risco. "A oposição não pode capitalizar. É como comemorar a morte do inimigo no velório dele", afirma Nobre, para quem o Brasil passa a viver um luto, que deve ser reconhecido por Dilma Rousseff.

A vantagem da presidente, ressalta o filósofo político, é que Dilma procurou se identificar com o craque Neymar Jr. - que ficou fora da semifinal - mas não com o técnico Luiz Felipe Scolari, sobre quem deve recair a maioria das críticas. Na segunda-feira, Dilma imitou o gesto de Neymar com os braços em forma de T para reproduzir nas redes sociais o bordão "É Toiss!", pelo qual o jogador costuma cumprimentar os companheiros. Foi uma homenagem ao atleta depois que uma pancada na região lombar o tirou da Copa, durante a partida contra a Colômbia, nas semifinais.

Para Marcos Nobre, o marketing da campanha à reeleição de Dilma pode até se beneficiar ou pelo menos neutralizar possíveis efeitos da derrota com a estratégia de "salvar a imagem do país", "sair do luto", ao argumentar que o Brasil conseguiu fazer a "Copa das Copas", sem os transtornos de organização previstos. Seria a "parte boa" para se guardar do Mundial. E nisso Dilma poderia reivindicar os créditos pela realização do evento.

"Mas essa estratégia tem que ser muito sutil, pois o luto vai ser muito pesado", diz. Para Nobre, a única saída de Dilma é dizer: "Nós fomos bons anfitriões. Estamos de luto. Mas somos bons perdedores". O filósofo político crê que a presidente possivelmente será vaiada na entrega da taça, no domingo, no Maracanã, mas não xingada, como na abertura da Copa, pois o comportamento destes torcedores "pegou muito mal".

Para Marcos Nobre, a realização de protestos de rua por causa do vexame da Seleção é improvável, ao menos na proporção dos já observados neste e, principalmente, no ano passado. É preciso separar, destaca o professor, a existência de três instâncias: o futebol (a Seleção), a Fifa e os governos (nos diversos níveis: federal, estadual e municipal).

"O movimento #Não vai ter Copa não tinha a ver com futebol. Os manifestantes não podem dizer: 'A gente avisou'. Pois as críticas eram dirigidas à Fifa e aos governos, não ao futebol. Foi o futebol que fracassou. E ele é a imagem da sociedade. A sociedade fracassou. Não adianta buscar um culpado. Foi o Felipão? Foi o zagueiro da Colômbia que tirou o Neymar da Copa? O Thiago Silva? O Dante, que estava mal posicionado no primeiro gol? É um luto absoluto e não tem a quem culpar", diz.

O desânimo da sociedade, no entanto, pode reforçar uma tendência já detectada em pesquisas eleitorais desde os protestos de junho de 2013: o aumento dos votos em branco e nulo. "O grande risco dessa eleição, que vem do terremoto de junho, é o de os eleitores não encontrarem nenhuma esperança institucional, o de haver um aumento da descrença. A Seleção ser humilhada contribui para esse sentimento", afirma.

A falta de correlação entre resultados da Copa e o das eleições à Presidência, lembra Marcos Nobre, já está estabelecido no debate político brasileiro.

Por outro lado, o que é "muito frustrante", qualifica, é o grau de humilhação da derrota depois de um momento de alívio, em que o país e o mundo faziam o balanço de que a organização da Copa no Brasil deu certo. "Não só tudo deu certo, como fizemos o que nenhum país fez, que foi combater o comércio ilegal de ingressos. Não deu vexame e quando nos concentramos no futebol, aí acontece esse desastre", afirma. Na segunda-feira, Raymond Whelan, CEO da Match, empresa que detém direitos exclusivos de venda de pacotes e camarotes da Fifa, foi preso pela polícia, no hotel Copacabana Palace, no Rio.





 

terça-feira, 8 de julho de 2014

NOS BASTIDORES, ARTICULISTAS JÁ PENSAM EM LULA PARA 2018


 
 
 
Em jornal para empresário ler, os mais categorizados articulistas dão como favas contadas a vitória de Dilma nas eleições de 2014 e já passam a especular sobre o papel que Lula terá no segundo mandato a fim de garantir para si um novo termo. Da abordagem adotada depreende-se duas coisas com relação a 2018, além da certeza da candidatura de Lula: revelar-se-ão inviáveis no futuro novas postulações de Aécio Neves e Eduardo Campos; enxerga-se na liderança de Lula a única possibilidade de condução exitosa de uma segunda rodada de transformações que o mundo da política e dos negócios precisam. Segue o texto em que se baseiam tais considerações, publicado na edição de 7 de julho de 2014 do jornal Valor Econômico, exclusivo para assinantes.

Lula será protagonista político no 2º mandato

Por Raymundo Costa e Andrea Jubé | De Brasília

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se prepara para ser protagonista político no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, se ela vencer as eleições de 5 de outubro. A intenção de Lula é ter uma atuação "proativa" já a partir de janeiro de 2015, com o objetivo de manter unida a base política e social do governo. "Vai ser uma atuação do tamanho da liderança política dele", disse ao Valor um interlocutor do ex-presidente.

Os mais próximos de Lula descartam a hipótese de que esse ativismo seja interpretado como interferência indevida em assuntos do governo ou poder paralelo. Pelo contrário, avaliam que isso forçará Dilma a conversar e negociar mais - movimentos que ela evitou no primeiro mandato. "Ela vai ter de incorporar isso no processo político", disse a fonte.

Lula deverá liderar o debate sobre propostas que Dilma eventualmente não queira tomar a frente, como seria o caso do projeto de regulamentação dos meios de comunicação eletrônicos, que são concessões públicas, defendida por aliados como o presidente do PT, Rui Falcão, e o ex-ministro Franklin Martins.

Ele também pode ter uma posição diferente do governo sobre assuntos econômicos, como, por exemplo, a política de desonerações, para citar um caso.

Essa atuação "proativa" promete se intensificar a partir do segundo ano do eventual último mandato de Dilma, pois Lula já se coloca à disposição para voltar em 2018, "se o povo quiser um velhinho", diz a fonte.

Do ponto de vista do lulismo, a presidente Dilma é a chefe de governo e de Estado; mas a principal liderança do projeto político do PT é Luiz Inácio Lula da Silva.

No primeiro mandato de Dilma o ex-presidente procurou se manter ao largo, sobretudo nos dois primeiros anos, para não dividir a base econômica e social na qual se assenta o lulismo. Outro fator que o manteve longe dos holofotes foi o tumor na laringe.

Mas quando 1 milhão de pessoas saíram às ruas para protestar contra o governo e exigir serviços públicos "padrão Fifa", em junho do ano passado, Lula apareceu rapidamente para tentar socorrer Dilma, que viu sua popularidade despencar. Gravou um vídeo exortando a militância petista a se engajar na campanha pela reforma política sugerida pela presidente.

Depois, Lula voltou a submergir. O ex-presidente aumentou as participações em eventos públicos neste ano, a ponto de alimentar o "Volta, Lula" e ser obrigado a reiterar declarações de que a presidenciável do PT era Dilma e não ele. Lula e Dilma discutiram o assunto a sós, numa reunião em São Paulo. Lula pediu que a presidente tomasse a frente de sua campanha.

Depois disso, o ex-presidente teve uma reunião no Instituto Lula com o ex-ministro Franklin Martins e o publicitário João Santana. Dilma ficou sabendo e cobrou a ausência de seu ex-chefe de gabinete Giles Azevedo. Lula respondeu que fora encontro de ocasião. Ele aproveitara a presença de Franklin e Santana no Instituto Lula, após uma reunião, para trocar impressões sobre pesquisas.

Outro mal-estar que persiste nas relações deve ser corrigido nos próximos dias: a efetiva participação do ministro Gilberto Carvalho (Relações Institucionais) na campanha da presidente. O ministro, que é o mais próximo amigo de Lula ainda no governo Dilma, só ainda não fora incorporado porque a presidente não o liberara, como fez com Giles, que era seu chefe de gabinete na Presidência.

Confirmada a candidatura dilmista na convenção nacional do PT em junho, Lula voltou a buscar os holofotes de forma sistemática. Tem participado de atos políticos com e sem a participação de Dilma. E começou a falar mais. Deu entrevistas para blogueiros escolhidos por ele, falou para o SBT e para a imprensa internacional. Esses movimentos, entretanto, são amostra tímida do "canhão político" que se pretende afirmar na eventual continuidade do PT no poder.

Lula e Dilma chegam ao início da campanha eleitoral, que começa oficialmente no dia 6, depois de superar um período de turbulências por causa do "Volta, Lula".

O ambiente na campanha de Dilma é de profundo ressentimento com a imprensa, a quem se atribui o clima de pessimismo com a realização da Copa do Mundo. "O 'Não Vai Ter Copa' perdeu para a 'Copa das Copas'. Ganhamos de goleada", diz um dos integrantes da coordenação de campanha de Dilma.

A cúpula da campanha petista considera que venceu uma "batalha preliminar da campanha eleitoral", que foi "duríssima", segundo expressão de um de seus integrantes. Agora, com o início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão - e o PT com o maior tempo dos candidatos - avaliam que Dilma terá chance de mostrar suas realizações.

"Vai ser uma campanha entre quem tem o que mostrar e quem tem o que esconder", define este integrante da campanha.

O "Não Vai Ter Copa", segundo fontes próximas de Dilma e Lula, "foi uma derrota política da oposição". A campanha da presidente considerou "lamentável" a atitude de Aécio Neves e Eduardo Campos em relação às vaias recebidas pela presidente na abertura da Copa do Mundo.

Entende-se que eles não reagiram com firmeza às vaias recebidas pela presidente da República, que estava no Estádio do Itaquerão para abrir a Copa. Os dois teriam reagido como quem diz "ela está colhendo o que plantou".

A crítica é especialmente rigorosa em relação ao candidato do PSDB, Aécio Neves, que na visão da campanha de Dilma cedeu ao "discurso do ódio", quando poderia adotar uma postura mais leve e positiva, que o preparasse para sair da eleição de 2014 com um discurso pronto para 2018.